A Associação de Municípios Portugueses do Vinho (AMPV), constituída formalmente em 2007, no Cartaxo, comemorou recentemente o seu 15º aniversário. A esse propósito, o Correio do Ribatejo entrevistou José Arruda, secretário-geral de uma associação que tem trabalhado, juntamente com autarquias, produtores e operadores de turismo, na afirmação do vinho e dos territórios e na afirmação da própria associação, que hoje representa mais de três milhões de portugueses, abarcando cerca de um terço do território nacional.
“Nestes 15 anos ganhámos dimensão: hoje somos a força de mais de uma centena de municípios. Consolidámos muitos projectos e encontrámos nos municípios associados a tenacidade para criar muito mais. A Associação das Rotas dos Vinhos de Portugal nasceu entre nós. Incentivámos a criação de uma rede de trabalho entre os espaços museológicos ligados ao vinho.
Todos os dias trabalhamos para uma maior valorização do património rural e vinhateiro do nosso país”, afirma. “Estes 15 anos têm sido de intensa actividade, na procura de uma rede de trabalho cada vez maior e alargada a mais municípios, na procura de mais parcerias e entidades parceiras e na procura de projectos cada vez mais ambiciosos e inovadores, em áreas muito diferentes”, assume José Arruda.
O que está na génese da Associação de Municípios Portugueses do Vinho (AMPV)? Como surgiu a ideia de criar uma associação com este cariz?
A AMPV nasceu em 2007, no Cartaxo, numa terra que se apresenta como Capital do Vinho, e surge porque se sentia a necessidade de criar uma rede de municípios que, em conjunto, pudesse defender, promover e potenciar toda a área dos vinhos. Já na altura tínhamos a noção de que este sector, o dos vinhos e também o enoturismo, era estratégico para os territórios e que estes mesmos territórios tinham, e continuam a ter, potencialidades enormes. Têm uma identidade rural muito própria, uma cultura muito enraizada ligada ao vinho e uma actividade económica com grandes capacidades de crescimento e desenvolvimento. O que fizemos, e continuamos a fazer, é agregar e unir estes territórios e promover o vinho, o enoturismo, a gastronomia de forma conjunta, dando mais voz e visibilidade a todas estas áreas que hoje são das mais importantes atracções turísticas do nosso país.
Quantos municípios fazem, nesta altura, parte da AMPV e qual é a missão desta associação?
Neste momento temos 106 municípios associados. A missão da AMPV continua a ser a mesma que esteve na sua génese: valorizar e promover todo o potencial endógeno dos territórios cuja economia, cultura e identidade histórica estão fortemente associadas ao vinho. Ficamos muito satisfeitos em ver que há um interesse cada vez maior por parte dos municípios em integrar a associação. Só neste primeiro meio ano já tivemos mais 14 municípios associados. Isso é muito positivo para nós e significa que o trabalho que temos vindo a desenvolver tem chegado cada vez mais longe. Ver que os municípios se identificam com a AMPV e que encontram aqui uma rede de trabalho e projectos que, desenvolvidos em conjunto, contribuem para afirmar os seus próprios territórios, é muito gratificante para nós
De uma forma geral, que actividades assinalaram estes 15 anos de existência?
Tivemos dois grandes momentos de comemoração, um em Pinhel e outro na FNA. No dia 30 de Abril a associação assinalou os 15 anos de actividade em Pinhel – Cidade do Vinho 2020/22, onde organizámos um dia de convívio com a presença de presidentes, eleitos e técnicos dos municípios associados. Este ano voltámos a estar na Feira Nacional da Agricultura com a nossa Casa dos Territórios Vinhateiros de portas abertas, reforçámos a dinamização deste espaço e o resultado esteve à vista, porque tivemos um grande número de visitantes. Um dos pontos altos da feira foi precisamente a comemoração do 15º aniversário, no dia 11, com a entrega dos prémios do 2º Concurso das Cidades do Vinho, a entrega dos Prémios Prestígio AMPV e entrega de placas aos 14 novos municípios associados da AMPV.
Que balanço faz destes 15 anos? Que efeitos multiplicadores a AMPV conseguiu e que sinergias criou?
