De 21 a 25 de Fevereiro, Amiais de Baixo volta a afirmar-se como um dos grandes palcos festivos do Ribatejo, acolhendo milhares de visitantes para mais uma edição das suas tradicionais festas. Durante cinco dias, a freguesia viverá ao ritmo da música, da devoção religiosa e do espírito comunitário, num evento que une gerações e preserva costumes ancestrais. O cartaz deste ano promete manter a fasquia elevada, trazendo a Amiais de Baixo nomes de destaque da música portuguesa, como David Carreira, Bárbara Tinoco, Carolina de Deus e Jorge Guerreiro. Para além da animação musical, a festa tem um forte pendor religioso, destacando-se a icónica Procissão de Archotes, uma manifestação de fé que há mais de uma década colocou a vila no Guinness Book of Records.

Mas as festas são apenas um dos grandes temas que marcam a actualidade da freguesia. Em entrevista ao Correio do Ribatejo, Duarte Neto, presidente da Junta de Freguesia de Amiais de Baixo, fala sobre os desafios da organização deste evento, o impacto da festividade na economia local e os projectos que estão a transformar a freguesia. Além disso, revela a sua intenção de se recandidatar a mais um mandato, reafirmando o compromisso com o desenvolvimento da terra e o bem-estar da população.

O que é que considera que faz desta edição de 2025 uma celebração especial em relação aos anos anteriores? Quais são as grandes novidades ou as grandes atracções?

A grande singularidade das Festas de Amiais de Baixo não reside apenas nos nomes sonantes do cartaz musical, mas sobretudo na mobilização geral da vila em torno de um evento que é, antes de mais, um ponto de encontro da nossa comunidade. Independentemente das diferenças que possam existir entre uma edição e outra, a essência desta celebração permanece inalterada, e isso é um dos seus aspectos mais marcantes. A tradição de acolher os visitantes, de abrir as nossas portas e de proporcionar um ambiente de partilha é, sem dúvida, um traço distintivo destas festas. Esta é uma altura em que todos se unem com um objectivo comum, fazendo da festa algo verdadeiramente memorável para quem cá vive e para quem nos visita.

Se há um aspecto que podemos destacar como novidade este ano é precisamente a tentativa de equilibrar um cartaz que, respeitando a tradição, traga também nomes novos que não tenham ainda passado por Amiais de Baixo. Ao longo dos anos, temos recebido praticamente todos os artistas de renome da música portuguesa, o que nos coloca agora perante o desafio de evitar repetições e continuar a oferecer um programa apelativo. Este ano conseguimos reunir um grupo de artistas mais contemporâneos, que nunca se apresentaram na nossa vila, e acreditamos que essa escolha vai ao encontro dos gostos do público que nos visita.

Qual é o critério da Comissão Organizadora na escolha destes artistas e como é que isso também reflecte a identidade destas festas?

O critério principal assenta, inevitavelmente, no orçamento disponível para cada edição. E essa disponibilidade financeira é definida logo de início, na constituição da Comissão de Festas, porque depende essencialmente da capacidade de mobilização dos festeiros.

Em Amiais de Baixo, temos um sistema muito particular de financiamento das festas: os festeiros são responsáveis pela venda de rifas, que constituem uma parte significativa do investimento inicial. Quanto maior for o número de festeiros e maior for a adesão da comunidade, mais forte é a base financeira com que se pode contar para definir o programa e contratar os artistas. Isto significa que, de ano para ano, há oscilações na capacidade orçamental e, consequentemente, na selecção dos espectáculos musicais.

Existe também uma espécie de “competitividade” entre as diferentes Comissões de Festas: ninguém quer ficar aquém da edição anterior. Todos querem fazer melhor e trazer artistas que sejam, no mínimo, tão bons ou ainda melhores que os do ano passado. Esta exigência tem levado a que, ao longo dos anos, tenhamos conseguido trazer praticamente todos os grandes nomes da música portuguesa ao nosso palco. A dificuldade agora é encontrar artistas que ainda não tenham actuado em Amiais de Baixo e que estejam dentro das possibilidades financeiras de cada edição. Mas é um desafio saudável, que reflecte o empenho e a paixão com que esta vila vive a sua festa.

Para si, isso representa um traço identitário destas próprias festas, não é assim? Porque é uma vila relativamente pequena, mas consegue atrair nomes sonantes….

