A participação dos Vinhos do Tejo na Wine in Paris 2025, que decorreu entre os dias 10 e 12 de Fevereiro, consolidou a presença da região num dos maiores certames mundiais do sector vitivinícola, reunindo mais de 50 mil visitantes e ultrapassando, pela primeira vez, a Prowein Düsseldorf em número de presenças. Num stand conjunto, a CVR Tejo levou 11 produtores, enquanto outros 13 estiveram representados noutros espaços da feira, promovendo uma oferta diversificada e reforçando o posicionamento internacional da região.

João Silvestre, Director-Geral da Comissão Vitivinícola Regional do Tejo, destaca o impacto positivo da feira na notoriedade dos vinhos da região, não apenas pelo contacto com compradores internacionais, mas também pela crescente aceitação dos rótulos do Tejo em mercados estratégicos. “Para muitos profissionais, o Tejo ainda era uma região desconhecida. Estas feiras são essenciais para a colocação da nossa marca no radar dos principais importadores e distribuidores mundiais”, sublinha.

Os resultados traduzem-se na consolidação de negócios e no estabelecimento de novos contactos que agora aguardam seguimento por parte dos produtores. Paralelamente, a CVR Tejo prepara-se para continuar a expansão internacional com acções promocionais em mercados como o Canadá, Brasil, Reino Unido e Polónia, onde já tem uma presença significativa.

A frescura dos vinhos, a influência do Rio Tejo no terroir e a aposta na sustentabilidade são factores diferenciadores que continuam a captar a atenção do público e da crítica especializada. “Estamos a assistir a uma mudança nas tendências de consumo, com uma maior procura por vinhos brancos, espumantes e opções de menor teor alcoólico. O Tejo tem condições excepcionais para responder a estas exigências do mercado”, explica João Silvestre.

Olhando para o futuro, a região enfrenta desafios globais, como as alterações climáticas e a necessidade crescente de certificações de sustentabilidade para garantir a presença em determinados mercados. No entanto, o crescimento das exportações na última década – passando de 3,3 milhões para quase 10 milhões de litros exportados – demonstra o potencial dos Vinhos do Tejo, que continuam a afirmar-se pela qualidade e diversidade, mantendo uma trajectória ascendente no panorama internacional.

Quais foram os principais destaques da participação dos Vinhos do Tejo na Wine in Paris 2025?

A mudança da, na altura, Vinexpo, de Bordeus, para Paris, tem vindo, ano após ano, a transformar este evento, a Wine in Paris, na maior feira internacional de vinhos, este ano, pela primeira vez, teve mais visitantes que a Prowein Dusseldorf do ano passado (mais de 50 mil). É muito importante para os Vinhos do Tejo estarem presentes nesta feira pois é a maior mostra mundial do sector. Estivemos presentes num stand conjunto “Vinhos do Tejo” com 11 produtores e estiveram presentes mais 13 produtores com Vinhos do Tejo noutros stands. 

Que impacto teve o evento na promoção da região vitivinícola do Tejo?

Tratando-se de uma feira desta dimensão o impacto é sempre enorme. É muito importante para uma região vitivinícola como o Tejo estar presente de uma forma agrupada nestes eventos, é importante mostrarmos ao mundo que somos uma região unida e organizada e com uma oferta de vinhos bastante diversificada e competitiva. 

Que feedback receberam dos profissionais e compradores internacionais sobre os vinhos apresentados?

O feedback sobre os Vinhos do Tejo foi francamente positivo. A nossa região é, à semelhança de outras nacionais e internacionais, uma região com vinhos de altíssima qualidade – mas é preciso comprova-lo, daí que é imprescindível a presença nestas feiras que reúnem profissionais e compradores de todo o mundo. Para muitos profissionais o Tejo era ainda uma região pouco conhecida ou mesmo desconhecida. É com muita satisfação que sentimos a boa aceitação que os nossos vinhos têm por parte destes profissionais. Estes certames servem também para pôr a região na “cabeça” dos principais compradores internacionais.

Houve novos contactos ou oportunidades de negócio relevantes que possam vir a consolidar-se no futuro?

Nestas feiras há sempre vários tipos de contactos, todos eles importantes. Há as reuniões previamente marcadas com os clientes, há o seguimento de contactos previamente estabelecidos e há os novos contactos. Destes contactos surgem sempre oportunidades de negócio, cabe agora a cada um dos produtores presentes dar seguimento aos contactos estabelecidos com o intuito de concretizar o negócio.

