A Empresa Municipal Viver Santarém encerrou o exercício de 2024 com um volume de negócios superior a quatro milhões de euros, resultado de uma gestão focada na sustentabilidade financeira, na diversificação da oferta e na valorização do território. À frente da estrutura, Carlos Coutinho destaca a consolidação do Complexo Aquático como principal fonte de receita própria da empresa, a par da gestão de mais de três dezenas de equipamentos desportivos e da implementação de projectos comunitários que envolvem milhares de munícipes, desde o pré-escolar à terceira idade.
Nesta entrevista ao Correio do Ribatejo, o presidente da Viver Santarém revela as novidades da próxima época balnear, com a introdução de equipamentos insufláveis na piscina interior, e traça o impacto positivo dos investimentos em eficiência energética, sem esquecer os programas como o “Toca a Nadar”, o “Viva Mais”, as caminhadas e o “PAS Férias”, que transformaram a Viver Santarém numa estrutura que cruza desporto, coesão social e saúde pública.
Que novidades estão preparadas para esta época balnear no Complexo Aquático de Santarém?
Mantemos os quatro escorregas já existentes – dois mais antigos e dois mais recentes, instalados em 2023 – e as pistas brandas, conhecidas também como pistas fofas. A grande novidade para este ano será a utilização da piscina interior de 25 metros com novos equipamentos insufláveis, que complementam a oferta exterior. É uma aposta que está ainda numa fase experimental, mas deverá estar operacional na primeira semana de Julho.
Quais os objectivos desta nova oferta complementar?
O objectivo principal é diversificar a experiência dos utilizadores e aumentar a capacidade de resposta do parque aquático, distribuindo melhor os visitantes pelo espaço. Vamos ter um controlo rigoroso da utilização, permitindo apenas a entrada de grupos controlados que vão rodando ao longo do dia, garantindo segurança e conforto para todos.
Este investimento surge após algum estudo ou comparação com outros parques aquáticos?
Sim, fizemos benchmarking e verificámos que outros parques aquáticos, nossos concorrentes, têm obtido sucesso com ofertas semelhantes. Acreditamos que este investimento será muito positivo não apenas durante o Verão, mas também no Inverno, permitindo-nos criar uma oferta diferenciada durante a época não balnear, como festas de aniversário e outras iniciativas lúdicas, transformando o espaço quase num pequeno parque de diversões indoor.
Quais são os principais desafios para a implementação desta nova modalidade?
O principal desafio passa pela rápida montagem e desmontagem dos equipamentos, sem prejudicar a normal utilização da piscina interior pelos utentes habituais. É essencial que este processo decorra de forma ágil e segura, para garantir que os utilizadores livres, que desejam nadar normalmente, não sejam afectados.
Já está garantido que esta nova oferta será implementada em Julho?
Estamos neste momento na fase final do processo de aprovisionamento dos equipamentos. Todos os esforços estão a ser feitos para que no início de Julho tudo esteja pronto e a funcionar em pleno. É algo em que acreditamos muito e que pensamos ser um sucesso imediato junto do público.
Que balanço faz da implementação do programa “Toca a Nadar” no Complexo Aquático?
O balanço é extremamente positivo. Este programa permitiu que todas as escolas do primeiro ciclo do concelho – do primeiro ao quarto ano – passassem a ter aulas de natação. Tratamos de toda a logística, incluindo transportes, professores e materiais necessários, como toucas, por exemplo. Estamos a falar de cerca de 2.600 crianças abrangidas, cada uma com cinco sessões anuais, o que corresponde a milhares de utilizações anuais das nossas instalações.
E em relação à Escola de Actividades Aquáticas, como tem evoluído o número de alunos?
Também nesta área registámos um crescimento significativo. Actualmente, temos mais de 2.200 alunos inscritos regularmente, quando há poucos anos a média não ultrapassava os 1.500 alunos. Destes alunos, a grande maioria frequenta o complexo aquático duas vezes por semana, sendo que atingimos praticamente a capacidade máxima dos nossos planos de água disponíveis.
Quais foram as principais razões deste aumento?
Este crescimento deve-se, em grande medida, à nossa estratégia de promoção e melhoria da oferta. Também contribuíram significativamente os investimentos recentes na eficiência energética das instalações, permitindo um aumento da utilização sem acréscimo de custos operacionais. Destaco ainda o protocolo com o Sporting Clube de Portugal, que tornou mais atractiva a prática da natação de competição, uma área onde tínhamos margem para crescer.
Em que consiste precisamente esse protocolo com o Sporting Clube de Portugal?
O Sporting é um clube campeão nacional de natação há muitos anos, com técnicos altamente especializados. Esta parceria permitiu-nos trazer para Santarém esse know-how na natação competitiva, tornando mais apelativa esta prática aos nossos jovens.
Existe espaço para continuar a crescer nesta área?
Temos algumas limitações físicas no Complexo Aquático, sobretudo na piscina interior de 25 metros, cuja profundidade média de dois metros não permite a realização de aulas para iniciantes. Mesmo assim, estamos praticamente com uma ocupação de 90%. Portanto, temos aproveitado ao máximo os nossos recursos. Se pretendermos crescer mais no futuro, teremos de pensar noutras soluções ou na criação de novos espaços aquáticos adaptados a diferentes necessidades.
