José Guilherme Costa São Marcos é actualmente o comandante dos Bombeiros Municipais de Santarém. Com uma experiência de mais de 35 anos em Protecção Civil, o responsável garante que o concelho está preparado para enfrentar os desafios que se avizinham mas alerta que cada um deve ser um agente da Protecção Civil: “se cada pessoa desempenhar o seu papel como parte integrante deste sistema, então a maior parte dos problemas certamente serão resolvidos na sua raiz”, declara nesta entrevista ao Correio do Ribatejo.
Licenciado em engenharia de protecção civil e com formação complementar em várias áreas ligadas ao sector, José Guilherme tem uma vasta experiência, incluindo missões internacionais em Moçambique. Foi também formador externo Escola Nacional de Bombeiros, segundo Comandante Operacional Distrital de Santarém da Autoridade Nacional de Protecção Civil e tem vários louvores e condecorações no desempenho das funções.

A Covid19, tem criado uma preocupação crescente a nível global. No âmbito da Protecção Civil Concelhia o que está a ser equacionado?
Esta pandemia veio trazer à tona as carências de todos os países, a nível mundial, uns com mais expressão que outros, devido ao histórico de ocorrências de diversas topologias, obrigando a que cada um se adaptasse criando, na sociedade, a sua própria resiliência.
Portugal, é um país que, tirando os incêndios rurais, conta com um histórico de catástrofes e calamidades muito reduzido e isso levou a que, seja o poder central, seja o poder local, desenvolvesse os seus investimentos, nesta vertente de Protecção Civil, conforme a sensibilidade de cada um.
No concelho de Santarém, o executivo tem feito um esforço de excelência de forma a dotar, quer o Serviço Municipal de Protecção Civil (SMPC), quer os Corpos de Bombeiros do concelho, (sendo um tutelado pelo município), de recursos, equipamentos e materiais de diversas tipologias.
Nesta vertente de resposta ao COVID-19, o município assumiu, desde o início, através do seu Plano de Contingência e também com a activação do Plano Municipal de Emergência e Protecção Civil (PMEPC), o papel de timoneiro deste barco e deu luz verde ao SMPC para articular com as diversas entidades, as necessidades de resposta.

Como está a ser feita a coordenação ao nível das diferentes freguesias e corpos de bombeiros?
Com a activação do PMEPC, e em conformidade com a Lei de Bases da Protecção Civil, automaticamente são criados três patamares: a Estrutura de Direcção Política, a Estrutura de Coordenação Politica/Institucional com a interacção de todas as entidades que compõem a Comissão Municipal de Protecção Civil (CMPC) e a Estrutura de Comando.
A coordenação, ao nível das freguesias é garantida através da estrutura política e a coordenação com os Corpos de Bombeiros do concelho é feita através da estrutura de comando. Esta coordenação é realizada com briefings diários, através de videoconferência, sendo que, sempre em caso de necessidade, o contacto é feito no imediato.

O Dispositivo Concelhio tem capacidade operacional para responder e assegurar todo o volume de trabalho que se adivinha?
Até ao momento, os Corpo de Bombeiros do concelho, e com a devida articulação, têm conseguido responder a todas as solicitações, sendo que, e não podemos descurar que os meios são finitos e caso aconteça um acréscimo exponencial de serviços, terá que ser pedido apoio a outros corpos de Bombeiros através dos canais oficiais.

Quais serão os principais desafios que os corpos de bombeiros do concelho, em termos globais, vão enfrentar nos próximos tempos?
Serão vários e de vária ordem. Desde o número de ocorrências, a incapacidade dos fornecedores em entregar em tempo útil Equipamentos de Protecção Individual (EPI) e material de higienização, o desgaste rápido de fardamento diário, e, no limite, a falta de pessoal por motivo de possíveis casos de quarentena ou até mesmo de casos por COVID-19, sendo que esta última, e no limite, poderá encerrar os quartéis por falta de efectivos.

E em termos de equipamentos e recursos humanos? Actualmente, são suficientes, existem carências?
Neste momento, ainda não há falta de EPI, mas sempre com a ressalva do que foi digo anteriormente, ou seja, o aumento exponencial dos serviços e a incapacidade dos fornecedores poderá ser uma condicionante no futuro.

Em termos de Protecção Civil como é que classifica o trabalho que tem sido realizado a nível Municipal?
De excelência e com a envolvência de todos os serviços do município, mas sempre com muita humildade, quer na aprendizagem, quer na relação com as diversas instituições e com o cidadão.

Quais são os principais riscos associados ao concelho?
Os principais riscos, neste momento, e perante a situação em questão, têm a ver única e simplesmente com o comportamento do cidadão e o cumprimento ou não das regras emanadas do “Estado de Emergência”.
É crítico que este comportamento se altere na sua plenitude, porque só assim se irá conseguir resolver este problema “que é de todos sem excepção” no menor curto de tempo possível e que vai deixar, para além de lições aprendidas, sequelas e danos colaterais em diversas vertentes.

Considera importante trabalhar e intensificar uma maior cultura de Proteção Civil no concelho?
Fazer uma pergunta dessas a que tem 35 anos de carreira nesta área e é formado em Protecção Civil, é de todo uma pergunta que carece de algum pensamento, respirar fundo, para não ferir ninguém.
A cultura de protecção civil deveria ser “obrigatória” no ensino, situação que já acontece em muitos países. No nosso país, quando se fala de protecção civil, e por falta de conhecimento da matéria, associa-se logo aos Bombeiros e, por isso, o assunto está resolvido, sendo que, a mentalidade da sociedade é “Há problema? Chama-se os Bombeiros”! Este é o caminho errado: protecção civil é toda uma abrangência de acções que começa “obrigatoriamente” em cada um de nós, ou seja, se cada um desempenhar o seu papel como parte integrante deste sistema, então a maior parte dos problemas certamente serão resolvidos na sua raiz.

Que mensagem gostaria de deixar à população nesta altura?
A principal mensagem é o Slogan do Corpo de Bombeiros: Ajude-nos a Ajudar, a Si, aos Seus, aos Nossos… “Fique Em Casa” e ajude-nos a Nós.
Este é um tempo de partilha, de amizade, de entreajuda, de cumprir regras, mas, acima de tudo, de Esperança. Se existe presente é porque existiu um passado e, por isso, cabe-nos a nós, hoje, respeitar o legado que nos foi deixado pelos nossos antepassados. Cabe-nos a nós construir um futuro melhor e instruir os nossos filhos para que eles continuem a escrever a história do nosso país com letras em “OURO”. Que este acontecimento nos sirva de lição, quer nas nossas decisões e escolhas diárias, quer nas nossas decisões e escolhas futuras.
Por último, gostaria de deixar uma mensagem de Agradecimento Profundo às famílias de todos os profissionais das diferentes áreas e que, nesta altura de grande exigência, não podem parar. As famílias constituem-se como uma “Âncora” e são o garante do cumprimento todos os dias da nossa missão em prol da defesa de pessoas e bens e por isso, um Muito Obrigado.

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