Sem dúvida. Aliás, um dos maiores orgulhos das Festas de Amiais de Baixo é precisamente essa capacidade de atrair artistas de topo, apesar de sermos uma vila pequena. Conseguimos criar uma dinâmica e um envolvimento comunitário que garantem que a festa não é apenas um evento local, mas sim uma referência regional e, até, nacional.

O segredo deste sucesso passa muito pelo compromisso da população. Há uma competição interna saudável, no bom sentido do termo, em que cada nova Comissão de Festas procura superar a anterior. Isto cria um ciclo de melhoria contínua, em que o padrão de qualidade se mantém elevado. Os festeiros, ao longo do ano, trabalham incansavelmente para garantir que, quando chega o momento da festa, tudo esteja organizado da melhor forma possível.

Não se trata apenas de contratar bons artistas; é também todo o ambiente que se cria em torno da festa. O espírito de acolhimento, a hospitalidade das nossas gentes, a tradição de receber bem os visitantes, tudo isso faz parte do que torna estas festas especiais. Há quem regresse a Amiais todos os anos por saber que aqui vai encontrar um ambiente único.

A identidade das nossas festas é essa mistura de tradição, modernidade e espírito comunitário. Enquanto conseguirmos manter este equilíbrio, as Festas de Amiais de Baixo continuarão a ser uma referência na região.

A parte religiosa continua a ser um pilar essencial das Festas de Amiais de Baixo. Como é que a Junta de Freguesia trabalha para preservar esta tradição e conciliá-la com a modernidade dos espectáculos actuais?

A dimensão religiosa das festas é inquestionável e tem sido cuidadosamente preservada ao longo das décadas. As procissões, os momentos de culto e as expressões de devoção fazem parte da matriz cultural da nossa vila e representam a ligação das nossas gentes às suas raízes. A Junta de Freguesia tem tido um papel fundamental na manutenção deste equilíbrio, garantindo que a evolução das festas não coloque em causa o seu carácter religioso.

Outro aspecto essencial é a forma como a comunidade se mobiliza para manter estas tradições vivas. Todos sentem que fazem parte deste património cultural e espiritual, e é essa envolvência que permite manter um respeito profundo por esta componente religiosa enquanto se integra harmoniosamente com os momentos de celebração profana.

Amiais de Baixo é conhecida pelo seu forte espírito comunitário. De que forma esse sentimento de união se manifesta não só durante as festas, mas também noutras iniciativas ao longo do ano?

O espírito comunitário que caracteriza Amiais de Baixo é um dos seus maiores trunfos. Durante as festas, é fácil perceber essa união, com centenas de voluntários envolvidos na organização e logística do evento. Mas este sentimento de entreajuda não se esgota nos dias de festa: é algo que se sente ao longo de todo o ano.

A qualquer momento, se surgir uma necessidade ou um projecto que beneficie a comunidade, há sempre uma mobilização espontânea para resolver a situação. Basta um apelo da Junta de Freguesia ou de qualquer outra instituição local para que surjam voluntários dispostos a contribuir com o seu tempo e esforço. Há um grande orgulho na vila, e isso traduz-se numa disponibilidade constante para ajudar.

Além das festas anuais, há várias actividades que reforçam este espírito de proximidade. Desde eventos culturais e desportivos até iniciativas solidárias e melhorias na infra-estrutura local, a população está sempre envolvida. O Festival da Carne de Capado, por exemplo, tem sido um sucesso precisamente porque reúne as associações locais em torno de um objectivo comum: divulgar a gastronomia da região e dinamizar a economia local. A cada edição, há mais participantes e mais visitantes, o que mostra o empenho e o sentido de pertença das nossas gentes.

A realização de um evento desta dimensão representa um grande desafio logístico. Quais são as principais preocupações da Junta de Freguesia em termos de segurança e infra-estruturas para acolher milhares de visitantes?

As Festas de Amiais de Baixo atraem milhares de pessoas, e isso exige um planeamento meticuloso para garantir que tudo decorre de forma segura e organizada. A Junta de Freguesia, em articulação com as autoridades locais e os serviços de protecção civil, trabalha ao longo de vários meses para garantir que todas as necessidades logísticas são acauteladas.

A segurança é uma das nossas principais preocupações. Desde a gestão do tráfego à presença de forças de segurança, passando pela implementação de medidas de emergência, tudo é planeado para minimizar riscos. Além disso, há um grande esforço para garantir que as infra-estruturas, como iluminação, abastecimento de água e limpeza urbana, estejam preparadas para o aumento significativo de visitantes.

