A Escola Superior de Saúde de Santarém (ESSS) assinalou, no dia 16 de Maio, o seu 48.º aniversário ao serviço da comunidade e do ensino superior na formação de enfermeiros e profissionais especializados. A esse propósito, o Correio do Ribatejo entrevistou a actual directora da Escola, Hélia Dias, que nos fez o enquadramento da estratégia da instituição, que faz com que a ESSS seja uma das escolas de ensino de enfermagem com melhor empregabilidade a nível nacional. “Fazer a diferença pela qualidade”, tem sido o lema do ensino ministrado na ESSS, a única no País a disponibilizar um ‘Master Mundus’, uma formação “altamente especializada” em Enfermagem de Emergência e Cuidados Críticos.

A Escola Superior de Saúde de Santarém é a escolas de ensino de enfermagem com melhor empregabilidade a nível nacional. O que distingue esta Escola das suas congéneres?
O ensino de enfermagem tem muita história em Portugal. A Escola Superior de Saúde de Santarém, que teve a sua criação em 1973 no âmbito da criação de muitas escolas de enfermagem, conseguiu construir um percurso que se caracteriza por um sentido de agregação e criar uma identidade, fazendo, simultaneamente a ligação à comunidade em que está inserida.
Tem sido essa marca distintiva, de grande proximidade institucional com os seus parceiros, que nos têm permitido criar esta distinção. O ensino de enfermagem tem obrigatoriedade de ter uma prática clínica associada e é essa ligação às unidades de prestação de cuidados de saúde que nós, ao longo destes 48 anos, temos fomentado.
Por outro lado, destaco a grande evolução do ponto de vista da qualificação dos professores e a área da investigação que tem vindo, sobretudo nos últimos anos, a ter um grande incremento. A área dos protocolos internacionais coloca-nos, igualmente, numa posição internacional de grande relevo com muita procura dos nossos estudantes.

É única Escola de Enfermagem que possui um Master Mundus. Que avaliação faz desta formação?
Trata-se de uma formação claramente distintiva no panorama da enfermagem em Portugal: é o único curso de formação Master Mundus na área da enfermagem em cuidados críticos. Somos a única Escola de Enfermagem, pública ou privada, integrada em Politécnico ou Universidade, que possui uma formação do género (em parceria com a Universidade do Algarve) na área da enfermagem. Trata-se de um projecto que se tem revelado essencial para a Escola, em termos de desenvolvimento e de interligação com Universidades de cinco continentes. Trata-se de um consorcio, e já vamos no segundo ciclo deste projecto. Neste momento, integram esta formação a Universidade de Oviedo (Espanha) e a Universidade de Napier (Escócia) e, em Portugal, o IPSantarém e a Universidade do Algarve, por via das suas escolas superiores de Saúde.
É de relevar não apenas a diversidade de estudantes, originários dos cinco continentes, nestas oito edições, mas também a diversidade do corpo docente de diferentes países, o que dá uma riqueza e uma diferença extraordinários relativamente a outros programas formativos.
Este Curso de Mestrado tem como principal objectivo proporcionar um programa de formação estruturado que prepare enfermeiros para agir em equipa, perante problemas graves de saúde e situações complexas em ambientes extremos, razões pelas quais devem ser dotados de conhecimentos específicos, habilidades e competências para prestar cuidados de enfermagem a doentes em estado crítico ou instável e às suas famílias.
A estrutura do EMJMD NURSING contempla 90 ECTS (18 meses) proporcionando aos estudantes que o concluam um grau internacional conjunto e um diploma reconhecido pelas quatro instituições.

Que outros programas está a escola a desenvolver?
Neste momento, a escola tem um grande projecto que procura concretizar – não sabemos se a curto, se a médio ou longo prazo – mas que passa por poder criar uma licenciatura que não seja em enfermagem apenas.
Desenvolvemos, internamente, um estudo sobre as necessidades formativas, coordenado pela subdirectora da escola, Alcinda Reis, que aponta um conjunto de áreas formativas que se tornam emergentes no nosso panorama, procurando responder, igualmente, àquilo que são hoje as exigências na criação dos cursos.
Surgiu, neste estudo, o reforço da área da podologia e apareceram outras áreas: estamos ainda na fase de análise dos resultados para ver o caminho.
É também muito emergente a área da gerontologia, muito alinhada com o envelhecimento populacional, e contextualizada nas nossas necessidades em termos de implantação geográfica.

