O Partido que, com fama e proveito, se reivindica da extrema-direita em Portugal, pensando que cavalgar a insanidade e a infâmia de Trump e Bolsonaro pode dar trunfos eleitorais, decidiu inventar a patranha de que a lei recentemente aprovada para minorar as possíveis consequências da COVID 19 no meio prisional iria provocar a libertação de homicidas e pedófilos. E vai daí, sem qualquer base ou fundamento que não seja a ideia de que uma mentira, se for muitas vezes repetida, pode ser tomada por muitos como verdade, vociferou essa acusação com a berraria do costume, pensando que berrar na Assembleia da República é a melhor forma de ser ouvido cá fora.
Mais grave, porém, é que o jornal Correio da Manhã, fazendo por esquecer o dever que qualquer órgão de comunicação social deve aos seus leitores, que é o de não lhes mentir intencionalmente, repetiu a infâmia em primeira página, o que lhe valeu, para além de queixas apresentadas à Entidade Reguladora da Comunicação Social (na vaga esperança de que esta entidade, ao contrário do que é costume, assuma as suas responsabilidades), o desmentido categórico feito pelo próprio Presidente da República em conferência de imprensa.
Marcelo Rebelo de Sousa foi categórico, como tinha de ser, para repor a verdade. Esta lei não vai libertar da prisão ninguém que tenha cometido algum crime grave.
Como imitador de Trump e Bolsonaro, o deputado Ventura faz da mentira o seu modo de vida na política e diz aquilo que pensa que as pessoas desinformadas gostam de ouvir. E mesmo em tempos que exigem verdade e serenidade, não hesita em semear o medo, por achar que isso lhe pode dar dividendos políticos.
Mas, insisto, ainda mais grave é que as mentiras do Chega tenham um órgão oficioso. Ventura mente. O Correio da Manhã escreve porque Ventura disse. Ventura diz que afinal é verdade porque o Correio da Manhã escreveu. É a mentira a alimentar-se a si própria.
Não será por via desta lei que haverá bandidos à solta. O que esta lei não evitou foi o discurso canalha contra uma medida humanitária, que não vai prejudicar ninguém e visa proteger-nos a todos. Mas também já temos obrigação de saber que humanidade não rima com extrema-direita.
António Filipe – Deputado do PCP eleito por Santarém