Ligo a RTP-1 e vejo culinária e gastronomia. Ligo a RTP-2 e apanho com mais gastronomia e culinária. Na SIC e na TVI a programação é diferente: uma mostra só culinária e a outra gastronomia.
Vou escrever um livro de receitas. É certo que as televisões já nos ensinam alguma coisa, mas é só de manhã à noite. Um livro fica para sempre: “Doces de Santarém”!
Já posso publicar um pequeno ensaio:
“…um pampilho descansava nos campos de Alvisquer, quando de repente lhe saiu ao caminho uma bela e loira celeste, vestida com hábito branco de freira. Logo o pampilho se pôs em pé e lhe disse: bom dia, irmã! O que a traz nessa caminhada?”
– Olhe, saí do convento. Agora quero ser uma celeste mais sensual do que conventual, percebe?
“Percebo. Já entendi tudo! O que a amiga procura é um bom pampilho assim como eu, não é?
– Não. Você é muito alto e esguio para mim. Como vê, eu sou baixinha e redondinha. O melhor é cantar como na história da carochinha: quem quer casar com a celestinha que é pequenina e bem docinha?
“Quero eu! Quero eu!” – Disse o pampilho a babar-se de creme.
– Ah mas esse creme não liga comigo, não! Meu bem há-de chegar com amêndoa para me dar. É disso que eu preciso para agradar: amêndoa! E de preferência já descascada, entende?”
E de novo cantou: “Quem quer casar com a celestinha que é pequenina e bem docinha?
Foi nessa altura que apareceu outro pretendente.
“Quero eu! Quero eu! Tenho muita amêndoa para lhe dar e sou bem adocicado. Só de pensar que vou casar fico todo arrepiado!”
O pampilho afastou-se cabisbaixo e triste, enquanto a celeste se enrolava com amêndoa picada. E a partir daquele dia jamais voltou ao convento. O arrepiado ficou apaixonado, casou com a celestinha e fizeram uma pombinha!…
In: ‘Correio do Ribatejo’ de 29 de Março de 2019