“Este festival tem um significado mais alto do que um festival de gastronomia. Aproveitando a proximidade a que nos encontramos de Lisboa, este certame significa antes de tudo, um passo para minimizar o isolamento a que a província está submetida.”
Estas palavras, foram proferidas por Manuel Alves Castela e publicadas no Jornal Primeiro de Janeiro em 22 de outubro de 1981, dois dias antes do inicio da primeira edição do Festival. Apesar de tudo, surpreende-nos a atualidade com que chegam aos nossos dias e se olharmos para as grandes questões que marcam a atualidade do distrito de Santarém, ainda mais nos sobra na boca um amargo sabor, por tudo o que não soubemos fazer, por tudo o que deixamos para o dia seguinte, por tudo o que a falta de engenho e arte nos impediu de concretizar.
O retrato não é nada bonito e ninguém fica bem na fotografia. Hoje somos uma “não região”. Nem pertencemos a Lisboa e Vale do Tejo, nem ao Alentejo, ou ao dito Centro. Os grandes e importantes investimentos para a região ficam sempre adiados. O desvio da linha do Norte está atrasado meio século e a Ribeira de Santarém estrangula e agonia, bem como a relação com o Rio, enquanto alguns de nós vão morrendo nas passagens de nível sem guarda. Os nossos agentes culturais profissionais e amadores, são tratados pelas instâncias de estado português como entidades de segunda, sem sequer um interlocutor regional que os ouça e apoie. As ligações viárias estão interrompidas nas ligações dos seus nós e os Chamusquenses que com o maior sentido de estado se prontificaram a resolver um problema nacional no acolhimento e tratamento de resíduos sólidos, agonizam com olerosos camiões de lixo a atravessar os seus núcleos urbanos.
E o festival de gastronomia, foi de facto uma pedrada no charco em que se encontrava o nosso território. Desde logo porque sempre se procurou afirmar numa escala de representatividade regional e neste sentido ser de Santarém, era ser do distrito de Santarém e, portanto, do Ribatejo. Depois porque a repercussão que teve na comunicação social da época, foi de tal ordem que ainda hoje custa a acreditar, mesmo tendo em atenção as diferenças existentes nos meios de comunicação de uma e outra época.
Ao nível dos órgãos de comunicação de caracter nacional, recolhi quarenta e quatro documentos, correspondentes a outras tantas publicações de todos os quadrantes de opinião.
Textos publicados pelo Capital, Correio da manhã, Diário, Diário de Lisboa, Diário de Notícias, Diário popular, Jornal de Noticias, O Diário, O Jornal, Portugal Hoje, Primeiro de Janeiro, Sete e a Tarde.
O Jornal de Notícias, já então o de maior tiragem em Portugal, foi o que mais publicou sobre o Festival de Santarém, com sete textos, quase um em cada dia do certame. A esta realidade, não foi estranha a influência do Eduardo Leonardo que, à medida que o festival ia acontecendo, se foi apaixonando cada vez mais pelo projeto e como reflexo disso conquistando espaço para as suas crónicas no matutino do Porto.
Ao nível da nossa região, foi sobretudo o correio do Ribatejo que ponderou, com diversos textos, publicados em vários números do jornal, mas também o Jornal e o Noticias de Abrantes, O Povo do cartaxo, o Ribatejo Ilustrado, o Sorraia e a Vida Ribatejana, deram eco ao novel acontecimento. A Vida Ribatejana, sob a direção do jornalista Júlio Rodrigues, haveria de se manter durante largos anos, bem atenta ao festival e ao que por cá acontecia.
Depois, também os órgãos de comunicação de cada região presente refletiram a presença dos seus representantes, pelo que o certame acabou espelhado nas páginas do Aurora do Lima (Viana do Castelo), Badaladas (Torres Vedras), Barca Nova (Figueira da Foz), Cardeal Saraiva (Ponte de Lima), Comércio de Gondomar, Comércio do Porto, O Dever, Diário de Coimbra, A Defesa, Diário do Sul e Noticias (Évora), Mar Alto (Figueira da Foz), Noticias de Beja, Noticias de Caminha, Noticias de Vouzela, Noticias de Viana.
Quanto à imprensa especializada, destaque para o Jornal de Turismo.
A meio do Festival, apareceu o radialista António Coelho e com ele assistimos a várias emissões radiofónicas em direto para a então Rádio Comercial.
Numa nota de curiosidade, fica o registo de que naquele primeiro ano, a imprensa não fez critica gastronómica, mas apenas noticiou o certame e a sua programação. Tal salto qualitativo, só viria a acontecer no segundo ano, com a chegada de especialistas, como Melo Lapa (Diário de Noticias) e Joaquim carneiro Gomes da Rádio Renascença. E depois todos fomos aprendendo. Mas isso, são contas para os próximos rosários.
Até para a semana.