Qual é, neste momento, a oferta formativa da ESSS?
A Escola, neste momento, tem uma oferta formativa ampla ao nível dos Cursos Técnicos Superiores Profissionais (TeSP). Possuímos três TeSP nas áreas do Apoio Domiciliário, Protecção e Apoio à pessoa Idosa e Secretariado em Saúde. Áreas que, mais uma vez, foram criadas em estreita ligação com as instituições parceiras, que connosco trabalham.
Estes TESP procuram criar uma ligação à oferta formativa do grau de licenciado, quer alinhado com a nossa oferta formativa quer também com a oferta formativa da Escola Superior de Educação.
Importa referir que os Cursos Técnicos Superiores Profissionais são ciclos de estudos de natureza profissionalizante, cujo objectivo é a formação de quadros altamente qualificados e com o perfil desejado pelas entidades empregadoras. Conferem um Diploma de Técnico Superior Profissional e uma qualificação de nível 5 do Quadro Nacional de Qualificações (QNQ). Os titulares de um TeSP podem concorrer a um ciclo de estudos de licenciatura pela via dos Concursos Especiais de Acesso ao Ensino Superior.
Com o objectivo de integrar os alunos nos diversos tipos de organizações relacionadas com o curso TeSP que frequentam, o IPSantarém tem estabelecidas parcerias com várias entidades empregadoras.
Ao nível de oferta formativa de mestrados, ou segundo ciclo, temos acreditados um em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica e um outro em Enfermagem Comunitária e Saúde Pública.
Este ainda em fase final de registo e consequente publicação em diário da república. Queria relevar também que esta área de enfermagem comunitária e de saúde publica é uma área extremamente importante no momento actual em que estamos a viver.
Temos, igualmente, uma pós-graduação em enfermagem e senologia, que não está ainda em funcionamento, mas que foi criada em parceria com o Hospital Distrital de Santarém, o que também mostra bem a nossa ligação à comunidade.
Todos estes factores, creio, fazem com que a procura por esta Escola tenha vindo a aumentar, à qual se reconhece a qualidade do ensino, investigação e desenvolvimento, a internacionalização e integração em redes de cooperação.

De que forma a Escola se adaptou a estes tempos de pandemia?
A actual situação pandémica determinou alterações no funcionamento das instituições de ensino superior. A Escola adaptou-se de forma rápida e eficaz garantindo a toda a comunidade a continuidade das actividades, particularmente do ensino, em segurança. Aquando da interrupção das actividades lectivas, em Março de 2020, tivemos alterações ao modo de funcionamento da escola. Nomeadamente na área dos estágios. Durante um longo período, não foi possível ter os estudantes em estágio em contexto clínico. Mas as instituições percebem a situação, e fomos conseguindo, gradualmente, retomar os estágios com os ajustes necessários, e encontrando nos contextos clínicos uma muito boa resposta áquilo que são as nossas necessidades. A escola, na sua dimensão de orientação pedagógica e de supervisão dos alunos, e os professores responsáveis por essas áreas, demonstraram uma grande capacidade de resiliência face a estas condições, assim como os estudantes. Conseguimos terminar o ano lectivo de 2019/2020 no final do mês de Outubro. Os nossos finalistas conseguiram terminar o ano lectivo no dia 7 de Agosto de 2020: fomos das únicas escolas do país que conseguiu terminar num tempo com alguma razoabilidade.
O ano de 2021 já foi muito pensado atendendo às questões pandémicas: não tivemos suspensão dos ensinos clínicos, apenas na área cirúrgica, mas estamos agora a retomar e temos os calendários já reajustados.
Em termos de escola, destaco todo o trabalho que foi feito. Como Escola de Saúde, tivemos a possibilidade de ser responsáveis e de ter um papel activo ao nível do Instituto na criação dos planos de contingência, na colaboração, formação dos assistentes operacionais relativamente às condições de higienização e desinfecção dos espaços. Tivemos, também, uma capacidade de adaptação de todos os nossos espaços, quer em número de pessoas quer nas condições: houve aqui um trabalho profundo. É uma nova forma de estar, de ter ensino à distância e ensino numa modalidade mista. Mas é também uma forma em que, quer professores quer estudantes, se estão a readaptar às condições que não sabemos até quando se vão manter.