Recentemente, apresentou as contas anuais da empresa municipal. Que balanço faz dos resultados financeiros obtidos pela Viver Santarém?
O balanço é muito positivo. Conseguimos ultrapassar, pela primeira vez, os quatro milhões de euros de volume de negócios. Isto demonstra claramente a saúde financeira da empresa e a sua capacidade de gerar receitas próprias. Neste momento, cerca de 67% das receitas são próprias, sendo o restante proveniente do financiamento da Câmara Municipal de Santarém.
Como é feita essa comparticipação municipal?
O município financia parte da nossa actividade através de um contrato-programa. Este valor cobre a diferença entre o preço social praticado, fixado pela Câmara, e o custo real dos serviços prestados. Por exemplo, se o custo real de uma utilização da piscina é cinco euros e o utente paga apenas 2,60 euros, a Câmara compensa o valor restante. Esta compensação é essencial para mantermos preços acessíveis a toda a população.
Quais foram os investimentos mais relevantes realizados recentemente?
Destaco dois investimentos fundamentais na eficiência energética do Complexo Aquático: a instalação de mantas térmicas nos planos de água e a substituição da caldeira de aquecimento. Estes investimentos totalizaram cerca de 130 mil euros e permitiram-nos reduzir em aproximadamente 42% os consumos energéticos, apesar do aumento significativo na utilização das instalações.
Que importância tem o Parque Aquático na estrutura financeira da empresa?
O Parque Aquático é, sem dúvida, a nossa maior fonte de receita própria. No ano passado, gerou cerca de 1,4 milhões de euros, um aumento substancial face a anos anteriores. A receita do Parque Aquático depende muito das condições meteorológicas durante o mês de Agosto, período crítico em que atingimos quase sempre a lotação máxima, apesar de praticarmos preços mais numa lógica de mercado nessa altura.
Quais foram, em concreto, os principais investimentos da empresa municipal ao nível da eficiência energética?
Recentemente, realizámos dois investimentos determinantes no Complexo Aquático: colocámos mantas térmicas em dois planos de água e substituímos a caldeira de aquecimento. Estes investimentos permitiram-nos reduzir os consumos energéticos em cerca de 42%, o que é extraordinariamente positivo, especialmente considerando que aumentámos substancialmente a utilização das piscinas no mesmo período.
Qual foi o impacto directo destes investimentos em termos económicos?
Conseguimos quase duplicar a utilização do Complexo Aquático durante o Inverno, graças ao programa “Toca a Nadar” e ao crescimento da Escola de Actividades Aquáticas, sem que isso significasse um aumento proporcional dos custos operacionais. Isso traduz-se num retorno muito rápido do investimento efectuado, o que significa uma enorme vantagem financeira e ambiental para a empresa.
Que outras medidas estão previstas no futuro próximo para melhorar ainda mais a eficiência energética?
Nos próximos dois anos estão planeados grandes investimentos em eficiência energética nas nossas instalações desportivas. Este projecto será realizado pela Câmara Municipal com financiamento comunitário, abrangendo três grandes áreas: o pavilhão e a nave desportiva, a piscina do Sacapeito e o Complexo Aquático. Estes investimentos vão permitir uma transformação profunda dos equipamentos electromecânicos, como as máquinas de tratamento do ar e sistemas desumidificadores, reduzindo substancialmente os custos operacionais e ambientais destas infra-estruturas.
Que importância atribui a estes investimentos para o futuro da empresa?
São absolutamente fundamentais. Ao modernizar e tornar mais eficientes as nossas instalações, não só garantimos a sustentabilidade financeira futura da Viver Santarém, como também reforçamos o nosso compromisso com a redução da pegada ecológica. Estas acções ajudam-nos a manter a excelência na oferta desportiva, assegurando condições óptimas para os utilizadores e permitindo uma gestão mais responsável e sustentável dos recursos.
Qual é actualmente a situação da ocupação dos equipamentos desportivos geridos pela Viver Santarém?
Os nossos equipamentos desportivos estão praticamente todos no máximo da sua capacidade. Temos as piscinas e os pavilhões ocupados desde as 8 da manhã até às 22 horas, e alguns pavilhões até à meia-noite. Os campos de futebol têm maior utilização ao fim da tarde e à noite, mas também são muito procurados pelas escolas durante o dia. Isto reflecte-se numa elevadíssima taxa de participação desportiva na cidade.
Quais são, concretamente, as principais infra-estruturas sob gestão da empresa?
Actualmente, temos sob nossa responsabilidade cerca de 35 a 40 instalações desportivas. Isto inclui oito pavilhões desportivos, dois complexos de piscinas (Complexo Aquático e Sacapeito), campos de futebol (como os da Ribeira de Santarém, Escola Superior Agrária e Ex-EPC), campos sintéticos, o Campo de Rugby, entre outros. Todos estes espaços são essenciais para o desenvolvimento da actividade desportiva no concelho.
