O presidente da Câmara de Torres Novas disse hoje que a vacinação contra a covid-19 do vereador da proteção civil vai ser analisada pela concelhia socialista, mas salientou que esta matéria é “da responsabilidade e consciência de cada um”.
Questionado pela Lusa na sequência de um comunicado do BE de Torres Novas (Santarém) denunciando a vacinação do vereador Carlos Ramos com “sobras” da vacina contra o novo coronavírus, Pedro Ferreira (PS) afirmou que não houve qualquer interferência da Câmara Municipal no processo, sendo a toma da “responsabilidade e consciência de cada um”.
Segundo Pedro Ferreira, a questão da vacinação do vereador vai ser analisada “em breve”, numa reunião da concelhia socialista, partido pelo qual foram ambos eleitos, no sentido de “perceber o que aconteceu e porque aconteceu”.
Só depois dessa reflexão, o partido e o presidente da câmara se irão pronunciar, do “ponto de vista político”, independentemente do facto de Carlos Ramos ser um vereador “interventivo e com provas dadas”, referiu.
O autarca disse apenas lamentar que não tenham sido definidas, logo de início, as regras a aplicar sempre que sobram vacinas, tendo havido, um pouco por todo o país, o aproveitamento de sobras, com casos mais e menos claros, de forma a que nenhuma fosse desperdiçada.
No comunicado, o BE considera que Carlos Ramos “não tem condições políticas para continuar no cargo de vereador do município de Torres Novas, e que deve colocar o seu lugar à disposição”, atribuindo ainda ao presidente da câmara “a gravosa responsabilidade de encobrimento” da situação.
Na terça-feira, na reunião do executivo municipal, a vereadora bloquista Helena Pinto começou por se congratular com o facto de Torres Novas não ter surgido no rol de autarcas que “passaram à frente” na vacinação, tendo mesmo declarado que a vice-presidente da Associação Nacional de Municípios Isilda Gomes (Portimão) se deveria demitir.
Posteriormente, perante a informação prestada pelo vereador durante a reunião de câmara de que haviam sido vacinados com as sobras das vacinações nos lares não só bombeiros que estavam presentes, mas também elementos da proteção civil, a vereadora solicitou informação rigorosa sobre quem foi de facto vacinado, sem nunca ter sido referida a inclusão do vereador.
Na exposição sobre o processo de vacinação em curso no concelho, dada durante a reunião, Carlos Ramos afirmou que, durante a vacinação nas estruturas residenciais para idosos, não havia critérios definidos superiormente quanto a sobras, tendo-se optado por vacinar os bombeiros que estavam presentes e, havendo ainda sobras, os elementos da protecção civil que estivessem a acompanhar as equipas, sem nunca referir que ele próprio havia sido vacinado.
Pedro Ferreira salientou hoje à Lusa que só em 30 de Janeiro surgiram as primeiras normas, reforçadas na terça-feira, agora com a obrigatoriedade de existência de uma lista de suplentes ou com a determinação de, caso algum frasco corra o risco de não ser totalmente aplicado, deixar algumas pessoas para um grupo seguinte, um “historial” que, no seu entender, deve ser tido em conta na análise do processo.
A Lusa tentou contactar o vereador Carlos Ramos, sem sucesso até ao momento.
A primeira fase de vacinação contra a covid-19, que se iniciou em 27 de Dezembro, abrangeu os profissionais de saúde directamente envolvidos na prestação de cuidados a doentes, funcionários e utentes de lares de idosos e da rede nacional de cuidados continuados integrados, assim como elementos das forças armadas, das forças de segurança, de serviços críticos e titulares de órgãos de soberania e altas entidades públicas.
Neste momento, já está a decorrer uma nova fase que prevê a vacinação dos grupos com mais de 80 anos de idade ou de mais 50 anos e com doenças associadas.
A campanha de vacinação contra a covid-19 no país foi planeada de acordo com a disponibilidade das vacinas contratadas para Portugal, que estão a ser administradas faseadamente a grupos prioritários, até que toda a população elegível esteja vacinada.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.368.493 mortos no mundo, resultantes de mais de 107,7 milhões de casos de infecção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 15.034 pessoas dos 781.223 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detectado no final de Dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.