Quais os principais desafios para o futuro da Escola?
O principal desafio é, precisamente, a diversificação de oferta formativa, o romper com esta monodisciplinaridade, com esta área apenas da licenciatura em enfermagem e conseguir ter uma licenciatura noutra área. Outro desafio é a nível dos cursos de mestrado, o podermos criar, na área médico-cirúrgica, uma oferta formativa a esse nível.
Depois temos os desafios relacionados com toda a nossa área de desenvolvimento institucional em colaboração com as instituições, nomeadamente o facto de podemos aproveitar ao máximo os nossos protocolos internacionais e, também, a rentabilização do nosso know-how. Neste momento, em termos de Master Mundos é altura de poder começar a pensar numa outra formação do género noutra área científica.
Por outro lado, não podemos dissociar este grande crescimento que procuramos fazer ao nível de oferta formativa de uma outra área que é a da investigação. A investigação tem que estar alinhada com a área da oferta formativa. A aposta que temos tido, quer na submissão de projectos – nacionais e internacionais – com parceiros de diferentes níveis, é aqui fundamental e foi no ano lectivo anterior, e neste ano, uma aposta concretizada.
Conseguimos, já este ano, a submissão de três projectos de investigação à Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e estamos em fase de finalização de um projecto internacional que será submetido até ao final do mês de Maio.
Estes projectos estão alinhados com aquilo que são as áreas do ciclo de vida, um deles é na área da gravidez, outro na área do jovem e outro na área do adulto. E o projecto internacional é na área do envelhecimento. É um trabalho exigente e que nos traz muitos desafios. Temos, aqui, um relativo constrangimento, uma vez que, ao nível da infra-estrutura, esgotamos a nossa capacidade de adaptação de espaços das nossas instalações.
Criámos um laboratório de práticas clínicas na comunidade, que não tínhamos, fizemos um investimento ao nível de simuladores e estamos, neste momento, em fase de reestruturação dos laboratórios, não apenas dos dedicados à área do ensino, mas também os da área da investigação e extensão à comunidade. São desafios que têm de ser alinhados uns com os outros. Temos que ter o ensino alinhado com a investigação e a área da extensão à comunidade e, simultaneamente, temos que ter a realidade daquilo que temos em termos de instalações físicas, do que podemos oferecer e para onde nos podemos desenvolver.
Para além disso, os professores têm feito, sobretudo no último ano, um grande esforço de apropriação de metodologias de ensino à distância com desenvolvimento e participação em inúmeras formações e tivemos uma boa capacidade de resposta a este nível, embora seja necessário um maior investimento na área da transição digital.
Estamos também a desenvolver planos noutra área, que para nós é sempre critica, que é a área ambiental e eficiência energética. Temos projectos institucionais neste campo que, neste momento, nos vão trazer uma lufada de ar fresco e dar capacidade para responder a estes desafios que são colocados ao mundo.

A Pandemia veio trazer relevância e visibilidade à profissão? A carreira em Enfermagem precisa de ser mais valorizada no País?
A pandemia veio mostrar que precisamos de ter equipas de saúde multidisciplinares, com as dotações seguras presentes. E os enfermeiros são actores fundamentais numa equipa: estão 24 sobre 24 horas na área hospitalar, nos cuidados diferenciados, nas equipas da comunidade.
Não é que os enfermeiros não sejam considerados elementos das equipas de saúde e respeitados dentro da sua autonomia e do seu conteúdo funcional, mas, de alguma forma, todas estas limitações que foram colocadas, levou a que – e isto não se passa apenas na área da enfermagem – muitos tivessem que procurar noutros países oportunidades que aqui não têm.
Tendo em conta o seu nível científico e todo o seu conhecimento, os enfermeiros conseguiram ser, de facto, uma profissão distintiva nesta fase difícil que atravessamos. Reorganizaram-se serviços quase de um dia para o outro, criaram-se equipas, refizeram-se circuitos de atendimento às pessoas, respondeu-se às suas necessidades, acompanharam-se pessoas no seu domicílio, numa perspectiva diferente da que tínhamos. Os enfermeiros trouxeram este aporte fundamental e isso é distintivo da área da enfermagem.

Filipe Mendes

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