Estes 15 anos têm sido de intensa actividade, na procura de uma rede de trabalho cada vez maior e alargada a mais municípios, na procura de mais parcerias e entidades parceiras e na procura de projectos cada vez mais ambiciosos e inovadores, em áreas muito diferentes. A associação é reconhecidamente, pela sua dimensão e dinâmica, uma voz activa, cá dentro e lá fora, na defesa e promoção dos territórios vitivinícolas. O enoturismo, o mundo rural e a gastronomia têm sido áreas nas quais mais temos apostado nos últimos anos, em estreita parceria com a Associação das Rotas dos Vinhos de Portugal.
Temos diversificado muito as nossas áreas de trabalho: além do vinho, temos o enoturismo, a gastronomia, os azeites, os museus, o mundo rural, etc. A base de todo o nosso trabalho é valorizar o território, aquilo que é único em cada região, em cada município. Esse é o grande desafio: valorizar e promover a diversidade dos nossos vinhos, a riqueza de cultura e tradições, a excelente gastronomia, os azeites únicos, um espaço rural cheio de potencialidades
Como têm sido recebidos os vinhos portugueses nos fóruns internacionais em que a associação participa?
Têm sido recebidos de uma forma extraordinária. Os nossos vinhos têm uma qualidade excepcional e crescente. Constatamos isso nos concursos nacionais, como foi o caso este ano do Concurso Cidades do Vinho, em que tivemos apenas Medalhas de Grande Ouro e Ouro, mas também nos internacionais. E aqui destaco o Concurso Internacional Città del Vino, de Itália. Neste concurso, Portugal tem sido sempre o segundo país com mais prémios, a seguir ao país anfitrião, Itália.
O facto de haver tantos municípios que fazem parte da associação significa que há cada vez um empenho maior, tendo como base as tradições, a actividade e a vertente económica associadas ao vinho?
Sim, sem dúvida. Nós tentamos estabelecer um contacto muito próximo com os nossos municípios associados e isso depois revela-se no sucesso dos projetos que temos desenvolvido. Destaco, por exemplo, o Concurso Cidades do Vinho, que é um concurso único em Portugal que promove os vinhos associados ao seu território, com municípios a juntarem-se aos vitivinicultores para, em conjunto, actuarem como promotores dos vinhos dos seus territórios; a Cidade do Vinho, cujo título pertence actualmente a Pinhel; a Eleição Nacional da Rainha das Vindimas de Portugal, o Dia Mundial do Enoturismo, a Rede de Museus do Vinho ou a recém-criada Rede das Aldeias e Freguesias Vinhateiras de Portugal.
Que impacto se perspectiva no sector devido ao actual conflito na Ucrânia?
Tal como muitas outras áreas, também o sector do vinho poderá ser afectado por esta guerra. As preocupações são grandes sobretudo porque a Rússia é um importante mercado para Portugal. Creio que o nosso país é o quinto país a exportar para a Rússia, portanto, este facto tem um enorme peso na nossa economia. Depois temos também a subida generalizada dos preços, que poderá também causar algum impacto.
As exportações poderão sair prejudicadas?
Sim, considerando as sanções à Rússia. Mas aqui também nos preocupa a dificuldade que muitas empresas podem vir a enfrentar devido à subida global dos preços. Por exemplo o caso dos fertilizantes, imprescindíveis à viticultura.
Está confiante que se trata de um momento ultrapassável?
Eu acredito que sim. Os nossos produtores e empresários já deram muitas provas da sua resiliência. No passado já tivemos outros momentos muito difíceis e que conseguimos ultrapassar. E aqui também espero do Governo a atenção merecida para este sector, tão importante para a economia do nosso país.
Que mensagem gostaria de deixar nestes 15 anos da AMPV?
Dizer que a AMPV tem feito um caminho muito positivo e isso deve-se em
muito boa parte ao empenho e envolvimento dos nossos municípios associados.
Esta grande dinamização e promoção do vinho e do enoturismo, bem como do mundo rural, tem sido feita pelos autarcas locais. Temos vindo a apostar muito na promoção e valorização de outras áreas estratégicas que gravitam ao redor do vinho, como a gastronomia e o enoturismo, com projectos de grande visibilidade a nível nacional, de que são exemplo o livro Territórios Vinhateiros, Olivícolas e Corticeiros de Portugal e o portal enoturismo.pt, mas temos também a área da gastronomia ou dos azeites, com secções próprias de trabalho, dentro da AMPV.
Todos estes projectos enriquecem muito a associação e acreditamos que contribuem também para enriquecer mais os nossos territórios.