O 63.º Festival Celestino Graça – A Festa das Artes e das Tradições Populares do Mundo vai decorrer na Casa do Campino e em diferentes espaços da cidade de Santarém, de 3 a 8 de Setembro.
Nesta breve entrevista ao ‘Correio do Ribatejo’ Ludgero Mendes, Director do Festival, garante estar tudo pronto para mais um grande evento que animará a cidade nos próximos dias, contudo, lamenta não ter sido possível, ainda este ano, avançar com novos projectos “por falta de meios materiais”.
“E também nos custa que algumas entidades oficiais e públicas com responsabilidade não olhem para o Folclore, de uma maneira geral, e para o nosso Festival, de um modo especial, como deveriam”, critica Ludgero Mendes.
Mais uma edição do Festival ‘Celestino Graça’, e já vão 63, está tudo pronto para começar?
Naturalmente, não estará ainda tudo pronto, pois, se calhar se já estivesse tudo pronto faltava-nos o estímulo para fazer mais e melhor. A organização do Festival, nomeadamente ao nível dos alojamentos, da alimentação, dos transportes e da preparação da Casa do Campino é muito complexa.
Mas, estamos habituados a conviver com as dificuldades e com os inesperados constrangimentos, mas atrevo-me a dizer que a equipa que organiza este certame de projecção mundial já faz o Festival em “modo automático”, o que é uma grande ajuda. Nunca somos muitos a trabalhar, mas quem trabalha dedica-se muito intensamente.
Confirma-se o acerto na opção pela Casa do Campino como “sede” do Festival?
Sem dúvida. O actual formato do Festival Celestino Graça, que temos vindo a consolidar anualmente, só pode decorrer na Casa do Campino, espaço multiusos, a carecer de importantes obras de manutenção, mas que nos oferece condições singulares para esta iniciativa.
É certo que a lotação da área dos espectáculos é limitada, o que nos reduz a capacidade de gerar mais receita, no entanto, dá-nos a satisfação de estar quase sempre esgotada, o que é agradável tanto para a Organização como para os artistas que estão no palco.
Quais as iniciativas que destaca este ano paralelas aos diferentes espectáculos e inseridas no programa do Festival?
Para além da Grande Gala de Fado no Ribatejo, que é um momento muito esperado pelo nosso público, e que este ano conta com a prestigiante participação do guitarrista Custódio Castelo, um dos melhores de sempre a nível nacional – sem desdouro para os restantes artistas do elenco -, destacamos nesta edição do Festival o Salão de Fotografia, com uma excelente exposição sobre “O Ribatejo e as suas Gentes”, da autoria do conceituado fotógrafo Vítor Lopes, a Gala Solidária “Entre Idades / Abraçar Gerações”, realizada em parceria com a Fundação INATEL, e a Mostra de Instrumentos Tradicionais “Sons Autóctones – Sons da Memória”, iniciativa que conta com o apoio do “Programa LVT + Cultura”, da CCDRLVT, e que é para desenvolver ao longo do ano e para repetir nas próximas edições do Festival Celestino Graça.
O Grupo Académico nunca se contenta em manter o que vai fazendo, parece estar sempre a inovar?
Nós nunca nos satisfazemos com o que fazemos, queremos sempre ir mais longe. E se não vamos algumas vezes mais longe é porque não temos asas para concretizar os nossos projectos. Mas nunca baixamos os braços. Começámos há alguns anos com o Projecto “Ribatejo Com-Tradição”, no qual integramos diversas actividades, como são os casos do Fandangando, da Gala de Fado, da Exposição-Venda de Artesanato, da Mostra de Gastronomia regional, do Salão de Fotografia e da dinamização dos Jogos Tradicionais. Metemo-nos agora com a organização da Mostra de Instrumentos Tradicionais “Sons Autóctones – Sons da Memória” e temos outros projectos que a seu tempo divulgaremos. Celestino Graça ensinou-nos a sermos dinâmicos e exigentes, e tentamos honrar a sua memória cumprindo esses desígnios.
Os Grupos Infantil e Académico estão de boa saúde?