Existem projectos de renovação ou expansão destes equipamentos?
Sim, estão em curso importantes obras de renovação e expansão. Destaco a intervenção no Campo de Rugby, na antiga EPC, e o projecto da Academia de Futebol em parceria com a Federação Portuguesa de Futebol, cuja primeira fase está prestes a iniciar-se. A médio prazo, teremos ainda novos investimentos em outros equipamentos municipais, sempre com o objectivo de melhorar as condições oferecidas à população.
Quais são os maiores desafios desta gestão tão abrangente?
O maior desafio é assegurar a manutenção e limpeza eficazes de todos estes espaços, garantindo a utilização permanente sem interrupções. Para isso, contamos com equipas próprias, especializadas na manutenção e limpeza das instalações. Este esforço permite-nos evitar encerramentos prolongados e responder rapidamente a qualquer problema técnico, mantendo uma oferta constante e de qualidade à população.
Que impacto espera que estes novos investimentos tenham no futuro da actividade desportiva no concelho?
Acredito que vão consolidar ainda mais Santarém como um dos concelhos mais activos do país. Melhorar e expandir estas infra-estruturas significa criar condições para que mais pessoas, sobretudo jovens, possam ter boas experiências no desporto desde cedo, incentivando uma prática regular que se prolongue pela vida inteira. Além disso, há um impacto muito positivo na saúde pública, reduzindo a necessidade de intervenções médicas curativas e promovendo um estilo de vida mais saudável em toda a comunidade.
Quais são os principais projectos comunitários desenvolvidos pela Viver Santarém para a promoção da actividade física?
Temos vários projectos, adaptados a diferentes faixas etárias, destacando-se o “Viva Mais” para idosos, as caminhadas pelas freguesias e o “PAS Férias” dirigido às crianças em idade escolar. Estes projectos têm tido uma adesão notável e são fundamentais para promover hábitos de vida activos e saudáveis junto da comunidade.
Como tem sido a adesão ao projecto “Viva Mais”?
O “Viva Mais” tem tido um crescimento exponencial. Actualmente, estamos em todas as 18 freguesias do concelho, com aulas duas vezes por semana, abrangendo mais de 800 idosos inscritos. É uma iniciativa que tem tido um impacto extraordinário, promovendo a mobilidade e o bem-estar desta faixa etária.
Em relação às caminhadas pelas freguesias, como está organizado este projecto?
As caminhadas decorrem, regra geral, no primeiro sábado de cada mês, rodando pelas freguesias do concelho. Habitualmente, temos mais de 400 inscrições por caminhada, com participações efectivas acima das 350 pessoas. É uma iniciativa muito apreciada porque permite aos participantes conhecer locais diferentes dentro do próprio concelho, criando também um sentido de pertença e comunidade.
E quanto ao projecto “PAS Férias”, que resultados têm alcançado?
Este projecto, realizado durante as interrupções lectivas, tem registado uma procura crescente. Só no ano passado tivemos mais de 900 inscrições, com semanas em que esgotámos a capacidade de 88 crianças. Este ano, pretendemos aumentar a capacidade para acolher até 120 crianças por semana, permitindo-nos dar resposta a mais famílias.
Este tipo de iniciativas requer uma estrutura humana muito significativa. Quantos colaboradores estão envolvidos nestes projectos?
De facto, é uma estrutura grande. Actualmente, temos cerca de 85 funcionários permanentes e mais cerca de 20 em regime de prestação de serviços. Só no “Viva Mais” temos 10 professores a assegurar as aulas semanalmente. Além disso, o projecto “PAS Férias” implica um grande esforço organizativo, com técnicos e parcerias que permitem, inclusivamente, integrar crianças com mobilidade reduzida e necessidades especiais, em colaboração com a APPACDM.
Como tem sido feita a ligação entre o Complexo Aquático e a oferta turística da cidade de Santarém?
Temos procurado criar parcerias estratégicas que possam ligar a oferta turística da cidade ao Complexo Aquático. Por exemplo, estabelecemos uma parceria com a Rodoviária, que vende bilhetes combinados de transporte e entrada no Parque Aquático, facilitando assim o acesso dos visitantes ao nosso espaço.
Qual tem sido o desafio principal na promoção desta integração entre turismo e actividades lúdicas?
Um dos principais desafios é convencer os utilizadores do parque a visitar outros pontos turísticos da cidade no mesmo dia. Realizámos experiências oferecendo visitas à cidade aos utilizadores do parque, mas percebemos que as pessoas vêm preparadas exclusivamente para o parque e tendem a passar o dia todo aqui. A nossa estratégia tem passado, assim, mais por promover Santarém como destino turístico completo, incentivando estadias mais prolongadas, em vez de tentarmos combinar actividades turísticas com a utilização imediata do parque.
Acha possível criar ofertas mais integradas no futuro?
Continuamos abertos a novas estratégias e parcerias que possam dinamizar ainda mais esta ligação. A oferta turística e cultural da cidade tem vindo, inegavelmente, a captar mais visitantes, podendo vir a promover estadias mais prolongadas, incluindo, obviamente, uma passagem pelo nosso Complexo Aquático.
FMM