Cumprem-se neste sábado, dia 9 de Janeiro, cento e sete anos sobre a data de nascimento de Celestino Graça, um dos mais insignes ribatejanos cuja obra, pela sua relevância e grandeza, ainda hoje é referencial em toda a região.
Nascido na aldeia do Graínho, no concelho de Santarém, Celestino Graça após concluir o curso de Regente Agrícola, com apenas dezoito anos de idade, iniciou a sua actividade relacionada com o mundo rural, que, constituía o seu grande universo. Destacou-se como um dos técnicos mais competentes da sua geração e a sua trajectória profissional ficou para sempre associada à introdução da cultura do cânhamo em Portugal, o que lhe permitiu a apresentação de diversos trabalhos técnicos e até a publicação de um livro sobre a matéria.
Após algumas intervenções na área do associativismo, nomeadamente na fundação da “Briosa” Académica de Santarém, Celestino Graça assumiu-se como o grande impulsionador da Feira do Ribatejo, no ano de 1954, certame de cariz regional ao qual devotou vinte um anos de constante empenhamento, sendo que dez anos volvidos sobre a primeira edição, o Governo promoveu a sua elevação ao estatuto de Feira Nacional de Agricultura, reconhecendo a acção relevante que este evento constituía em favor do desenvolvimento do sector agro-pecuário do nosso país, então, uma das vertentes mais significativas da economia nacional.
Na Feira do Ribatejo Celestino Graça baseou a animação cultural no folclore, pelo que estimulou os dirigentes das Casas do Povo e os presidentes das Juntas de Freguesia e dos Municípios ribatejanos no sentido de promoverem a organização de ranchos folclóricos que, posteriormente, assegurassem a representação concelhia neste certame, que de ano para ano aumentava a sua projecção a nível nacional, e uns anos mais tarde extravasou as fronteiras do país, conquistando uma expressiva representação internacional.
A afirmação da Feira do Ribatejo a nível nacional teve igualmente reflexo no folclore, pelo que também em outras regiões os ranchos folclóricos aí existentes disputavam um lugar nos festivais da Feira. Este impacto foi ainda maior a partir de 1959, ano em que Celestino Graça promoveu a primeira edição do Festival Internacional de Folclore de Santarém, no âmbito da própria Feira do Ribatejo, certame que ainda actualmente se realiza, agora com o seu prestigiado nome a completar a designação do evento que ocorre anualmente em Setembro.
Mas, Celestino Graça evidenciou-se, também, no âmbito das actividades taurinas, sobretudo, através de uma estreita colaboração com a Santa Casa de Misericórdia de Santarém, a favor de quem colocou toda a sua generosidade e altruísmo, para além do invulgar dinamismo que o caracterizava, tendo sido um dos principais obreiros da construção da praça de toiros, a que justamente foi atribuído o seu honrado nome, e tendo sido o responsável pela organização das corridas de toiros entre os anos de 1970 e 1975, com o que proporcionou a angariação de avultadas receitas destinadas a minorarem as dificuldades por que passava a Instituição para desenvolver a sua relevante acção social, nomeadamente no Hospital de Jesus Cristo e no Lar dos Rapazes.
Apostando nos jovens toureiros que despontavam, promovendo-os nas novilhadas que anualmente organizava, e não esquecendo os mais populares, Celestino Graça criou um lema para a praça de toiros de Santarém, tornando-a a “Praça das Revelações e das Consagrações”. O seu dinamismo esteve bem patente uma vez mais, através da instalação de um moderno sistema de iluminação eléctrica na Praça, com o recurso a equipamento e técnica da Philips, que era, então, considerada a melhor do mundo. Celestino Graça logrou realizar diversos espectáculos num só dia, gerando em torno da actividade tauromáquica uma euforia desusada.
Quem quiser avaliar o impacto da acção de Celestino Graça na nossa cidade e na nossa região, poderá, facilmente, debruçar-se sobre a história local, e certamente, constatará que Santarém atravessava então um período de confrangedora letargia, tanto ao nível da sua actividade económica, como, até, no plano social, cultural e urbanístico. Celestino Graça, pelo mérito da sua obra e pela valia dos seus ensinamentos, ainda hoje – quarenta e cinco anos após o seu infausto falecimento – constitui uma referência incontornável, pelo que muito nos apraz evocar a sua memória e afirmar a sua homenagem nesta efeméride.
No próximo sábado alguns Amigos que não esquecem Celestino Graça, irão depor um ramo de flores na sua campa, no Cemitério dos Capuchos, em singela homenagem, numa cerimónia especialmente limitada devido às restrições decorrentes do estado de emergência a que estamos sujeitos.
Celestino Graça – Presente!