De 7 a 16 de Novembro, todos os caminhos vão dar à Golegã. A vila ribatejana volta a transformar-se no centro nevrálgico da cultura equestre, acolhendo a edição de 2025 da Feira Nacional do Cavalo, que é também Feira Internacional do Cavalo Lusitano e Feira de São Martinho, prometendo reafirmar o estatuto da Golegã como capital mundial do cavalo, ponto de encontro de criadores, cavaleiros, tratadores e entusiastas de todo o mundo.

Mais do que um certame, a Feira da Golegã é um ritual de pertença, uma celebração colectiva que mantém viva a alma do Ribatejo. No Largo do Arneiro — epicentro da festa — cruzam-se a ruralidade e a sofisticação, os negócios e o convívio, as montadas de gala e os gestos simples de quem ali regressa todos os anos. A cada edição, a vila renova a sua vocação de santuário equestre, onde o lusitano se exibe com altivez e o público vibra com a beleza e a destreza dos cavaleiros.

Com raízes que remontam ao século XVIII, quando o São Martinho era sinónimo de feira franca e de troca de gado, o evento evoluiu até se tornar uma das mais emblemáticas manifestações culturais do país. Hoje, a Feira Nacional do Cavalo é o espelho da história e da identidade portuguesa: um espaço onde o passado e o presente dialogam em harmonia, projectando o nome da Golegã além-fronteiras.

Programa e destaques da edição de 2025

O programa oficial da Feira Nacional do Cavalo 2025 espelha a vitalidade e a diversidade que caracterizam este certame maior do Ribatejo. De 7 a 16 de Novembro, o Largo do Arneiro e o Centro de Alto Rendimento de Desportos Equestres, conhecido como Hippos Golegã, serão o cenário de competições, demonstrações e momentos de exaltação da arte equestre, num alinhamento que combina tradição, desporto, cultura e emoção.

Logo na manhã de sexta-feira, 7 de Novembro, os primeiros sons de cascos e de vozes ecoarão entre as bancadas, com o Concurso Nacional Especial de Saltos de Obstáculos, uma das provas mais aguardadas e que reúne alguns dos melhores binómios nacionais. No mesmo dia, a Taça de Portugal de Equitação de Trabalho e o Campeonato Nacional de Atrelagem dão início à intensa semana competitiva que marca o arranque do certame. A abertura da exposição “Manuel dos Santos e o São Martinho”, no Museu Manuel dos Santos, e o espectáculo equestre da Charanga e Reprise da Guarda Nacional Republicana completarão o primeiro dia, unindo solenidade, arte e memória.

O fim-de-semana de 8 e 9 de Novembro é dominado pelas grandes provas de resistência e habilidade, com os Concursos de Endurance, a Taça de Portugal de TREC e as várias etapas da Equitação de Trabalho. No domingo, destaque para o Festival Comemorativo do Centenário do Nascimento de Manuel dos Santos (1925-2025), um momento de tributo a uma das figuras lendárias da tauromaquia nacional. O festival reunirá cavaleiros e matadores de renome, como Manuel Telles Bastos, Paco Velasquez, Francisco Palha, Vasco Veiga, Sebastián Fernández e Alejandro Hank Amaya, contando ainda com a participação dos grupos de forcados amadores de Tomar, São Manços e Chamusca.

Ao longo da semana, o programa alterna entre provas técnicas, actividades científicas e homenagens. No dia 10, véspera de São Martinho, realiza-se a Aula Conjunta do Projecto Cavalos Lusitanos Novos no Ensino, sob a orientação dos treinadores Miguel Ralão e Daniel Pinto, no Picadeiro da Lusitanus, e, à tarde, será apresentada a candidatura da Feira da Golegã ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, um marco simbólico que pretende consagrar o evento como herança viva da tradição portuguesa.

O Dia de São Martinho, 11 de Novembro, é o ponto alto da feira e mantém o cunho de devoção e festa popular. Logo pela manhã, os Romeiros de São Martinho partem em cortejo desde a Porta de Fernão Lourenço em direcção à Igreja Matriz, onde recebem a bênção antes de regressarem ao Arneiro. A manhã culmina com o Desfile de Amazonas, que enche as ruas de elegância e cor, num dos momentos mais emblemáticos do certame.