Quais são os principais projectos em curso na freguesia e como é que podem impactar a vida dos habitantes?

A Junta de Freguesia tem procurado desenvolver projectos estruturantes que melhorem a qualidade de vida da população e garantam um crescimento sustentável da vila. Um dos maiores investimentos que estamos a fazer é na requalificação das infra-estruturas locais, como pavimentação de estradas, ampliação de zonas verdes e recuperação de edifícios históricos.

Além disso, a aposta na criação de um Pavilhão Multiusos tem sido um dos nossos grandes objectivos. Trata-se de um equipamento essencial para a freguesia, que permitirá acolher eventos culturais, desportivos e comunitários, tornando-se um espaço de referência para toda a região. Acreditamos que este projecto trará um impacto positivo, fomentando o associativismo e promovendo um maior dinamismo na vila.

Outro projecto relevante é a modernização do Centro de Saúde, garantindo melhores condições para os utentes e profissionais. Estamos empenhados em dotar a freguesia dos melhores serviços, para que todos os habitantes possam usufruir de cuidados de saúde de qualidade, sem necessidade de deslocações longas.

A par disso, estamos a estudar soluções para o problema da habitação, nomeadamente através da criação de incentivos para a recuperação de imóveis devolutos, promovendo assim a fixação de jovens casais e o crescimento sustentável da freguesia.

O que é que a Junta de Freguesia tem feito para atrair investimento e impulsionar a economia local?

A Junta de Freguesia tem desempenhado um papel activo na criação de condições favoráveis para o desenvolvimento económico da nossa vila. Procuramos estabelecer parcerias estratégicas com empresas e instituições que possam trazer valor acrescentado a Amiais de Baixo. Um dos nossos grandes desafios tem sido atrair investimento e incentivar a fixação de novos negócios. Para isso, temos apostado em melhorar as infra-estruturas existentes.

A criação do Pavilhão Multiusos, por exemplo, representaria um passo importante nesse sentido, pois permitiria acolher eventos que dinamizam a economia local e geram oportunidades de negócio para várias áreas. Além disso, estamos a estudar a viabilidade de criar uma zona empresarial que possa atrair pequenas e médias empresas, reforçando a criação de emprego e estimulando o crescimento económico da freguesia.

Como é que a Junta de Freguesia tem lidado com os desafios da fixação de população jovem e do envelhecimento demográfico?

A fixação de população jovem é um dos maiores desafios que enfrentamos, tal como acontece noutras freguesias do interior. Temos consciência de que é essencial criar condições para que os jovens possam viver e trabalhar na sua terra natal. 

O nosso objectivo é fazer com que Amiais de Baixo se torne um local cada vez mais atractivo para quem procura qualidade de vida e oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional.

No que diz respeito à população sénior, temos procurado criar respostas sociais eficazes, garantindo que os mais velhos tenham acesso a serviços de saúde. O Centro de Saúde e a implementação de programas de acompanhamento para idosos são algumas das medidas que temos vindo a desenvolver para garantir uma melhor qualidade de vida a esta faixa etária.

Os nossos planos futuros passam por continuar a apostar na melhoria das infra-estruturas, na criação de novas oportunidades económicas e na valorização da identidade cultural da freguesia. Queremos continuar a trabalhar para que Amiais de Baixo seja uma vila dinâmica, com uma economia local forte e uma comunidade coesa.

A modernização da freguesia não pode ser feita sem ouvir os seus habitantes, e é por isso que pretendemos continuar a promover a participação da comunidade no planeamento e execução das nossas políticas. O nosso compromisso é continuar a trabalhar com determinação para garantir um futuro próspero e equilibrado para Amiais de Baixo.

Que papel desempenham as associações locais no desenvolvimento da freguesia e na dinamização da comunidade?

As associações locais desempenham um papel essencial na coesão social e na dinamização da freguesia. São verdadeiros pilares da nossa comunidade, responsáveis por promover actividades culturais, desportivas e sociais que contribuem para a qualidade de vida da população. A Junta de Freguesia tem procurado apoiar estas entidades, disponibilizando recursos e incentivando a colaboração entre diferentes associações para que possam desenvolver projectos sustentáveis e de interesse comum.