Como avalia a posição dos Vinhos do Tejo no panorama internacional após este evento?

O nosso trabalho de posicionamento dos Vinhos do Tejo no panorama internacional e as acções que realizamos em prol do crescimento da notoriedade da região é um trabalho consistente, de equipa, entre a CVRT e os seus produtores e que, dificilmente se avalia em resultado de um único evento. Lá fora levamos não apenas a bandeira da Região dos Vinhos do Tejo mas também e, sobretudo a dos Vinhos de Portugal – sendo que estamos muitas vezes em acções organizadas com a ViniPortugal. Para o consumidor internacional somos uma região portuguesa, com vinhos frescos e equilibrados, onde se encontra muita diversidade nos diferentes produtores que vão connosco a estes eventos, uma região fortemente influenciada pelo Rio Tejo que a atravessa e uma região que tem vinhos para acompanhar seja qual for o momento do dia, espumantes para celebrar, vinhos brancos, tintos e até vinhos de sobremesa como as nossas colheitas tardias e os licorosos.

Além da Vinexpo Wine in Paris, que outras acções de promoção internacional estão planeadas para os Vinhos do Tejo em 2025?

Para além da presença nas duas maiores feiras internacionais que são a Wine in Paris e a Prowein Dusseldorf, esta última em Março e onde vamos estar presentes com um stand com 20 balcões, vamos ter acções de promoção em vários mercados internacionais. Na Polónia, onde temos uma equipa permanente, temos várias acções programadas ao longo do ano, cada uma delas dirigida a um público específico, provas para sommelliers, presenças em feiras para os produtores que procuram importadores, provas para o consumidor final. No Canadá vamos participar em duas provas dos Vinhos de Portugal, uma em Montreal e outra em Toronto e vamos também nestas cidades fazer masterclasses com Vinhos do Tejo. No Brasil vamos participar em Outubro na maior feira de vinhos da América Latina a Prowine São Paulo e vamos participar no evento “Vinhos de Portugal no Brasil” que se realiza em Junho nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Ainda no Brasil vamos dar continuidade ao projecto “Caravana dos Vinhos do Tejo” com masterclasses e provas em sete cidades brasileiras. No Reino Unido vamos realizar uma masterclass e prova dos vinhos do Tejo em Londres no próximo mês de Abril e temos ainda outras acções planeadas com imprensa. Para além das acções nestes mercados temos também agendadas várias visitas à região de compradores e jornalistas internacionais.

Que factores diferenciaram os Vinhos do Tejo em relação às restantes regiões vitivinícolas nacionais?

Como sabem o principal factor que influencia as características dos vinhos do Tejo é a presença do Rio Tejo que atravessa a região e define os três principais terroirs da região. Podemos assim afirmar que a diversidade de estilos é uma das características dos vinhos da região. Outra característica diferenciadora é a frescura dos vinhos que advém das condições edafo-climáticas únicas de que dispomos nomeadamente a grande amplitude térmica existente no período de maturação das uvas onde temos dias bastante quentes e noites relativamente frescas, isto permite às uvas preservarem a sua acidez natural e induzir esta frescura aos vinhos. Um famoso crítico inglês explicou isto numa frase muito simples «hot days, cold nights, cool wines».

Esta frescura associada a uma graduação alcoólica moderada resulta em vinhos equilibrados, de grande qualidade, com estilos empolgantes e diferenciados. 

Os vinhos tintos são muito equilibrados, frescos e com taninos elegantes. No nariz a fruta é uma presença garantida. Nos tintos de guarda (reservas e premiums) a madeira pode estar presente, mas de uma forma discreta.

Nos brancos o perfil traduz-se em vinhos muito aromáticos com a presença de fruta tropical, citrina também frescos e muito elegantes.

A Região produz também excelentes vinhos frisantes e leves, bem como rosés, que podem ser apreciados em momentos de convívio fora das refeições.

Não posso também deixar de falar das nossas principais castas, a Fernão Pires nos brancos e a Castelão nos tintos. O Fernão Pires, a casta mais expressiva da Região dos Vinhos do Tejo, dá origem a vinhos de aroma frutado e floral e com acidez média que lhe conferem frescura. É uma casta extremamente versátil que está presente na composição de vinhos brancos, frisantes, licorosos e colheitas tardias desta região. 