Nos dias seguintes, sucedem-se as provas de Dressage, a Equitação à Portuguesa, as Apresentações de Atrelagens de Época e a disputa do prestigiado Troféu Marquês de Marialva, uma das competições mais nobres do calendário equestre. No dia 13, realiza-se ainda o LXV Concurso Nacional de Apresentação do Cavalo de Sela da Feira Nacional do Cavalo e o XXVI Concurso Nacional de Apresentação do Cavalo de Sela da Feira Internacional do Cavalo Lusitano, que reúnem criadores e exemplares de excelência, reconhecendo o trabalho de gerações dedicadas à selecção e aperfeiçoamento do cavalo lusitano.

A par das provas desportivas, decorrem também iniciativas de carácter académico e cultural, como a aula aberta do Mestrado em Ciências Equinas da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, dedicada ao tema “Genética e Melhoramento”, e as várias homenagens a personalidades ligadas à tradição equestre, como D. José Gayan Pacheco, distinguido como Presidente de Honra do Concurso Nacional de Apresentação do Cavalo de Sela.

Na sexta-feira, 14 de Novembro, a programação volta a conjugar competição e cultura, com a apresentação dos livros “Manuel dos Santos – O Homem e o Toureiro” e “Manuel dos Santos – Herói das Arenas”, no Palco Tradição, e com o Arneiro da Tauromaquia, onde será atribuído o Prémio Carlos Relvas – Distinção de Carreira Tauromáquica, numa homenagem ao cavaleiro Luís Miguel da Veiga pelos 59 anos de alternativa.

O penúltimo dia, 15 de Novembro, será marcado pela Final do Campeonato Nacional de Equitação de Trabalho, pelas últimas provas do Campeonato Nacional de Combinado de Maratona, e pela cerimónia dos Prémios Golegã 2025, que distinguem a excelência equestre. À noite, o público poderá assistir ao espectáculo de Miguel Fonseca, referência internacional da arte equestre portuguesa.

O encerramento, no domingo, 16 de Novembro, reserva as últimas provas de maneabilidade e velocidade do Campeonato Nacional de Equitação de Trabalho, encerrando com brilho uma edição que se anuncia memorável pela qualidade, diversidade e fidelidade à tradição.

Homenagens e dimensão cultural: Manuel dos Santos, Nuno de Oliveira e o Património Imaterial

A edição de 2025 da Feira Nacional do Cavalo será também um espaço de celebração da memória e do legado das grandes figuras que moldaram a cultura equestre e tauromáquica portuguesa. Entre elas, destaca-se Manuel dos Santos, o mítico cavaleiro natural da Golegã, cujo centenário do nascimento é assinalado este ano com várias iniciativas que evocam a sua vida e percurso artístico.

No domingo, 9 de Novembro, o Festival Comemorativo do Centenário do Nascimento de Manuel dos Santos (1925-2025) reunirá cavaleiros e matadores de diferentes gerações num espetáculo que alia respeito, bravura e arte. Manuel Telles Bastos, Paco Velasquez, Francisco Palha, Vasco Veiga, Sebastián Fernández e Alejandro Hank Amaya subirão à arena, acompanhados pelos grupos de forcados amadores de Tomar, São Manços e Chamusca, numa homenagem que transcende o tempo e reafirma o papel central da Golegã na história da tauromaquia nacional.

A homenagem prolonga-se ainda através da exposição temporária “Manuel dos Santos e o São Martinho”, patente no Museu Manuel dos Santos, e da apresentação dos livros “Manuel dos Santos – O Homem e o Toureiro” e “Manuel dos Santos – Herói das Arenas”, que revisitam, com olhar biográfico e histórico, a trajectória de um homem cuja figura se confundiu com a da própria feira. O nome de Manuel dos Santos permanece assim indissociável da Golegã, símbolo maior de uma tradição que combina elegância, mestria e paixão.

