“Podemos neste momento respirar de alívio”, afirmou Armando Fernandes responsável pela coordenação da Carta Gastronómica da Lezíria do Tejo que esta tarde foi apresentada na Casa do Campino, em Santarém, onde decorre, até domingo, o Festival Nacional de Gastronomia.

“Era um sonho e agora é uma realidade palpável”, sublinhou, destacando os homens e as mulheres que deram o testemunho para a sua concretização.

E foi o registo da “cozinha oral” que entusiasmou o investigador que garantiu: “nenhuma receita foi copiada”, dedicando o trabalho final às “mulheres sábias que faziam receitas “a olho” sem a preocupação das quantidades”, destacando a sua “sageza”.

Ao longo de quase três anos, a Confraria Gastronómica do Ribatejo realizou quase 200 entrevistas individuais e recolheu 557 receitas populares.

Elaborado pela Confraria Gastronómica do Ribatejo e coordenado por Armando Fernandes, o documento, em dois volumes, é fruto de um trabalho de investigação e recolha feito ao longo dos últimos 31 meses.

Ao Correio do Ribatejo, Armando Fernandes disse que a Carta, agora apresentada, é “mais que um simples livro de receitas, um tratado da gastronomia da Lezíria”, que constitui um testemunho e um legado das gerações ancestrais às vindouras.

“É a preservação e simultaneamente a ponte para manter viva a tradição de uma culinária que foi criada com os produtos da terra, moldados em função das disponibilidades e necessidades locais e também das festas e tradições que se perdem no tempo”, apontou o responsável.

Este projecto iniciou-se, em 2015, com a assinatura de um protocolo de parceria entre a Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT), a Confraria Gastronómica do Ribatejo, e a Câmara Municipal de Santarém.

“Foi um trabalho de recolha de informação boca a boca, orelha a orelha” explicou Armando Fernandes, revelando que muitos dos relatos foram feitos por pessoas de idade avançada.

“Não há uma única receita que não nos tenha sido dita pela própria pessoa”, garantiu o coordenador da obra, assumidamente feita com base nas “práticas de vida” das comunidades mais pobres, embora haja também receitas que eram habitualmente servidas nas casas mais abonadas.

Presente na sessão, Ricardo Gonçalves, presidente da Câmara Municipal de Santarém, salientou que a Carta é a concretização de “um sonho de há muitos anos”, só possível pelo trabalho desenvolvido por José Cruz Marques e Joaquim Ferreira que “sempre se bateram” pela sua concretização.

A Carta, “muito genuína”, foi feita ouvindo “pessoas com a sabedoria do fazer as coisas acontecerem e é um retrato fiel,” observou.

O autarca considera “um orgulho” a carta ter sido apresentada no decorrer do Festival Nacional de Gastronomia.

Para Ceia da Silva, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo – ERTAR, Armando Fernandes é uma “referência nacional na área da gastronomia” e a Carta Gastronómica da Lezíria do Tejo, “um documento que nos orgulha a todos”, uma “memória viva”, que convém agora divulgar, pese embora não esteja completa.

Em declarações anteriores ao Correio do Ribatejo, Ceia da Silva já havia salientado que o levantamento efectuado é “de uma enorme riqueza” e “não deve ser confundido com livros de gastronomia disponíveis no mercado. Retrata uma identidade. Aliás, é este bem cultural imaterial, enquanto saber e prática, que mantém viva toda a identidade cultural de uma região”, considera.

A carta agora editada, em dois volumes, é, na óptica de Ceia da Silva, “um documento fundamental não apenas como base de uma estratégia turística de afirmação de uma identidade alimentar, mas também como um património que pode ombrear com todo aquele em que o Ribatejo é hoje reconhecido”.

O responsável tornou pública, durante a sessão, a intenção de a disponibilizar a todos os restaurantes da Lezíria do Tejo, para que possam utilizar as receitas ancestrais que esta carta contém.

Pedro Ribeiro, presidente da CIMLT, destacou a “conjugação de vontades” que possibilitou a edição desta Carta e a complementaridade do trabalho feito pelas várias entidades e pelos municípios, muito importante para toda a região.

“É um trabalho feito com muita profundidade. A preservação da nossa memória é muito importante, sobretudo numa região em que a gastronomia tem um papel fundamental”, afirma.

Já Pedro Louceiro, representante da Federação Portuguesa das Confrarias, reconhece que os dois volumes agora apresentados servirão de exemplo a todas as Confrarias do país.

“Esta Carta é um exemplo do que estas podem fazer”, concluiu.

No final da apresentação da Carta Gastronómica, cerimónia que contou com a presença de representantes de Confrarias e Municípios envolvidos, provaram-se sabores e saberes dos 11 concelhos da Lezíria do Tejo.

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