Jaime Carvalho é um dos mais conhecidos empresários do ramo automóvel de Santarém. Construiu, de raiz, um dos concessionários mais reputados da região assente, sobretudo, nos princípios da qualidade dos serviços que presta, gama de produtos que representa e a forma como cuida dos seus clientes, ao longo de gerações. São estes os pilares do negócio e a principal motivação da empresa, que iniciou actividade em 1971. Com mais de seis décadas de experiência no ramo automóvel, foi com “surpresa” que Jaime Carvalho recebeu a notícia que seria homenageado por ocasião do 129º Aniversário do Correio do Ribatejo, um jornal que lhe está “no coração”. “Eu represento um grão de areia comparado com a grandiosa História escrita pelo Jornal”, afirma. Humilde por natureza, Homem avesso a honrarias e que gosta de aprender, “todos os dias”, interessa-se pelo que o rodeia e permanece atento aos dias que correm. Formado na “escola da vida”, estudioso dos movimentos da economia, disciplina que, afirma, pertence à esfera das Ciências Sociais, Jaime Carvalho sempre norteou a sua vida pelo princípio da integridade. Assumidamente de esquerda, foi vereador da CDU na Câmara de Santarém e pertenceu também à Assembleia de Freguesia de São Nicolau.
António Jaime Carvalho nasceu na Marmeleira, concelho de Rio Maior, a 11 de Maio de 1938. Com apenas uma semana de vida, veio para Santarém e, desde, então, é nesta cidade que construiu todas as suas vivências, memórias e fez o seu percurso como empresário de sucesso.
Olhando para trás, para a ‘fita do tempo’ da sua vida, lembra os anos de estudante, quando esteve quase chumbado por faltas no liceu e o pai, caixeiro-viajante, o obrigou a trabalhar.
“O meu pai, como eu não segui aquilo que ele pensava que eu devia seguir, por uma questão de características minhas, deu-me uma escolha. E eu também fui claro com ele ao dizer-lhe: ‘não pense que vai ter aqui um doutor porque não vai ter’”, recorda.
“Portanto, o inicio do meu percurso profissional dá-se muito cedo, num estabelecimento que era de grande qualidade no ramo das mercearias, porque o meu pai estava ligado a esse ramo”, acrescenta.
“Foi aí que fui aprendendo o que era a vida”, confessa. Passado algum tempo, surgiu a oportunidade de ir trabalhar para uma firma do ramo automóvel. Durante perto de duas décadas, integrou a Oliveira Lda., concessionário da Ford em Santarém, onde começou pelo escritório e contabilidade e chegou a vendedor. Durante esses anos voltou a estudar, por iniciativa própria, no Ateneu Comercial.
“Tinha cerca de 15 anos, passei ali 18 anos da minha vida”, rememora Jaime Carvalho.
“Estou ligado ao sector comercial dos automóveis há mais de seis décadas. Há 49 estabelecido por conta própria. Para o ano, esta casa, a Autogirar, concessionária da NISSAN, fará 50 anos. Meio século, para uma empresa deste género, é uma vida. Sou uma pessoa que, ao longo do meu percurso, nunca caminhei sozinho. Sempre gostei de partilhar com quem viveu comigo todas as coisas porque sempre achei que era uma boa forma de aprender. E aprendi muito, para além da perspectiva comercial, sobre a vida com os contactos que tive, com pessoas das mais diversas tendências e qualidades”, revela.
Uma capacidade de diálogo invulgar que faz com que Jaime Carvalho tenha granjeado admiração e respeito de todos quanto se cruzaram no seu caminho.
“As maiores e melhores lições da minha vida vieram de pessoas analfabetas. Aprendi com elas coisas que muitas vezes os académicos com quem contactei não sabiam. Fiz sempre o caminho acompanhado”, afirma António Jaime Carvalho que se confessa um “simples comerciante”, embora todos lhe chamem empresário.
Homem simples e humilde, avesso a honrarias, conta, ainda, que sempre caminhou “com uma grande perspectiva de aprender”, tendo como base da sua actuação quem trabalha consigo, num diálogo permanente.
O automóvel como símbolo de status social
Durante a sua juventude, recorda, Santarém era uma cidade pujante e, nessa altura, o automóvel significava o atingir de uma realização pessoal: ter um carro permitia quase “aceder a outra classe na sociedade”, conta Jaime Carvalho.
“A compra de um automóvel representava, para quem o comprava, nessa altura, um patamar alto de vida. Cheguei a ter clientes que me faziam esperar um ou dois anos para que o filho fizesse anos, ao ponto de poder tirar a carta, para poderem comprar o carro a mim”, revela, com um sorriso.
Esse era, igualmente, um “tempo de cavalheiros” e havia muito respeito entre os colegas vendedores, sublinha, característica que diz manter-se até hoje, conforme garante o empresário, que foi pioneiro em Portugal na representação da Datsun.
“Na altura”, recordou, “ninguém conhecia a marca, mas decidi arriscar e o resultado está à vista”, declarou. E, de facto, muitos dos seus clientes vêm de longa data e posteriormente, também os filhos optam por adquirir viaturas na Autogirar: “é um sinal de confiança que me orgulha”, disse.
Segundo refere, a venda de automóveis, hoje sofreu alterações, mas, na sua empresa, o contacto pessoal continua a fazer a diferença: “Hoje, é tudo mais rápido mas não se tem a riqueza do contacto que se tinha antes. Houve inovações até na venda dos automóveis, hoje não se faz o que se fazia que era procurar, ir a casa das pessoas, e, aí, era a grande riqueza do contacto pessoal. Aqui, o contacto pessoal continua a ser privilegiado. Sou capaz de interromper uma reunião para atender um cliente”, afirma.
“Os tempos não param. Muitas vezes fala-se em inovação, como se não tivesse havido inovação nos milhões de anos que tem o mundo. Hoje é a palavra que enche a boca a muita gente”, declara.
Fundou a empresa em 1971, em sociedade com um irmão, já falecido. Actualmente, com uma idade em que já não é comum estar no activo, tem as três filhas e um genro a trabalhar consigo e não pensa afastar-se.
“A Autogirar dá-me um prazer de viver do qual não abdico”, confessa Jaime Carvalho, que gosta de afirmar que a empresa é uma casa discutida por quem a orienta e pelos próprios funcionários, que trata pelos nomes. Foi também uma das primeiras empresas a “cumprir a Lei da paridade”, um aspecto que refere com orgulho.
“É isto que me tem dado prazer e hoje, com a idade que tenho, é este contacto permanente que me faz falta para me continuar a realizar. Cada um administra a sua actividade à sua maneira, com a sua própria forma de estar. Cada um com as suas limitações. Não tenho duvida de que temos todos a aprender muito uns com os outros. E sempre tive esse sentido de ouvir, para reflectir sobre aquilo que é a vida de todos nós”, remata.
Homem à frente do seu tempo, Jaime Carvalho assume a preocupação constante com a qualificação dos recursos humanos e a “estima e o bom atendimento” aos clientes como a “alma da firma”.
“É uma empresa que tem como foco central todas as pessoas que aqui trabalham, as suas componentes de saber, sem nunca recusar cursos de formação porque isso tem como finalidade o bom serviço que aqui prestamos”, assegura.
“Estes 49 anos foram bonitos de viver no sector que não é fácil de trabalhar. É um sector que tem muitas características impostas pelas marcas, com regras apertadas”, conclui Jaime Carvalho.