Jorge Ribeiro – ‘Bacalhau’ – soma quase sete décadas dedicadas ao Grupo Académico de Danças Ribatejanas. A dedicação de uma vida inteira que começou aos nove anos de idade e que o Grupo vai reconhecer, já em Setembro, distinguindo-o como Sócio Honorário.

Ao ‘Correio do Ribatejo’ conta a história de uma paixão que o acompanha desde a infância e a importância de se manter viva a tradição.

Com 68 anos dedicados ao folclore, nomeadamente ao Grupo Académico de Santarém. Como surgiu esse interesse? 

Havia lá um menino, o Jorge Graça, que andava comigo na escola, em São Bento, e ele convidou-me. Comecei a ir aos ensaios e acabei por ficar. Tinha bom ouvido, tinha jeito para aquilo e fiquei. Depois só parei quando fui fazer o serviço militar. Na altura éramos cinco quadras de meninos [dez meninas e dez meninos] que moravam ali junto à casa do Senhor Graça [Celestino Graça]. Posteriormente, juntou-se o músico Miguel Cotrim, em 1956. A partir de 1958 já entrou o Sr. Bertino Coelho Martins com clarinete, a Dona Ivone com o acordeão, a Neves na bilha, e depois temos uma longa história de viagens, de êxitos, enquanto grupo infantil e, mais tarde, Grupo Académico. 

Este ano o Grupo Académico vai distingui-lo com o título de Sócio Honorário. O que é que pensa desse reconhecimento? 

Eu penso que é um reconhecimento justo porque estou lá desde criança. Fiz sempre a minha vida dançando nos grupos com uma dedicação total, independentemente de muitas propostas para ir para vários grupos, tanto a dançar e até a tocar ‘caninhas’, mas eu sempre fui fiel aos grupos e é ali que eu estou e é ali que eu hei de acabar. 

Integra hoje a tocata do Grupo onde toca ‘cana’. Porquê esse instrumento e quais as suas particularidades?

É um instrumento chamado de percussão. Tem de se ter muito ouvido para a música. Um indivíduo que não tenha ouvido tem muita dificuldade em tocar ‘caninhas’, como tocar bilha ou ferrinhos. O acordeão aprende-se, é ensinado às pessoas. Eu ia dançando e de vez em quando tocava ‘caninhas’. As pessoas aperceberam-se que eu tinha jeito para aquilo e então fui logo com as caninhas, porque quase não havia esse instrumento nos espaços onde nós dançávamos. Então fiquei por esse, mas, se for preciso, toco bilha e toco ferrinhos.

O que é para si fazer parte da ‘família’ do Festival Celestino Graça?

O Festival Celestino Graça, aqui no nosso distrito, presentemente, é o principal. A nível nacional já o foi. Hoje talvez esteja entre os quatro melhores organizadores de festivais. Está integrado entre os melhores festivais do país e isso obriga-nos, a nós todos, componentes do Grupo e até familiares, a ajudar nas montagens e desmontagens e a colaborar na organização. 

Todos colaboram porque a logística é grande. Uns ficam com a responsabilidade das dormidas, outros ficam com a responsabilidade das alimentações, outros com as viagens e é tudo um corpo organizativo composto por dezenas de voluntários a comandarem as operações da organização do festival. 

Como vê a ligação entre o folclore e a cultura? Sente que o folclore é “esquecido” muitas vezes no mundo da cultura? 

O folclore às vezes é um parente pobre da cultura e as pessoas olham pouco para ele, mas nem em todos os lugares é assim. No entanto, independentemente das formas, o folclore vai resistindo sempre, com mais dificuldades ou com menos. Vamos ultrapassando determinadas situações e cada grupo tem a sua maneira de se organizar. Na maior parte das vezes consegue-se ultrapassar aquela sensação de se ser esquecido enquanto expressão cultural, apesar de haver sempre quem não dê ouvidos ao que é o folclore. 

De ano para ano vamos sempre tentando fazer melhor. O folclore não parou no tempo. Há festivais onde o Grupo Académico vai há muitos anos e quando lá voltamos reparamos que há sempre melhorias nos mesmos. 

Que mensagem deixa às novas gerações para que o gosto pelo folclore e pelas tradições tenham continuidade?

Quem tiver crianças, filhos, netos que gostem, apareçam no local onde nós ensaiamos [sede do Grupo Académico, no Campo Emílio Infante da Câmara, em Santarém]. Só peço que as pessoas levem as meninas e os meninos até lá, a partir das 17h00, sempre aos sábados.

Lá nos encontraremos para verificar a aptidão dos meninos e das meninas para a dança e para a música. O que mais custa é aparecer…

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