Outra das homenagens marcantes desta edição será a Gala Equestre dedicada a Mestre Nuno de Oliveira, que terá lugar na noite de 13 de Novembro, no Largo do Arneiro. A cerimónia, promovida pela Escola Portuguesa de Arte Equestre e pelo Centro Equestre da Lezíria Grande, apresentará um novo troféu em sua honra e reunirá cavaleiros e amazonas que seguem a escola clássica fundada por aquele que é considerado o maior embaixador da equitação portuguesa no século XX. Nuno de Oliveira, cuja influência ultrapassou fronteiras, é recordado como o mestre que elevou o cavalo lusitano à categoria de arte universal.

Mas a dimensão cultural da Feira da Golegã em 2025 não se esgota nas homenagens individuais. Um dos momentos mais simbólicos do certame será a apresentação oficial da candidatura da Feira da Golegã ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, agendada para 10 de Novembro. O acto, que decorrerá no Largo do Arneiro, pretende reconhecer formalmente a importância histórica e social da feira, que há séculos constitui um espaço de partilha de saberes e tradições, unindo gerações e comunidades em torno do cavalo e da cultura ribatejana.

A candidatura, que conta com o apoio do Município da Golegã e de diversas entidades do sector equestre, sublinha a relevância deste evento como expressão viva de uma identidade colectiva. A feira é, há muito, mais do que um ponto de encontro anual: é um património em movimento, uma celebração que atravessa o tempo sem perder autenticidade. Reconhecê-la como bem imaterial é, como referem os promotores, “preservar a alma de um povo que se revê no ritmo dos cascos, na elegância das montadas e no perfume do feno e da terra molhada”.

Entre a arte equestre, a tauromaquia e o património, a Feira Nacional do Cavalo 2025 assume-se, assim, como um território simbólico onde passado e presente se cruzam, projectando no futuro a memória viva da cultura portuguesa.

O Dia de São Martinho e a vivência popular da feira

O Dia de São Martinho, celebrado a 11 de Novembro, é o momento mais simbólico e identitário da Feira Nacional do Cavalo. É nele que a Golegã atinge o seu ponto de fervor máximo, quando as ruas se enchem de cavaleiros, campinos, visitantes e romeiros que acorrem à vila vindos de todo o país — e também do estrangeiro — para participar num dos mais antigos rituais de comunhão popular que subsistem em Portugal.

Desde as primeiras horas da manhã, o som dos cascos mistura-se com o pregão dos vendedores de castanhas e com o tilintar dos copos que anunciam a água-pé. A partida do Cortejo dos Romeiros de São Martinho, pela Porta de Fernão Lourenço, marca o início das celebrações. Montados em belos exemplares lusitanos, trajados a rigor e empunhando as bandeiras que identificam as suas comitivas, os romeiros avançam em direcção à Igreja Matriz, onde recebem a tradicional bênção, antes de regressarem ao Largo do Arneiro. A devoção e a festa fundem-se num mesmo gesto, perpetuando um costume que há muito transcendeu as fronteiras do religioso para se tornar símbolo de identidade colectiva.

O Desfile de Amazonas, previsto para o início da tarde, acrescenta à celebração um toque de elegância e cor. Jovens cavaleiras, vestidas com trajes tradicionais e chapéus de abas largas, percorrem o Arneiro num dos quadros mais belos e fotogénicos da feira, evocando a harmonia entre o cavalo e a figura feminina. Este desfile é, ano após ano, um dos momentos mais aguardados pelos visitantes, não apenas pela beleza estética, mas pela graciosidade e destreza das participantes, que mantêm viva uma tradição profundamente enraizada no imaginário ribatejano.

Ao longo do dia, a vila transforma-se num imenso convívio a céu aberto. Nas ruas e praças, os cheiros a castanha assada e a vinho novo misturam-se com as conversas animadas de quem reencontra amigos e partilha memórias. Os restaurantes, tasquinhas e adegas improvisadas enchem-se de gente que celebra à mesa a chegada do São Martinho e o encerramento das colheitas, num ritual que atravessa gerações. A cada esquina, o ambiente de festa é reforçado pela música popular, pelos pregões e pelo colorido das montadas, que fazem da vila um verdadeiro palco vivo da portugalidade.

