Nélson Ferrão integra a organização do festival desde 2015

O evento procura oferecer uma programação cultural diversificada, através de espetáculos e atividades que decorrem em diferentes espaços da cidade e que se destinam a várias faixas etárias.  

O Festival Internacional de Teatro e Artes para a Infância e Juventude (FITIJ) está de regresso à cidade de Santarém. A 20.ª edição do festival iniciou-se hoje e vai marcar presença na cidade até ao próximo dia cinco de Outubro.

Durante o seu decorrer são várias as atividades e espetáculos que podem ser vistos e experienciados, começando desde logo por uma variedade de iniciativas destinadas aos mais novos, com destaque para ‘Os Artistas vão às Escolas’.

“São outro tipo de qualidade artística que coloca os artistas em contato direto com as escolas, na própria escola e com os alunos”, salienta Nélson Ferrão, dinamizador cultural e um dos membros da organização do evento.

Para além de ‘Os Artistas vão à Escola’, destaque também para a parceria entre o festival e o Teatro Sá da Bandeira, onde as escolas vêm até ao teatro, permitindo que os alunos tenham um maior contacto com este, em contexto de sala de aula.

“Os alunos têm trazido alguma ligação e algumas sinergias que normalmente podem não estar tão desenvolvidas. E é essa busca, essa procura que nós pretendemos com estas duas atividades. A base do festival é esta interação com os jovens e com as crianças”, afirma.

“A arte tem o poder e o dever de humanizar as pessoas”

A peça ‘Depois da Chuva’ foi o espetáculo que abriu a 20.ª edição do festival, no Teatro Sá da Bandeira. Com data de início prevista para as 10h30, o representação teatral teve de ser adiada para as 12h00, devido ao atraso do autocarro de uma turma que veio assistir ao evento.

Entre o compasso de espera que se fez até ao início da nova hora da peça, encontrámos Clara Ribeiro e Hélder Duarte, membros do Teatro e Marionetas de Mandrágora, a ensaiarem por uma última vez os seus gestos e movimentos.

A companhia, que participa pela primeira vez no FITIJ, em Santarém, decidiu trazer um espetáculo que tem como mote a história de uma família, que se encontra num território que está em guerra e faz uma viagem perigosa para chegar a um local seguro.

“O projeto surgiu da vontade de falar sobre este tema e estreou há dois anos e meio. O desafio foi poder falar deste assunto para um público mais jovem e humanizar as pessoas que realmente fazem estas travessias”, explica Clara Ribeiro.

Recorrendo ao uso da imagem, o espetáculo tem como principal objetivo transmitir ao público a mensagem de que fazemos parte de “uma família universal” sendo que, após o seu final, ocorre uma conversa entre os atores e as crianças.

“No final, ao falarmos com os mais jovens, explicamos que nós portugueses também temos a tradição de imigrar, para atingir algo melhor. No fundo, procuramos fazer um paralelo com os imigrantes que chegam ao nosso país”, argumenta.

Apesar da compreensão geral da peça por parte dos mais novos, existe sempre espaço para a subjetividade e interpretações próprias.

“Eles apreendem muito o geral, mas depois é interessante perceber que cada um acaba por tirar uma interpretação muito própria, às vezes fruto da sua imaginação”, refere Hélder Duarte.

clara ribeiro e hélder duarte apresentaram a peça ´depois da chuva’ no teatro sá da bandeira

Espetáculos com tecnicidades e estéticas pouco habituais

Tendo em vista o alcance de diferentes tipos de público, a presente edição vai acolher artistas de diversos países entre os quais: Argentina, Brasil, Espanha, Estónia e França.

“São artistas de várias especialidades, de vários horizontes, de vários países e que em Santarém se juntam uns com os outros”, assinala Nélson Ferrão.

Para além do Teatro Sá da Bandeira e do Teatro Taborda, o festival vai marcar presença em outros espaços da cidade como o Centro Comercial W Shopping e o Mercado Municipal, através de espetáculos com tecnicidades e estéticas pouco habituais.

Destaque para a dança vertical (sexta-feira/22h15), da autoria do grupo espanhol Subcielo, que terá lugar numa parede do W Shooping, para o espetáculo de marionetas (sexta-feira/21h15), no Teatro Sá da Bandeira, protagonizado pelo grupo Rouxa Cia, o mastro chinês (domingo/15h30), do artista João Paulo Santos e que terá lugar no Mercado Municipal, e a street performance (sábado/16h45), levada a cabo por Anna Krazy, natural da Estónia, também no Mercado Municipal.

“São propostas diferenciadas que apostámos neste ano, para que as famílias possam continuar a ter alguma diversidade de oferta e um outro olhar para aquilo que é apresentado por estas propostas estéticas, que são muito diferentes daquilo que usualmente vem a Santarém”, admite.

Reconhecendo a atividade cultural “relevante e intensa” de Santarém, Nélson Ferrão considera que tem havido algum acompanhamento por parte das entidades públicas, para que os agentes culturais “possam fazer o seu trabalho”.

O dinamizador cultural destaca a contribuição do festival para a promoção dos artistas locais, mencionando o espetáculo de teatro ‘Olha Olha!’ (domingo/17h00), desenvolvido pela Academia de Teatro do Circulo Cultural Scalabitano e que encerra o evento.

ensaio da peça ‘depois da chuva’

Um festival que procura valorizar o legado do seu criador

A presente edição do FITIJ assinala 20 anos de existência do festival, que remonta ao ano de 1993, quando foi fundado por Carlos Oliveira, mais conhecido por “Chona”.

No quarto ano de ausência do seu criador, o FITIJ irá apresentar novamente uma exposição, presente no segundo piso do W Shopping, em que dá conta de uma vertente existente na vida de Carlos Oliveira, “a de tentar rasgar sempre um sorriso de quem lhe estava próximo”.

Na presente exposição vai existir ainda a possibilidade de as crianças colocarem os seus “rabiscos” numa máscara moldada.

“É a criatividade da criança, perante aquele objeto branco, que faz a sua imaginação fluir. Rabiscar naquela imagem representa, no nosso entender, o contributo do Chona para a alegria e a satisfação das crianças”, evoca.

Durante caminho que foi trilhando, o evento alternou com outras atividades anuais, como a Bienal dos Palhaços, e sofreu um interregno após 2010, devido a dificuldades resultantes do período da Troika.

“De ano para ano, não sabemos com o que podemos contar. Só com os apoios das entidades é que conseguimos montar todo este puzzle de oferta cultural que acontece”, expõe.

Apesar dos obstáculos enfrentados, Nélson Ferrão relembra a capacidade do festival em alargar os seus “horizontes territoriais”, com a presença em concelhos vizinhos, como é o caso de Almeirim nesta 20.ª edição.

Ligado desde 2015 à organização do festival, o dinamizador cultural espera que a presente edição seja compreendida e alvo de interesse por parte da população escalabitana.

“A expectativa é que as pessoas possam usufruir do FITIJ, que as nossas propostas possam ser confirmadas pela sua presença e esperamos que isso possa acontecer mais uma vez este ano”, manifesta.

O FITIJ é organizado pela Associação Cultural FITIJ, pela Câmara Municipal de Santarém e pela Fundação INATEL, e conta com o apoio do Centro Comercial W Shopping e a empresa Viver Santarém.

Consulte o cartaz do evento aqui:

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