A sexta edição do European Rocketry Challenge (EuRoC) confirma “a maturidade e a ambição crescentes” das equipas universitárias e reforça “a centralidade de Portugal no panorama aeroespacial europeu”, defendeu hoje a gestora do evento, Marta Gonçalves.
“Há mais equipas, mais complexidade técnica e mais vontade de se superarem”, afirmou à Lusa a responsável da Portugal Space – Agência Espacial Portuguesa, organizadora do evento de lançamento de foguetões criados por universitários que decorre desde sexta-feira em Constância, envolvendo cerca de 700 estudantes universitários de 16 países, e que termina hoje no Campo Militar de Santa Margarida, distrito de Santarém.
“Este ano aceitámos 28 equipas — o maior número de sempre — e notamos que os projetos estão mais exigentes, com foguetes híbridos e [de combustíveis] líquidos, o que representa um salto notável de maturidade. Mesmo quando não conseguem lançar, aprendem e voltam no ano seguinte mais fortes”, acrescentou.
Na terça-feira, entre as tendas e a azáfama da montagem final dos últimos foguetes a serem lançados, Marta Gonçalves sublinhou que o EuRoC “é muito mais do que uma competição” aeroespacial.
“Promove o encontro entre universidades, empresas e instituições. Aqui formam-se redes, futuros engenheiros e empreendedores. É também um espaço de segurança e de confiança, onde os estudantes aprendem a trabalhar em ambiente real de missão”, declarou.
A competição, que decorre entre o Pavilhão Municipal de Constância, onde está instalado o paddock de afinação e montagem, e o Campo Militar de Santa Margarida, para os lançamentos, junta 700 estudantes de 16 países em torno do desafio de construir e lançar foguetes a altitudes entre três e nove mil metros.
Este ano marcaram presença quatro equipas portuguesas — Fénix Rocket Team, North Space, Porto Space Team e Rocketry Experiment Division (RED), do Instituto Superior Técnico —, o número mais elevado desde a criação do evento em 2020.
Durante a tarde de terça-feira no terreno o entusiasmo misturava-se com o nervosismo técnico.
“Acreditamos mesmo que o Fénix vai ser o primeiro foguete lançado por nós”, disse à Lusa Rui Quitério, de 23 anos, chefe da Fénix Rocket Team, duas horas antes de o tempo útil de lançamento se esgotar.
“Trabalhámos o ano inteiro. É o nosso primeiro projeto, tudo foi feito por nós — estrutura, motor, fibra de carbono, alumínio. Mostramos que Portugal tem talento e engenheiros capazes de competir com os melhores”, afirmou, visivelmente orgulhoso apesar da frustração pelo lançamento acabar por não ter ocorrido.
Já Tomás Raposo, da North Space, que viu o seu foguete SPATI-II explodir durante a subida, realçou à Lusa a dimensão formativa do desafio.
“Em dois anos, a equipa evoluiu imenso em engenharia e gestão. O resultado não foi o esperado, mas o crescimento foi brutal. O EuRoC dá-nos a oportunidade única de lançar em Portugal e de aprender com os erros. É algo que nunca esquecemos”, disse.
Para Marta Gonçalves, este é precisamente o espírito do evento.
“Mesmo com dificuldades, as equipas voltam porque gostam, porque aprendem e porque sabem que aqui encontram uma comunidade. É isso que constrói o futuro do setor espacial”, declarou.
Na sessão de abertura, em declarações à Lusa, o presidente da Portugal Space, Ricardo Conde, destacou o papel de Portugal como anfitrião e protagonista da nova economia do espaço.
“O EuRoC é um exemplo notável de como o espaço pode unir ciência, defesa e território. Portugal acolhe as melhores equipas europeias de engenharia aeroespacial, afirmando-se como um lugar de excelência para testar, aprender e inovar”, afirmou.
Para Ricardo Conde, a competição “é já incontornável no panorama tecnológico europeu”.
“Estamos a formar a matéria-prima humana que o setor precisa. Portugal quer ser uma nação de acesso ao espaço, com lançadores, um porto espacial nos Açores e uma resposta concreta à Europa. É isso que estamos a construir”, destacou.
O EuRoC é promovido pela Agência Espacial Portuguesa com o apoio do Exército Português e da Câmara Municipal de Constância, e conta com o patrocínio da Agência Espacial Europeia (ESA), Cambridge Aerospace, Tekever, Omnidea e outras empresas do setor.