Santarém – 3ª feira, 10 de Junho (Dia de Portugal), às 17 horas – Corrida Mista – Feira do Ribatejo – 525.º aniversário da Santa Casa da Misericórdia de Santarém. Cavaleiros: João Ribeiro Telles e Francisco Palha; Forcados: Amadores de Santarém e de Vila Franca de Xira, capitaneados, respectivamente, por Francisco Figueiredo (Graciosa) e Carlos Pereira; Matador: José Maria Manzanares; Ganadarias: Murteira Grave (540, 530, 560 e 550 kgs) e Álvaro Nuñez (450 e 490 kgs); Director de Corrida: Marco Cardoso; Veterinário: Dr. José Luís da Cruz; Tempo: Muito Agradável; Entrada de Público: ¾ fortes.

Os últimos instantes da corrida do passado dia 10 de Junho foram os mais eloquentes quanto ao futuro da festa brava em Portugal, com os três toureiros da tarde a darem uma apoteótica volta à arena rodeados por dezenas de crianças e de jovens, com a alegria estampada no rosto e a felicidade a transbordar nos seus sorrisos.

Que bem que faria aos anti-taurinos, que tão inadequadamente consideram os espectáculos tauromáquicos como indutores de violência e de barbaridade, presenciarem este momento de tanta alegria e satisfação. Se a nossa sociedade vive amargurada por fenómenos gratuitos de caos e de violência não é, seguramente, por inspiração do ambiente que se vive numa praça de toiros.

A Monumental “Celestino Graça” registou uma excelente entrada de público, atraído pela competição entre dois dos mais categorizados cavaleiros da actualidade e, outrossim, dos valorosos Grupos de Forcados Amadores de Santarém e de Vila Franca de Xira, além do aliciante que representou a actuação do mediático matador José Maria Manzanares. Os toiros de Murteira Grave têm um grande cartel no tauródromo escalabitano, pelo que os aficionados sempre valorizam a sua integração em qualquer cartel, já o mesmo não se podendo dizer a respeito da ganadaria espanhola de Álvaro Nuñez, que sugere uma exigência do matador, para sua comodidade, o que, obviamente, não se admite, na medida em que temos algumas ganadarias cujos toiros serviriam muito melhor para o caso. Enfim, contas de outro rosário…

João Ribeiro Telles enfrentou o primeiro toiro da corrida e fê-lo muito correctamente. “By the book”…, ou seja, fez tudo como manda o figurino. Adequou distâncias e andamentos, escolheu criteriosamente os terrenos do toiro, para, em seguida colocar vistosa ferragem, que o público muito aplaudiu. A sua actuação tende a ser desvalorizada por quem não conheça tão bem os princípios do toureio equestre, porque aparentou ser tudo muito simples e fácil. Aparências que iludem, porque os tremendismos, que tanta gente aplaude é que, muitas vezes, estão a mais. Frente ao quarto toiro da tarde João Ribeiro Telles manteve o registo habitual, e o toureio fluiu singelo, mas correcto, porém, recorrendo ao “Ilusionista”, cavalo portentoso de força e de técnica, tudo mudou com as incríveis sortes frontais, quarteadas mesmo na cara do toiro, proporcionando um frenesi tremendo pela iminência da colhida. Assim cravou os dois últimos ferros e saiu sob uma ovação muito calorosa.

A Francisco Palha coube em sorte os toiros mais difíceis de Murteira Grave, mas, ainda assim, fazendo jus a toda a sua competência e capacidade, não deixou os seus créditos por mãos alheias. Frente ao segundo da tarde, toiro reservado e a buscar amiúde o refúgio nas tábuas, Palha logrou desenhar valorosas sortes bem rematadas com ferros muito emotivos. No quinto da tarde, que não cumpriu o adágio segundo o qual não há quinto mau, Francisco Palha desenvolveu uma lide muito apreciada. Cumpriu nos compridos e, citando de poder a poder, colocou uma série de ferros curtos muito emotivos, embora algo dispersos. Empolgou o público, que muito vibrou com a valentia do marialva.

Para as pegas a estes exigentes toiros de Murteira Grave estavam destacados dois dos mais valorosos grupos da actualidade, ambos fazendo jus aos respectivos historiais. Pelos Amadores de Santarém foram solistas António Queiroz e Melo e Manuel Ribeiro de Almeida, que consumaram as respectivas sortes ao primeiro intento, com muito oportunas e eficazes ajudas. Pelos Amadores de Vila Franca, Guilherme Dotti consumou uma rija pega ao primeiro intento, e Lucas Gonçalves concretizou a sua pega à segunda tentativa, numa sorte muito correcta e valorosa.

José Maria Manzanares é uma grande figura do toureio que se apresentou numa praça onde seu pai havia actuado, com grande sucesso, há trinta e oito anos. Os tempos são outros, e as circunstâncias também, pois seu pai enfrentou toiros de António José Teixeira, sérios e arrobados, enquanto agora vimos uns toiritos de Álvaro Nuñez, que deixaram muito a desejar. Mas, enfim, as regras são assim, manda quem pode…

Frente ao primeiro toiro, escasso de presença e com pouco recorrido, pouco se viu de Manzanares. Com o capote pouco mais que nada, e após o tércio de bandarilhas a cargo da quadrilha, o matador provou o toiro com uns passes de tenteio e aos costumes disse nada. Frente ao segundo, toiro melhor apresentado e mais cumpridor, apreciámos uns lances por verónicas e por chicuelinas e, após o tércio de bandarilhas, pudemos, então, confirmar os atributos que o catapultaram para o plano cimeiro entre os seus pares, embora sem deslumbramentos. Elegante, suave, perfeito, mas tudo com pouca emoção. Uma boa série de derechazos e outra por naturais e ala que se faz tarde. Não esteve mal, mas soube a pouco… No final, deu aplaudida volta à arena rodeado por jovens e crianças que proporcionaram um ambiente de apoteose extraordinário. Imagens finais que ficaram na nossa retina e na nossa memória, mais do que o labor do afamado diestro.

Boa actuação dos subalternos e dos campinos e direcção correcta de Marco Cardoso.

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