A marchadora de Rio Maior, Inês Henriques assegura que ainda vai tentar lutar pela introdução dos 50 quilómetros de marcha femininos nos Jogos Olímpicos Tóquio2020, adiados por um ano devido à pandemia de covid-19. Apesar do adiamento dos Jogos, e face à decisão de Fevereiro último do Tribunal Arbitral do Desporto (TAS), a atleta não espera facilidades, mas reitera a ambição de estar nos Jogos.
“Eu quero estar nos meus quartos Jogos Olímpicos, se não for nos 50, será nos 20 quilómetros. Neste momento, estamos a uma grande distância dos Jogos e, tendo em conta a minha idade, vou trabalhar diariamente e, na altura, definir os objectivos”, frisou a atleta em entrevista ao Correio do Ribatejo.
O reagendamento de Tóquio2020 para o período entre 23 de Julho e 08 de Agosto de 2021 vai permitir, além da possível ‘batalha’ pela introdução da distância maior no programa de atletismo feminino dos Jogos, uma preparação mais atempada da marchadora.
Inês Henriques já esteve presente em três edições de Jogos Olímpicos, tendo como melhor resultado o 12.º lugar no Rio2016, depois de ter sido 15.ª em Londres2012 e 25.ª em Atenas2004, sempre nos 20 quilómetros marcha.
Como foi o seu começo na marcha?
A minha irmã foi convidada pelo professor de educação física, filho de Jorge Miguel, para ir correr a uma prova do torneiro de freguesias, que era em São Sebastião, a nossa freguesia e eu fui com ela. Posteriormente, começamos a treinar três vezes por semana e como existia um grupo grande de atletas a marchar, eu experimentei, tinha jeito e continuei.
Sentiu aí que o seu futuro era a marcha ou foi percebendo aos poucos?
No início, foi mais pelo convívio e brincadeira, mas rapidamente passou a ser algo importante para mim e de uma grande dedicação, sempre com o objectivo e fazer mais e melhor. Iniciei em 1992 e em 1996 já fui ao Campeonato de Mundo de Juniores, eu ainda era juvenil. Depois disso passou a ser a minha prioridade.
Quem via como ídolo nessa altura?
A Susana Feitor era a referência de todos nós, mais novos, pelos resultados que já tinha alcançado.
Como foi em termos de apoio? Sentiu-se sempre apoiada, sobretudo pela família, ou alguma vez pensou em dedicar-se a outra coisa?
Na minha família não existia qualquer história de atletas, eu e a minha irmã é que levamos o desporto para casa, nem sempre eramos entendidas. Os nossos pais não eram pessoas de acompanharem as nossas provas, mas nunca nos impediram de seguir os nossos sonhos e apoiar-nos nas nossas decisões, mas tenhamos de ser responsáveis. Tive sempre o apoio do meu treinador. Financeiramente, nem sempre foi fácil, mas como sempre fui bastante poupada conseguia equilibra em momentos complicados.
O que seria se não fosse atleta?
Não sei, uma vez que todas as minhas opções foram em função em conseguir conciliar a minha carreira desportiva. Sou Enfermeira, porque podia tirar a licenciatura em Santarém e permanecer a viver em Rio Maior para conseguir continuar a treinar.
Como concilia a sua vida pessoal e de atleta?
A minha vida de atleta está sempre em primeiro lugar.
Foi a primeira mulher a ser campeã mundial e europeia dos 50km marcha. Que sentiu ao vencer as provas?
O que senti, no momento de cortar a meta, foi a recompensa de muitos anos de trabalho e dedicação e um enorme orgulho por conseguir demonstrar que, “NÓS MULHERES” conseguimos fazer 50km de marcha com grande qualidade e assim mudar mentalidades.
A luta pela inclusão dos 50 kms marcha nos Jogos Olímpicos ainda se mantém ou pensa desistir? Que alternativas tem?
Tendo em conta que os Jogos Olímpicos foram adiados para 2021, ainda existe tempo para continuar a lutar, tenho de falar com o meu advogado Paul DeMeester para as possibilidades de voltarmos a trabalhar na introdução dos 50km de marcha femininos. Tendo em conta como decorreu o processo até aqui, tenho consciência que o COI não nos vai facilitar a vida.
Por que fases passa um atleta de marcha até chegar às competições internacionais?
É por um processo de formação, como todos os atletas. Necessitamos de uma grande dedicação e trabalho durante muitos anos e nem sempre conseguimos alcançar os objectivos, mas não podemos desistir.
Quais são foram maiores sacrifícios que passou como atleta de alta competição?
Não digo que foi um sacrifício, foi a minha opção de vida. Em alguns momentos é mais difícil é estar longe da família, que para mim é o meu porto de abrigo.
Tendo em conta os últimos anos, como é que acha que a marcha portuguesa é vista internacionalmente?
Já fomos uma grande potência, principalmente nas mulheres, mas infelizmente o nível tem baixado muito, porque não temos tido renovação de atletas com o nível que nós tínhamos.
De todas as provas em que já participou, quais as que teria vontade de repetir?
Campeonato do Mundo em Londres 2017, porque foi a prova da minha vida, em que alcancei todos os objectivos que me tinha proposto, ser Campeã do Mundo, com recorde do mundo e com menos 4h06m.
Quais os objectivos e expectativas para os próximos Jogos Olímpicos?
Vou continuar a lutar pela introdução dos 50km, mas se não conseguir, quero qualificar-me nos 20km de marcha, para estar nos meus quartos Jogos Olímpicos. Tendo em conta a minha idade, os objectivos são definidos ano a ano, quando chegar a altura, vemos como estou e definimos os objectivos.
Quais são seus planos para o futuro?
Ainda não estão bem definidos, mas quanto decidir terminar a carreira será no Grande Prémio de Rio Maior e, posteriormente, gostava de continuar a trabalhar numa área ligada com o desporto.