João Pedro Ramos, criminólogo e estudante de direito, natural do Cartaxo, apresenta em “Os Jovens e a Política – Das vontades à importância da reflexão” um convite para que a nova geração se aproxime da política e compreenda o impacto que esta tem nas suas vidas. Numa conversa franca, o autor reflete sobre o desinteresse dos jovens pela política, a importância do carisma dos líderes e os desafios que a democracia enfrenta nos dias de hoje.
O seu livro convida os jovens a reflectirem sobre a política. Na sua opinião, por que razão há um aparente desinteresse dos jovens pela política nos dias de hoje?
Na minha opinião, são vários os factores. Em primeiro lugar, a própria noção de política que é incutida aos jovens. Os jovens crescem com a ideia de que a política está desligada das suas vidas, isto porque é-lhes incutido pelo tecido social que o conceito de “política” está necessariamente conectado com as várias instituições formais que formam o Estado. Ora, esta ideia é completamente falsa. A política, antes de se repercutir nessas instâncias formais, começa em casa, começa na nossa educação, na nossa cidadania e na nossa formação. Na nossa casa, temos de fazer uma gestão para que as coisas corram bem. Se eu tenho uma casa, se tenho um ordenado X, e gastos Y, eu tenho de adotar uma política de gestão da minha vida, caso contrário vou à falência. Isto que acabei de mencionar é exatamente o que faz o nosso Governo. Todavia, ninguém consegue gerir um país se tiver dificuldades em gerir a sua própria casa.
A transmissão da noção de “política” da forma que acabei de escrever deve ser incutida nos jovens pelos seus pais e, posteriormente, o Estado tem também um papel. Tem o papel de fazer a aproximação às instâncias formais (explicar qual o papel do Presidente da República, do Governo, da Assembleia da República e dos Tribunais).
Como avalia o papel dos partidos políticos na atracção de jovens para o debate público? Estão a cumprir esse objetivo?
Acho que o aparecimento de dois novos partidos políticos no quadro parlamentar (Chega e Iniciativa Liberal) veio potenciar o debate nas camadas juvenis. Não digo no debate publico, mas trouxe, de alguma forma, um ímpeto de destaque, que estava há muito tempo adormecido na política portuguesa.
Penso também que os partidos políticos tradicionais falharam, durante vários anos, na atração de jovens para o debate público. Isto por uma razão muito simples: não souberam utilizar a seu favor uma das melhores ferramentas que a globalização trouxe, falo das redes sociais. Os novos partidos souberam canalizar a atenção dos jovens através do Twitter, do Instagram, do Facebook, enquanto os partidos tradicionais do espectro político português vieram a reboque. Obviamente que isto não define, como relação causa-efeito, a atração dos jovens pela política institucional, mas tem (e teve) uma influência monstruosa.
Na sua experiência, o que pesa mais na decisão política dos jovens: as políticas em si ou o carisma dos líderes?
Gostaria de dizer que o que mais pesa são as políticas em si, mas não é verdade. Embora as políticas tenham algum peso significativo, acho que o carisma dos líderes tem pesado
mais. Se olharmos para o quadro político português, todos os líderes partidários de sucesso eleitoral são dotados de um especial carisma. Mais: tendo em conta o passado quadro governativo português, se pensarmos em líderes como Mário Soares, Francisco Sá Carneiro, Álvaro Cunhal, percebemos que o carisma sempre foi fundamental. Esta questão acaba por ser um pouco paradoxal do ponto de vista institucional, uma vez que nas eleições legislativas não estamos a escolher o primeiro-ministro, mas sim a escolher os deputados que terão assento na Assembleia da República.
Sendo a democracia um dos pilares centrais da sua obra, quais considera serem os maiores desafios que enfrenta nos dias de hoje?
É uma questão que não é de resposta fácil. Em primeiro lugar, o desinteresse das pessoas contribui diretamente para denegrir a democracia, uma vez que, se os seus primordiais valores não são usados (participação na vida pública, direito ao voto), a democracia não é dignificada. No entanto, ao sermos curiosos, e ao tentarmos saber qual ou quais as razões que levam as pessoas a desinteressarem-se pela política, conseguimos perceber que existem fatores por detrás disso, nomeadamente a corrupção endémica, a burocratização excessiva no acesso a serviços públicos, a dificuldade de acesso aos mesmos serviços públicos, o atraso português comparativamente com os outros países europeus. Tudo isto forma uma bola de neve que desliza na direção contrária, na direção do desinteresse e do desânimo na participação pública ativa. E esse é um dos principais desafios que a democracia enfrenta, pois, a corrupção descredibiliza diretamente a atividade pública e causa uma enorme quebra de confiança entre eleitos e eleitores.
Quais os seus próximos projetos? Tem planos para continuar a explorar o tema da política em futuras obras?
Quando resolvi publicar o meu simples manifesto político, pensei em tratar-se de um projeto único. Isto é, algo que incentivasse e aproximasse os jovens da vida política, despertando a sua curiosidade. Não penso atualmente em desenvolver o tema em futuras publicações. Mas, também não vou ao ponto de dizer que é um irrevogável de Paulo Portas, nunca se sabe.
Um título para o livro da sua vida?
Uma Fortuna Perigosa, de Ken Follet.
Viagem de sonho?
Gostava de fazer um roteiro por vários estados dos EUA (Califórnia, Texas, Kentucky, Colorado, Nova Iorque, Flórida, Havaí)
Música preferida?
Eye of the tiger, de Survivor.
Quais os seus hobbies preferidos?
Adoro artes marciais, ver filmes, nadar e ler.
Se pudesse alterar um facto da história, qual escolheria?
Não gosto de alterar factos, todos os factos da nossa histórica passada são fundamentais para o nosso presente.
Se um dia tivesse de entrar num filme, que género preferiria?
Thriller, sem dúvida.
O que mais aprecia nas pessoas?
Honestidade e altruísmo.
O que mais detesta nelas?
Detesto pessoas possessivas e egoístas.