Desde grupos culturais e desportivos até associações de solidariedade social, cada uma delas tem uma função específica e um impacto relevante no dia-a-dia dos habitantes. São também um reflexo do espírito comunitário que caracteriza Amiais de Baixo, promovendo iniciativas que reforçam a identidade local e o sentido de pertença. Acreditamos que investir nestas organizações é investir na vitalidade da freguesia e no bem-estar dos seus habitantes.

Como tem sido a relação da Junta de Freguesia com a Câmara Municipal?

A relação com a Câmara Municipal de Santarém tem sido de grande proximidade e cooperação. Sem esse apoio, muitos dos projectos estruturantes que temos em curso não seriam viáveis. A articulação entre a Junta de Freguesia e a Câmara tem sido fundamental para garantir investimentos na nossa terra, desde a requalificação de infra-estruturas até ao apoio a iniciativas culturais e sociais.

Além da Câmara Municipal, mantemos um diálogo permanente com outras entidades governamentais, procurando garantir que Amiais de Baixo tenha acesso a programas e fundos que possam impulsionar o seu desenvolvimento. A nossa missão é defender os interesses da população e assegurar que os recursos disponíveis são aplicados de forma eficaz, garantindo melhorias contínuas na vida da freguesia.

Que desafios enfrenta a Junta de Freguesia e como planeia superá-los?

Os desafios que enfrentamos são diversos e complexos. Um dos principais é a necessidade de continuar a modernizar infra-estruturas sem comprometer a estabilidade financeira da freguesia. Temos vindo a gerir os recursos com rigor, garantindo que cada investimento seja sustentável e traga benefícios reais para a população.

O que significa para si ser Presidente da Junta de Freguesia de Amiais de Baixo?

Ser Presidente da Junta de Freguesia de Amiais de Baixo é, antes de mais, um enorme orgulho e uma grande responsabilidade. A freguesia é a minha casa, e servir a comunidade é um privilégio que encaro com total dedicação. Este cargo exige um compromisso diário, uma entrega total às necessidades das pessoas e um esforço constante para encontrar soluções que melhorem a vida da nossa população.

É um trabalho que envolve muitas horas, muitas decisões e, por vezes, sacrifícios pessoais. Mas ver o progresso da freguesia e sentir o reconhecimento da população é uma recompensa inestimável. A proximidade com os cidadãos permite-nos perceber de forma imediata os problemas e agir com rapidez para os resolver.

Acredito que liderar uma freguesia como a nossa implica ser um facilitador de diálogo e um dinamizador de projectos. A nossa equipa trabalha diariamente para que Amiais de Baixo continue a crescer e a afirmar-se como um exemplo de comunidade coesa e progressista.

Vai recandidatar-se a um novo mandato?

Sim, tomei a decisão de me recandidatar para mais um mandato. Acredito que ainda há muito trabalho a fazer e que podemos continuar a construir um futuro sólido e sustentável para Amiais de Baixo. Durante os últimos anos, conseguimos concretizar vários projectos estruturantes, mas há ainda desafios que quero ajudar a superar.

A minha candidatura é baseada na continuidade de um trabalho sério e responsável. Queremos consolidar os investimentos já feitos, continuar a melhorar os serviços prestados à população e criar novas oportunidades para o desenvolvimento da freguesia. Tenho a certeza de que, com o apoio da comunidade, conseguiremos alcançar esses objectivos e garantir que Amiais de Baixo se mantenha no caminho do progresso e da inovação.

Que mensagem gostaria de deixar aos habitantes de Amiais de Baixo sobre o futuro da freguesia?

A minha mensagem para os habitantes de Amiais de Baixo é de confiança e compromisso. Tenho plena consciência dos desafios que enfrentamos, mas também acredito firmemente nas potencialidades da nossa freguesia. Com trabalho, dedicação e união, podemos continuar a construir um futuro próspero para todos.

A Junta de Freguesia está empenhada em continuar a trabalhar com transparência e proximidade, ouvindo as necessidades da população e transformando desafios em oportunidades. Contamos com o envolvimento de todos, porque só com a participação activa da comunidade conseguiremos alcançar os nossos objectivos.

Amiais de Baixo é uma terra com história, tradição e um espírito comunitário invejável. O nosso compromisso é garantir que esses valores sejam preservados e que a freguesia continue a crescer de forma equilibrada e sustentável. Juntos, podemos fazer de Amiais de Baixo um local ainda melhor para viver e prosperar.

Filipe Mendes

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