O Centro Cultural e Regional de Santarém (CCRS) vai acolher este sábado, dia 4 de Outubro, pelas 16h00, a exposição fotográfica colectiva “m u n d E v i d ê n c i a s”, no âmbito do 7.º aniversário do Núcleo de Fotografia daquela instituição.
Carlos Soares, um dos artistas envolvidos no projecto, explicou ao Correio do Ribatejo as nuances da mostra e reflectiu sobre a sua relação com esta arte.
Como surgiu a ideia da presente exposição fotográfica e qual o significado do seu título “m u n d E v i d ê n c i a s”?
Foi um convite e um processo de ensino-aprendizagem. No final do ano passado o Vítor Lopes, do Núcleo de Fotografia do CCRS, desafiou-me a coordenar uma formação em “projecto fotográfico” tendo em vista a exposição anual do núcleo, esta mesmo. Assim se fez e assim se levou a cabo durante estes quase nove meses de partilhas e caminhos feitos. Começámos por ser um grupo um pouco maior de pessoas, mas as circunstâncias da vida foram fazendo com que o grupo se fosse reduzindo e, quase no final, ainda acolhemos o André, o mais novo de todos nós.
Aos primeiros sábados do mês (desde Fevereiro) reunimos no Fórum Actor Mário Viegas para avançarmos conhecimento e ideias a explorar. E, no final, o que estava a surgir eram projectos com ligações directas às estórias de vida e mundividências de cada pessoa participante no processo, por isso, e porque cada imagem fotográfica é sempre uma particular ‘evidência’ bidimensional, inventámos uma nova palavra para a língua portuguesa!
A exposição é constituída por oito projectos de artistas diferentes. Que desafios houve durante o seu desenvolvimento? Foi fácil organizar esta exposição colectiva?
Se fosse fácil não tinha dado gozo e as relações interpessoais não se tinham aprofundado bem mais, como veio a acontecer. E, no final, isso é um resultado que conta bastante e que ajuda a ultrapassar as dificuldades. Sinto-me bem mais próximo do Vítor e do Joaquim que era quem conhecia melhor; reforcei laços com a Fátima e o João, de quem também já havia visto trabalhos fotográficos; e amei escutar a Clara, o Luís e o André, sempre muito participativos e decididos, embora carregando as suas inquietações e dúvidas. E tudo isto é significativo na construção de projectos fotográficos de cariz autoral.
Que processo criativo utilizou para conseguir dialogar e inspirar-se em livros como Mário Viegas auto-photo biografia (não autorizada)?
O processo criativo de estar de olhos abertos ao mundo/mundos das imagens fotográficas e não só. E ainda o estar atento aos sinais e seres que coabitam estes lugares de criação, procurando ligar fios e linhas de coerência e inspiração.
O que espera que o público leve consigo após visitar a exposição?
O público é diverso e com certeza cada pessoa que visite a exposição levará – assim se espera – alguma inquietação, emoção, certeza ou incerteza. Em boa verdade, cada olhar é um confronto único. Cada uma das imagens ou obras que se dão a ver despertarão sentidos mais ou menos acordados e/ou adormecidos!
Que levem interrogações, desejos de serem melhores pessoas e com o campo da criatividade pessoal mais expandido.
O que o levou a despertar o interesse pela fotografia?
O interesse pela fotografia começou por ser profissional também porque me permitia alguma prática e exploração criativa nesse fazer. Era a realidade que me interessava mais. O ser repórter dum determinado tempo-espaço; a que se seguiu o fotojornalismo que também pratiquei; e finalmente um documentalismo mais ou menos empenhado socialmente. Alguns reconhecimentos do meu trabalho foram surgindo e hoje dedico-me à partilha de conhecimentos, olhares e aos trabalhos colaborativos. E (sempre) com a visão da fotografia como uma forma de expressão pessoal.
Que experiências e aprendizagens tem retirado do Núcleo de Fotografia do CCRS?
Apesar desta exposição marcar sete anos de vida do núcleo, só nos últimos dois anos tenho estado mais em contacto e colaboração próxima com as pessoas do núcleo. O que tenho sentido é que continua a ser um espaço de possibilidades onde se pode experimentar solidariedade, apoio, conhecimentos, colaboração e oportunidades para se evoluir no que a diversas práticas de fazer fotografia diz respeito.
O que procura adquirir e transmitir com esta arte?
A fotografia é uma linguagem que permite um maior e melhor conhecimento do mundo. A câmara fotográfica é um meio que medeia a minha relação com o real. Assim, há conhecimento, saberes e emoções que se recebem e transmitem permanentemente.
Se pudesse escolher uma fotografia para ilustrar a sua vida, qual seria?
Não posso. Há inúmeras. Uma fotografia não é uma ilustração; é um “isto foi”, uma evidência-concreta-e-definida! E a vida é um acto contínuo em movimento!