Imodestamente atrevemo-nos a dizer que sim, embora com a necessidade de nos valorizarmos tecnicamente, o que é uma preocupação constante, porém sentimos que temos um satisfatório nível técnico, o que nos permite apresentar-nos em qualquer palco do país ou do mundo sem receio de críticas. Embora, não estejamos imunes à crítica, sobretudo se for construtiva, porque algumas vezes criticam-nos por despeito e sobranceria, no entanto, já deixámos de dar para esses peditórios. Fazemos o nosso caminho com humildade, mas com muito empenho e muita convicção. Temos um número muito razoável de Componentes, especialmente no Grupo Académico, e estamos a crescer no Infantil, na esperança de que nos próximos dois anos voltaremos a ter um Grupo Infantil com muita qualidade, o que é fundamental para a nossa sobrevivência.
Voltando ao Festival, como é que estão de apoios?
Os apoios nunca são suficientes para as nossas necessidades, embora tentemos não dar o passo maior do que a perna. Mas custa-nos muito ter projectos e não conseguirmos concretizá-los por falta de meios materiais. E também nos custa que algumas entidades oficiais e públicas com responsabilidade não olhem para o Folclore, de uma maneira geral, e para o nosso Festival, de um modo especial, como deveriam.
Não é o caso da nossa Câmara Municipal, porque temos tido a compreensão do Dr. Ricardo Gonçalves que nos tem apoiado e, essencialmente, sempre revelou disponibilidade para discutirmos projectos e avaliar até onde é possível ir. O mesmo temos de dizer do Dr. Nuno Domingos, enquanto Vereador da Cultura, que nos ajuda na medida do possível. Mas, nem todos têm tido a mesma postura.
O Festival Celestino Graça – A Festa das Artes e das Tradições Populares do Mundo tem um orçamento de cerca de 65 mil euros, a Câmara irá apoiar-nos com um subsídio de 30 mil euros, e nós temos de arranjar o resto. O que não é fácil porque o Grupo Académico é uma “associação sem fins lucrativos”. Mas socorremo-nos de instituições amigas, de algumas empresas da região, dos Amigos e, muito importante, das receitas das bilheteiras, que apesar dos bilhetes terem um preço pouco mais do que simbólico se revelam imprescindíveis.
E a Liga dos Amigos do Festival funciona bem?
Funcionar, funciona, mas não tão bem quanto gostaríamos. Temos alguns “Amigos” que são fantásticos e cuja ajuda tem sido muito expressiva, no entanto a maioria da nossa População não é sensível a estas questões. A Liga dos Amigos é uma forma de aproximarmos a organização do Festival aos seus destinatários, o Público, fazendo uma reunião de balanço do anterior Festival e acolhendo sugestões com vista ao próximo, mas ainda nos falta massa crítica. O valor da receita dos contributos dos Amigos é importante, e necessário, mas não é só o dinheiro que interessa.
Quanto aos Grupos anunciados está tudo confirmado?
Confirmado, sim, contudo o Grupo de Angola não vai poder participar no Festival deste ano, porque o Consulado de Portugal em Luanda não tem agendamento para a emissão de vistos. Só a partir de Novembro. Insistimos a pedir a análise deste processo com carácter de urgência, mas nem resposta obtivemos. Optámos por um país africano da CPLP para facilitar a questão dos vistos, mas nem assim conseguimos o nosso objectivo. Estamos ainda a tentar encontrar um grupo disponível para colmatar esta lacuna. Os restantes Grupos, estrangeiros e portugueses, estão todos confirmados. Do ponto de vista artístico estamos convencidos de que vamos ter um Festival excepcional, pois todos os Grupos são de um nível técnico muito elevado.
Tem alguma mensagem a passar aos nossos Leitores?
Sim, aproveitamos naturalmente a oportunidade que o Correio do Ribatejo nos concede para convidarmos todos a visitar o Festival Celestino Graça na Casa do Campino, lembrando que para além dos espectáculos principais nos dias 5, 6, 7 e 8 de Setembro, em todos os dias há outros espectáculos ao longo do dia e há a nossa oferta gastronómica onde poderão saborear os pratos regionais ribatejanos a custos muito módicos. Temos tido a sorte de esgotar a lotação da Casa do Campino nas últimas edições e queremos continuar a fazê-lo, para o que igualmente conseguimos aumentar a própria lotação da Sala dos espectáculos. São Todos muito bem-vindos. E queremos agradecer ao Jornal “Correio do Ribatejo” o apoio que sempre deu ao Grupo Académico e ao próprio Festival.
Viva o Festival Celestino Graça!