Para os goleganenses, o Dia de São Martinho é um acto de pertença: é o reencontro com as suas origens, o tempo em que a vila se abre ao mundo e o mundo se reconhece nela. Como recordam os mais antigos, a feira nasceu da necessidade de vender e trocar gado, mas tornou-se um ponto de convergência cultural onde se celebra a amizade, o trabalho e o amor pelo cavalo. O velho adágio popular “Pelo São Martinho prova o vinho” ganha aqui expressão literal, num cenário em que tradição e convivialidade se confundem, e onde cada gesto parece ecoar a memória das gerações que fizeram da Golegã um lugar único no país.

Mais do que uma data no calendário, o São Martinho da Golegã é uma experiência sensorial e emocional que une o sagrado e o profano, a festa e a devoção, a tradição e a modernidade. É a alma do Ribatejo condensada num dia — o dia em que o cavalo e o povo se tornam indissociáveis, e a vila reafirma, uma vez mais, o seu título de Capital do Cavalo.

Tradição, modernidade e legado da Feira Nacional do Cavalo

A Feira Nacional do Cavalo é, há muito, um lugar onde o tempo se suspende. Cada edição reafirma o mesmo fascínio: o da tradição que resiste e se reinventa, o da arte que persiste na elegância dos gestos, o da comunidade que encontra, ano após ano, na Golegã, o seu ponto de convergência. Quando o último trote se ouve e o pó assenta no Largo do Arneiro, fica a certeza de que, mais do que um evento, esta feira é um modo de vida, uma herança colectiva que atravessa séculos e fronteiras.

A edição de 2025 volta a demonstrar que a Golegã soube preservar o equilíbrio entre o passado e o presente. As provas de equitação de trabalho e de dressage coexistem com as homenagens a mestres como Nuno de Oliveira e Manuel dos Santos; as aulas abertas e as conferências sobre genética e melhoramento do cavalo convivem com as tradições populares e a fé dos romeiros de São Martinho. O que poderia parecer contraste é, afinal, o segredo do seu encanto: a coexistência entre o rigor técnico e a emoção popular, entre o património e a inovação, entre o sagrado e o festivo.

A Gala Equestre em homenagem a Nuno de Oliveira, realizada a 13 de Novembro, simboliza bem essa harmonia. Ao mesmo tempo que celebra o legado do mestre da arte equestre portuguesa, projecta a Feira da Golegã para o futuro, reafirmando-a como espaço de excelência formativa e de difusão internacional da equitação lusitana. A candidatura ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, apresentada oficialmente nesta edição, reforça essa dimensão simbólica, pretendendo garantir que esta tradição, viva e em constante mutação, seja preservada e reconhecida como bem cultural de valor universal.

O encerramento oficial da feira, no domingo, 16 de Novembro, é marcado pelas derradeiras provas do Campeonato Nacional de Equitação de Trabalho, nas variantes de maneabilidade e velocidade. Ao cair da tarde, quando o público se despede e os últimos cavaleiros recolhem as montadas, a vila volta lentamente ao seu silêncio habitual — um silêncio apenas aparente, porque a memória do que ali se viveu continua a ecoar.

Para os que a visitam pela primeira vez, a Feira da Golegã é uma descoberta: o encontro entre o cavalo e a alma ribatejana, entre o saber antigo e a energia contemporânea. Para os que nela regressam, é um reencontro — com os amigos, com as tradições, com a própria identidade. É essa continuidade que faz da Feira Nacional do Cavalo uma instituição maior do país e um símbolo da persistência cultural portuguesa.

De 7 a 16 de Novembro, a Golegã volta, assim, a cumprir o seu destino. E quando a última noite se encerra, permanece no ar o mesmo sentimento que atravessa gerações: o de que, enquanto houver cavalo, haverá Golegã — e enquanto houver Golegã, continuará a existir o coração da festa, onde o Ribatejo se revê e o mundo inteiro reconhece Portugal.

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