Luís Jacob é presidente executivo da RUTIS – Rede de Universidades da Terceira Idade, que fundou em Almeirim, em 2005. No entanto, a primeira universidade sénior em Portugal é anterior à criação desta associação e remonta ao ano de 1978. Com o objectivo de apoiar a comunidade sénior e promover um conjunto de actividades destinadas a este público, a RUTIS cresceu significativamente, contando com mais de 300 universidades em Portugal e no estrangeiro, captando um número crescente de alunos. Agora, a pandemia veio travar este fenómeno. Em Novembro, perto de 50% das Universidades Seniores estavam ainda encerradas e as que reabriram têm metade dos alunos. A RUTIS criou, por isso, a Universidade Sénior Virtual (USV) de forma livre e gratuita, para chegar a todos os interessados em continuarem a ter aulas.

De que forma as Universidades da Terceira Idade se estão a adaptar a estes tempos de pandemia?
Segundo os dados que temos em final de Junho 72 por cento das Universidades Seniores tinham feito alguma actividade online, após as aulas presenciais terem encerrado em Março/Abril.
As restantes não fizeram nada porque não tinham meios humanos e/ou técnicos para tal. As que realizaram actividades online, a maioria deu aulas através do zoom e fizeram actividades no facebook. A RUTIS criou a Universidade Sénior Virtual (USV) de forma livre e gratuita, para chegar a todos os seniores interessados em continuarem a ter aulas (www.seniorvirtual.pt). Mais recentemente, a fórmula tem sido a mesma, em Novembro perto de 50% das US estavam ainda encerradas e as que reabriram tem metade dos alunos. O sistema mais utilizado tem sido o b-learning, aulas presenciais e aula online. Apenas 10% encerraram e não ofereceram alternativas aos alunos.

Como se têm mantido as aulas e, sobretudo, o interesse dos alunos?
Tem sido difícil porque o que os alunos procuram é o convívio, o afecto e a animação que a frequência das US proporciona. O ensino online tem sido um mal menor, importante mas que não corresponde aos anseios dos alunos. A nossa pesquisa revela isso, a maioria dos alunos não tem interesse pelas aulas online, mas os restantes consideram muito importante continuar a haver esta ligação à US, aos colegas e aos professores. A USV é reflexo disso, inscreveram-se 1200 alunos, mas só 200 eram assíduos e esses avaliaram a USV muito positivamente. Consideramos muito importante que as US mantenham essa ligação, online e/ou presencial, com os alunos porque eles sentem muito a falta das actividades que as US fornecem.

Considera que esta situação que o mundo atravessa pode colocar em causa o envelhecimento activo das populações?
Sem dúvida, 70% das actividades das US e da RUTIS foram canceladas e as restantes 30% são feitas apenas online que, como já indiquei, ficam muito aquém do que os alunos precisam. O envelhecimento activo implica sair de casa, conviver, viajar, praticar desporto e conhecer outros locais e outras pessoas e isso torna-se muito difícil neste período. Um exemplo prático são os treinos e torneios de walking football (futebol a andar) que já envolviam mais de 30 equipas a nível nacional e que pararam completamente, para grande tristeza dos alunos. E não são possíveis de substituir online.

A frequência destes espaços era para muitos o único local de convívio e companhia que tinham ao longo do dia. O encerramento das UTI pode agravar os problemas desta população sénior?
Sem dúvida, os primeiros estudos que temos já indicam isso. Há claramente um aumento da sensação de tristeza, solidão e depressão entre os alunos, assim como um aumento do consumo de antidepressivos. Juntam-se vários constrangimentos neste período, o fim das aulas, as dificuldades de deslocação e de convívio com os amigos e familiares e o medo da própria doença. Temos imensos relatos de dirigentes que encontram os alunos e percebem que estes estão muito mais abatidos física e mentalmente. Se antes conseguíamos contabilizar os efeitos positivos da frequência das US e que eram muitos, agora temos o efeito contrário que é contabilizar a falta, imensa, que as US fazem aos seus frequentadores.

Na sua perspectiva, as novas tecnologias são agora um factor de aproximação ao invés de distanciamento?
As tecnologias são de momento o grande garante de alguma saúde mental para os seniores. Apesar dos problemas inerentes à utilização das tecnologias pelos seniores (dificuldade de acesso à internet, não possuir os equipamentos adequados ou não os saber usar) estas revelaram-se fundamentais para manter o contacto com o mundo, com os colegas e família. Porém esta situação aumentou o fosso entre os seniores (e não só) que conseguem lidar com as tecnologias e os que não conseguem, que são a maioria. Temos uma situação em “K”, os que souberam usar a internet aumentaram as suas competências para agora e para o futuro, os que não conseguem ficaram ainda mais afastados e isolados.

A RUTIS foi recentemente distinguida com o prémio ‘Envelhecimento Activo’ da Fundação Inatel. Como olha para esta distinção?
Com muita satisfação. É o reconhecimento do trabalho que a RUTIS e as US têm feito pelos seniores em Portugal nestes últimos anos. De recordar que Portugal é o país do mundo com a maior proporção, universidades seniores por habitante maior de 65 anos e isso deve-se a um esforço notável dos dirigentes, poder autárquico, professores voluntários e alunos.

3 comments
  1. As Universidades Séniores, representam uma mais valia do empreendedorismo em Portugal, permitido dar forma natural á vida de todos nós, pois garante com dignidade a continuação de aprender e ensinar, para alem da reforma. É no entanto um projeto que deve ser ampliado na forma e no conteúdo, pois deve promover o aproveitamento dos saberes e sabedoria dos mais velhos, em prol da sociedade, permitindo a sua participação em projetos inovadores, nas várias áreas temáticas da vida em sociedade. Deve ajudar a combater o “Idaísmo”,presente, na nossa sociedade, promovendo uma Sociedade mais inclusiva para todas as idades. Aproveitar os saberes e a sabedoria dos mais velhos, é também um modo de inovação e inteligência, para criar um Mundo mais sustentável assente na coesão intergeracional, local, regional, Nacional, Europeia e Mundial.

  2. Faço minhas as palavras do José Cabarrão

    Recusar os contributos dos mais velhos, a todos os niveís, constitui um erro estrvagante e de custo social, económico e financeiro elevado, num periodo de crise e num contexto Erupeu muito difícil, senão imprevisivel.
    Fico a aguardar confiante, que o novo ano nos traga novidades, mesmo online aprendemos, e convivemos sempre.

    Bem Hajam!!!!…

  3. Porque já há 20 anos todos sabíamos que as “novas tecnologias” estavam para ficar, foi e continuará a ser da maior importância divulgar e ensinar as mesmas em todas as UTIS . E não me digam que não aprendem , porque eu já vi gente com uma 4a classe mal feita, aprender a trabalhar com um computador em muito pouco tempo. O saber será sempre uma fonte de distinção que e forçoso alargar a todos os seniores. É a atualização necessária para não se ficar a viver no ontem. E frequentemente são os dirigentes, e não os alunos , quem decide o que eles são ou não capazes de aprender. Aquilo que lhes vai interessar ou não, mas devem ser os próprios a ter oportunidade de decidir, preferencialmente depois de experimentarem. Muito trabalho aí da por fazer!
    Sem

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