A Castelão é muito versátil – com bagos cheios, arredondados e rijos –, tendo já sido a casta tinta mais plantada nas vinhas portuguesas, incluindo no Tejo. Nos dias de hoje, está na lista das castas mais plantadas: a 5.ª no global, a 4.ª no que toca a variedades de uvas tintas. No Tejo mantém o estatuto da casta tinta mais plantada e, por conseguinte, a mais expressiva nos vinhos, com 80% dos tintos a tê-la na sua composição. 

Quais são os principais desafios que a região Tejo enfrenta actualmente e de que forma a CVR está a trabalhar para os superar?

Os desafios não são específicos da região do Tejo mas sim de todos os países tradicionalmente produtores de vinho. Há que analisar a situação a nível global. Um dos principais desafios é a diminuição, a nível europeu do consumo de vinho, principalmente tinto, e uma tendência para consumo de vinhos brancos e vinhos espumantes, mais leves e com menos álcool, os chamados NOLO (no Álcool/Low Alcool). O Tejo é talvez uma das regiões com melhores condições edafo-climáticas para produzir este tipo de vinhos e a CVR em conjunto com os produtores estão atentos a esta situação. Outro grande desafio tem a ver com as alterações climáticas e a gestão da água onde a nossa região poderá ter uma tarefa mais facilitada devido à proximidade com o rio. Por último destaco o desafio da sustentabilidade. Hoje em dia passa a ser obrigatório, para estar presente em determinados mercados internacionais, ter uma certificação de sustentabilidade e os produtores da região terão que ser muito rápidos a obter essa certificação, sob pena de ficarem excluídos logo à partida.

Quais são os mercados internacionais em que os Vinhos do Tejo têm registado maior crescimento? Há novos mercados estratégicos a serem explorados este ano?

A nível de exportações totais a região nos últimos 9 anos passou de 3,3milhões de litros exportados para quase 10 milhões, ou seja, triplicámos as exportações. O mercado que mais cresceu nos últimos anos, foi sem dúvida a Polónia. Hoje em dia somos das regiões portuguesas com mais vendas e mais notoriedade na polónia. Outros mercados com crescimentos assinaláveis nos últimos anos foram o Brasil, a Suécia e os Países Baixos. No ano passado iniciamos a realização de acções de promoção no Canadá e os resultados foram muito positivos pelo que a partir deste ano o Canadá é também considerado um mercado estratégico para os vinhos do Tejo.

Quais são as principais iniciativas de sustentabilidade que a CVR Tejo está a implementar na região?

A região Vinhos do Tejo é a que tem melhor rácio no que toca a empresas que cumprem as normas do Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Sector Vitivinícola, criado pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e promovido pela ViniPortugal. Já temos 8 produtores com o selo Sustainable Winegrowing Portugal, o que é um excelente número face a outras regiões e face aos produtores que temos. 

Os produtores estão bastante empenhados num presente sustentável, garantindo uma agricultura de futuro às gerações vindouras e estão igualmente muito atentos à viabilidade dos seus projetos a nível social, económico e ambiental. 

Quais são as actuais tendências de consumo que influenciam a produção dos Vinhos do Tejo?

Como disse anteriormente a tendência nos próximos anos será para uma diminuição do consumo de vinhos tintos e um aumento do consumo de brancos e espumantes. Haverá também uma tendência para o aumento de consumo de vinhos com menos álcool e vinho desalcoolizado. A região do Tejo tem óptimas condições para a produção deste tipo de vinhos. Os produtores irão certamente adaptar se e juntar ao seu portefólio vinhos mais leves e com menos álcool para desta forma ir ao encontro das novas tendências de consumo. 

O que se pode perspectivar, em termos de futuro, para a região vitivinícola do Tejo nos próximos anos?

Apesar dos vários desafios que o sector vitivinícola irá enfrentar nos próximos anos e que já falámos anteriormente, penso que a região terá com certeza capacidade para os superar e continuar a crescer no mercado interno e principalmente na exportação. Não estamos só a falar num crescimento em volume de vinho certificado, mas também num crescimento em valor, ou seja, numa maior valorização do produto. Uma das áreas em que estamos a apostar e a desenvolver é o Enoturismo que será uma ferramenta essencial para aumentar a notoriedade da região, A Rota dos Vinhos do Tejo está a desenvolver várias acções de promoção da região em Portugal e alem fronteiras.

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Foto: Rita Valério

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