Azambuja – 13 de Outubro de 2024, às 16 horas – Corrida Mista. Cavaleiros: Ana Batista, João Moura Caetano, Andrés Romero (rejoneador), António Prates e Mariana Avó (praticante); Matador de Toiros: António João Ferreira; Forcados: Amadores de Azambuja e do Cartaxo; Ganadaria: Herdeiros de Paulino da Cunha e Silva (lides a cavalo) e Dias Coutinho (lide a pé); Director de Corrida: Fábio Costa; Veterinário: Dr. José Luís Cruz; Tempo: Ameno; Entrada de Público: Cerca de Meia Casa.
Confirmando as previsões, a tarde estava muito agradável, não ameaçando chuva, porém o público é que não se deixou convencer pela ciência – ou pelo cartel? – e primou pela ausência, preenchendo apenas cerca de meia casa. Apesar de tudo a corrida até teve bons momentos, a par de outros menos interessantes.
Os toiros de Herdeiros de Paulino da Cunha e Silva, uma das mais antigas ganadarias do nosso país, cumpriram muito bem, pelo menos três, e estavam bonitos, dentro do tipo da divisa, embora um pouco escassos de forças. Os que foram lidados na primeira parte serviram na perfeição aos toureiros que os enfrentaram, tendo-se justificado a chamada do ganadeiro à praça. O toiro de Dias Coutinho, um tio com cinco anos saiu brusco e complicado, mas teve pela frente um toureiro que o soube meter no caminho e acabou por servir.
Ana Batista esteve em bom plano, especialmente na colocação dos ferros curtos, em que primou por sortes frontais a pisar os terrenos do toiro, e em andamento repousado, como mandam as regras. O público gostou do que viu e aplaudiu com entusiasmo.
João Moura Caetano houve-se com um toiro de uma nobreza incrível, que investia de todos os terrenos e sem complicar a função ao marialva alentejano, que, ainda assim, pautou a sua actuação por algumas passagens em falso e alguns ferros colocados em sortes algo atabalhoadas. Não se compreende como é que com um toiro desta qualidade foram necessárias tantas intervenções da quadrilha! Então se o toiro fosse complicado não sairiam de dentro da arena. Apesar de tudo o público – sempre generoso ou pouco exigente – aplaudiu com alegria.
Andrés Romero é um rejoneador com muita facilidade em conectar com o público que embarca facilmente nas suas sortes aliviadas e recreativas. Romero não valoriza muito os preceitos do toureio equestre, no desenho das sortes desde o cite até ao remate, contudo, quando o público, que é o principal juiz, gosta pouco há a fazer. Na fase final da sua lide fez mais uns números com a sua montada e saiu a pé, moda que aprendeu depressa.
Após um longuíssimo intervalo durante o qual foi prestada justa homenagem a título póstumo a António Bernardeco, ilustre aficionado que foi dirigente da Poisada do Campino, antigo Comandante e Director dos Bombeiros Voluntários de Azambuja e um homem bom e generoso muito apreciado em Azambuja, retomou-se a corrida com a actuação do matador de toiros António João Ferreira, a quem coube lidar um “cinqueño” da ganadaria de Dias Coutinho, que não saiu nada fácil.
Porém, o matador escalabitano – formado na Escola de Toureio “José Falcão”, de Vila Franca, da qual é o actual Director Técnico – pleno de técnica e de empenho, logrou rubricar uma excelente lide, superando as bruscas e descompostas investidas do toiro, que subordinou à mando do seu capote, brindando o respeitável com alguns bonitos e poderosos lances. Após um eficaz tércio de bandarilhas, a cargo da quadrilha, António João Ferreira conseguiu sacar água de um poço seco, como é costume dizer-se, e rubricar poderosas tandas por ambos os lados, impondo ao toiro um ritmo que ele não tinha e a espaços desenhou passes muito vistosos e elegantes. O público soube avaliar o mérito desta lide e no final premiou o diestro ribatejano com calorosas e prolongadas ovações.
É caso para questionar porque é que António João Ferreira não foi chamado para substituir Daniel Luque na corrida de Vila Franca, quando este matador espanhol se recusou a lidar os toiros que tinham sido aprovados? Enfim, que responda quem souber e se quiser…
António Prates lidou o quinto toiro da tarde, quase noite, e alternou bons detalhes com outros aspectos ainda algo incipientes. Não duvidamos das imensas faculdades deste jovem marialva, que acusou a pouca actividade que regista, porém, frente a um toiro que não foi fácil, teve o condão de ainda tornar tudo mais complicado, especialmente na fase final da sua lide, com os ferros de apoteose, que não resultaram bem. Melhores dias virão, porque tem potencial para isso.
Mariana Avó tem ainda um longo caminho pela frente, o que não tem mal, pois ainda é muito jovem. Não tenho acompanhado as suas actuações e, por isso, não conheço bem o seu potencial, pelo que não quero ajuizar o seu futuro apenas pelo que vi nesta tarde. Revela intuição e tem valor, mas necessita de aperfeiçoar a sua técnica e conhecer melhor os terrenos do toiro, para desenhar as sortes de acordo com as características do seu oponente. Alguns equívocos valeram-lhe deixar colher a sua montada com alguma violência pelo menos em duas ocasiões, o que, naturalmente, a terá perturbado. No mais foi cravando a ferragem da ordem em sortes bem desenhadas, louvando-se a atitude do público que sempre a acarinhou.
Os Grupos de Forcados em praça deram conta do recado e, com maior ou com menor facilidade, cumpriram a sua missão. Pelos Amadores locais foram solistas Telmo Carvalho e João Gonçalves, que consumaram pega fácil ao primeiro intento, e Diogo Nunes que apenas consumou a sua sorte ao quinto intento, já em sorte sesgada e muito carregada. Pelos Amadores do Cartaxo foram solistas Tiago Fonseca, que concretizou pega fácil à primeira tentativa, e o estreante Dinis Fonseca, que consumou a sua sorte à segunda tentativa, com uma grande ajuda do Cabo Bernardo Campino.
Boa intervenção dos toureiros subalternos e da campinagem e direcção correcta, embora excessivamente condescendente, de Fábio Costa, assessorado pelo médico veterinário Dr. José Luís Cruz.