Atravessamos momentos difíceis, inimagináveis há bem pouco tempo. Afastados uns dos outros, limitados nos afetos e nos contactos sociais, na simples liberdade de movimentos. Aprendemos palavras novas, como pandemia ou confinamento.
Morreram em Portugal, de Covid 19, quase 17 mil pessoas, num total de quase um milhão de infetados, cerca de 10% da população portuguesa. Se visto a nível mundial o cenário é ainda mais assustador: quase 3 milhões de mortos, num total de 129 milhões de casos positivos.
Precisamos de vacinas. Vacinas que nos protejam, não só da doença em si, mas também das suas consequências económicas, sociais e psicológicas.
Pensamos na pequena vacina injetável, conseguida devido a um esforço único da ciência e da sociedade, num prazo record. Precisamos que esta centelha de esperança seja um bem público de acesso livre, para que possa ser produzida livremente, não só na Europa, mas na Índia ou na África do Sul.
Só a suspensão dos direitos de propriedade industrial, vulgarmente conhecidos por patentes, permitirá aumentar a sua produção e distribuição. Portugal, os 27 da UE e principalmente os países mais pobres, não podem permanecer reféns das grandes empresas farmacêuticas, alimentadas com o dinheiro dos cidadãos europeus, mas que continuam a pensar acima de tudo nos seus lucros obscenos. Só este passo corajoso garantirá a vacinação de toda a população mundial e, assim, o retomar da liberdade, atividade social e económica.
Só podemos superar crises como esta pandemia com soluções coletivas, públicas e democráticas. Serviços públicos fortes, especialmente sistemas universais de saúde pública, são vacinas vitais. Devem ser defendidos e fortalecidos, agora e a longo prazo.
Esta doença ensinou a milhões de europeus aquilo que tínhamos esperança de nunca mais ter de voltar a viver na Europa: o medo. Por isso uma das preocupações essenciais do Bloco de Esquerda no momento que vivemos é a de proteger e até reforçar a democracia e o estado de direito. A democracia, as suas instituições; direitos, liberdades e garantias, não podem ser mais uma baixa em tempo de Covid 19.
Sem uma imprensa livre e seriamente comprometida com os valores da Democracia e da Liberdade, não haverá cura para os males que nos afetam. Esta é uma das melhores vacinas, para esta e outras pandemias que ameaçam ganhar espaço a nível regional, mas também nacional e mesmo mundial: a pandemia do populismo, da desinformação organizada, do retrocesso civilizacional.
Deixo um grande obrigada a quem não desiste do rigor, da independência, da ética e do sonho!!
Venham mais 130 anos!!
Fabíola Cardoso – Deputada do BE eleita por Santarém