Muito se tem dito sobre o potencial latente existente na região de Santarém. Poucas regiões do País concentram uma tão rica e diversificada rede de cidades de média dimensão e de setores de atividade económica, instituições de ensino superior, e acesso a um conjunto de serviços públicos de proximidade e elevada qualidade. Tudo isto num contexto ambiental e cultural impares na geografia nacional.
Ao mesmo tempo, esta vasta e intrincada rede de realidades constitui-se como um dos maiores desafios e ameaças à afirmação desta região, já que os “consensos” e as “vontades”, em torno de grandes desígnios, são sempre mais difíceis e árduos de alcançar.
Acontece que vivemos uma grave crise social e económica que nos irá pôr todos à prova. O País, como nação, e cada uma das suas regiões, enquanto unidades territoriais. Este será, não tenho dúvidas, um teste à capacidade de mobilização de cada região, dos seus agentes políticos, das instituições científicas e de ensino superior, do setor empresarial e social. Enfim, da comunidade em geral. Não tenhamos dúvidas de que, perante as adversidades que se avizinham, as regiões que tiverem maior capacidade de mobilização estarão em clara vantagem.
No caso particular do Politécnico de Santarém temos vindo a assumir este princípio a nível interno, na interligação entre cada uma das Escolas Superiores, quer ao nível externo na ligação com as instituições da região. Dou como exemplo o projeto de inovação pedagógica que iniciamos recentemente e que promove junto dos nossos docentes a adoção de metodologias de ensino ativas, sustentadas em projetos de cocriação com empresas e demais entidades da administração pública e do setor social da região. Propõe-se, assim, que o ensino de natureza expositiva, em contexto de sala de aula, seja substituído por aprendizagens a partir da resolução de problemas reais colocados pelas entidades empregadoras. Desta forma, os estudantes aproximam-se mais da realidade do mercado de trabalho e as entidades empregadoras participam no processo de formação, promovendo sinergias e quebrando barreiras. No final, todos saem a ganhar.
Na primeira edição deste projeto, foi possível pôr a colaborar docentes e estudantes de diferentes Escolas do Politécnico de Santarém a responder a desafios colocados por entidades tão diversas como as seguintes: Santa Casa da Misericórdia de Santarém; Águas de Santarém; Associação Tempos Brilhantes; Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; Associação de Futebol de Santarém; Farmcontrol; Alfarroba edições; Entogreen; Loja do Sal; Laciftech; Crivosoft; VO Sports. Estão previstas mais cinco edições deste projeto nos próximos 3 anos, pelo que fica fácil de entende o potencial transformador que esta iniciativa terá para o Politécnico de Santarém, designadamente ao nível da interação que estabelece com as entidades da região.
Este é, apenas, um pequeno ensaio para o esforço de ligação, muito maior, que será exigido perante a presente realidade. E se dúvidas houvessem basta consultar os instrumentos de financiamento incluídos no que já se conhece do Plano de Recuperação e Resiliência apresentado pelo Governo, designadamente na sua Componente 6 – Qualificações e Competências.
No âmbito desta componente estão previstos dois programas de incentivos, a que as Instituições de Ensino Superior se podem candidatar, o programa “impulso jovem STEAM” e o programa “impulso adultos”, num total de 280 milhões de euro. O acesso a estes apoios será feito através de uma candidatura a nível nacional, competitiva, com base em arranjos colaborativos, em rede ou consórcio, diversificando e complementando a oferta existente nas áreas em que as sinergias entre as instituições de ensino superior, a Administração Pública e a atividade empresarial e industrial, se revelem mais úteis para aprofundar, atualizar e modernizar as qualificações das pessoas.
Resulta daqui que, também ao nível do acesso a estes apoios, a capacidade de colaboração entre instituições e regiões se vislumbra como critica. O resultado pretendido é o da criação de escolas de pós-graduação em colaboração com empresas, para cursos de curta duração e de pós-graduação, que acrescentem valor à formação já existente através da partilha de competências e recursos. Estou certo que a região e os seus diferentes agentes, incluindo o Politécnico de Santarém, estarão aptos e preparados para dar este passo.
Artigo de Opinião de João Moutão – Presidente do Instituto Politécnico de Santarém