É comum entre os aficionados portugueses discutir-se a actualidade da tauromaquia nacional tomando como referência a insólita situação do Campo Pequeno, principal tauródromo do país, carregado de história e de tradição, mas que no presente só a curtos espaços cumpre a função para que foi edificado.

Só num país como o nosso e numa conjuntura tão complexa e conturbada como a que o mundo atravessa é que se podem admitir situações desta natureza. As figuras mais ilustres da tauromaquia mundial, a começar por alguns empresários que administraram a praça de toiros da capital com tanto empenho e competência, viverão amargurados com tal estado de coisas, enquanto os que já vivem na eternidade sentir-se-ão traídos e desrespeitados pelos que lhes sucederam.

A história do Campo Pequeno já atravessou três séculos e sempre se posicionou na posição mais altaneira entre os principais tauródromos nacionais, constituindo- se como uma autêntica referência. O sempre lembrado Manuel dos Santos deu-se por inteiro à arte de Montes e ao seu Campo Pequeno, projectando a tauromaquia na capital a níveis nunca antes alcançados.

Todavia, antes e depois de Manuel dos Santos viveram-se temporadas de luxo no Campo Pequeno, e assim se escreveu a história de um dos mais prestigiados tauródromos a nível mundial.

Mas, mau grado que nós sejamos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos, não poderemos viver apenas à sombra do passado. Para salvaguardar o futuro deveremos assumir no presente a responsabilidade que temos. E que é grande!

A Praça de Toiros do Campo Pequeno – agora rebaptizada com uma designação comercial – apenas concede à tauromaquia quatro dias por ano para a sua afirmação na capital de um país onde a Tauromaquia tem uma tradição profunda, posto que a arte do empresário Álvaro Covões é outra.

Ele vive outra música, e manda a tauromaquia às malvas, porque os milhões que ganha têm origem na organização de eventos musicais e na gestão do Campo Pequeno, cuja área comercial e parque de estacionamento são uma autêntica mina. Que ele foi capaz de descobrir e de potenciar.

Voltando atrás… Os aficionados portugueses falam do Campo Pequeno como os adeptos de um qualquer clube de futebol.

Todos somos treinadores de bancada, emitindo todo o tipo de comentários e opiniões, acertando sempre nas melhores tácticas depois do jogo perdido. Ou empatado, que para o caso é quase a mesma coisa.

Discutem-se os cartéis, ou porque deixam de fora alguns toureiros que lá deviam ir, ou porque se aposta em toureiros e forcados que não teriam lugar em cartéis que deveriam ser excepcionalmente fortes, ou porque, ou porque… Enfim, fala assim quem não tem que honrar os seus compromissos perante a empresa “Everything is new”, concessionária do espaço, ou perante os agentes da festa que são contratados para cada corrida, ou, “the last but not the least”, perante o Estado Português, que apenas cobra impostos e taxas à Tauromaquia, não apoiando nada nem ninguém.

Aqui chegado, devo dizer que também não concordo com todos os cartéis que o empresário Luís Miguel Pombeiro monta no Campo Pequeno, longe disso, mas compreendo as razões por que o faz, numa tentativa difícil de arrecadar receitas suficientes para pagar as suas contas, mas a solução do futuro como tauródromo talvez precise de uma terapia mais forte, no que todos os agentes da festa deverão empenhar- se e cooperar, senão o futuro é cada vez mais incerto e sombrio.

Cumprimento o empresário Luís Miguel Pombeiro pela sua coragem e ousadia, a que deverei juntar o inerente risco financeiro, que assumiu ao levar por diante a tauromaquia no Campo Pequeno, e exorto aqueles que são profissionais e que vivem da actividade tauromáquica a que assumam um papel mais cooperante na salvaguarda do Campo Pequeno apoiando o seu actual gestor taurino. Ou então, as coisas só podem complicar-se…

LM

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