É inegável o trabalho de muitos anos que Joaquim Pedro Torres tem desenvolvido em prol do desenvolvimento agrícola e da valorização do agricultor, assim como são inquestionáveis as suas qualidades humanas, perseverança e espírito empreendedor, que contribuíram para elevar o mundo rural e a agricultura a um nível de excelência e modernidade.

“Sou uma pessoa normal, que acredita nos valores da família e na relação entre as pessoas. Gosto muito do Ribatejo e de tudo o que lhe está associado e gosto de fazer coisas, especialmente ligadas à agricultura, que foi a actividade à qual sempre estive associado”. É desta forma que Joaquim Pedro Torres se define, e foi esta a atitude que o levou a criar a Agroglobal, certame que se realizou em Valada, entre 2009 e 2021.

“Criámos um evento profissional e dinâmico com o objectivo de ajudar à melhoria dos desempenhos agrícolas. Há 12 anos atrás, fomos um conjunto de empresas agrícolas que não se reviam totalmente nos certames agrícolas tradicionais. Que sentiam necessidade de se afirmar como um sector profissional e tecnologicamente avançado”, conta.

“Por estar inserido no processo produtivo sentia que havia uma lacuna nas feiras agrícolas em Portugal. A possibilidade de estabelecer uma parceria com o INIAV – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, dono dos terrenos onde a feira se realizou, foi um aspecto muito importante, tal como encontrar os elementos certos, como a Agroterra e a Câmara do Cartaxo”, acrescenta.

“Na altura, era comum ouvir-se dizer que o agricultor era um agente económico pouco preparado, que vivia de subsídios, que nem sempre eram bem empregues. Eu tinha a noção concreta que as coisas não eram assim. Mas nós, agricultores, também eramos culpados dessa imagem que a opinião pública tinha do sector, porque a imagem que transmitíamos era pouco de acordo com a realidade do momento do sector agrícola”, afirmou.

Foi dessa constatação que surgiu a Agroglobal: “uma feira completamente profissional, uma feira dinâmica, onde as empresas se envolviam no cultivo de todos esses terrenos. Com demonstrações, onde havia espaço para o trabalho das máquinas. Juntou-se aqui [em Valada] o meio agrícola. Esta aproximação de toda a fileira proporcionou uma importante partilha de conhecimento, que é sempre uma excelente base para o aproveitamento de sinergias entre empresas. Para a criação de negócios, no sentido de criar mais eficiência no processo produtivo”, explicita.

“O “motor” da Agroglobal foi sempre a partilha de conhecimento, a transferência de know-how, não apenas como pretexto para uma conversa interessante, mas como base de negócio e de criação de valor. Uma nova solução encontrada, uma ideia diferente são, quase sempre, “rastilho” para inovação nos métodos e estratégias e, em sequência, para o aparecimento de novas necessidades para os quais há, quase sempre, resposta”, afirma.

“Foram aqui realizadas oito edições – a última em 2021- altura em que decidi que era importante preparar o seu futuro, uma vez que a feira tinha as suas raízes já bem definidas. Decidiu-se, então, entregar a organização da feira ao CNEMA, que é quem vai desenvolver a feira de 2023. Aqui chegámos a esta fase, em que continuo com vontade de fazer coisas, ajustadas às circunstâncias da vida pessoal, e da idade, mas, a vontade, continua a existir”, afirma, com um sorriso.

Joaquim Pedro Torres licenciou-se em 1972 no Instituto Superior de Agronomia em Lisboa, tendo feito estágio na Estação Zootécnica Nacional, no Vale de Santarém.
Em 1977, avança com a primeira iniciativa empresarial agrícola, com a produção de melão em Salvaterra de Magos, que acabou por não correr bem: “foi uma experiência que me ensinou muito… foi uma calamidade produtiva, mas um ensinamento que eu não trocava por nada”, confessa.

“O facto de estar em agronomia levava-me a pensar que já sabia tudo, o suficiente para cultivar com sucesso… e rapidamente percebi que existia um mundo de coisas por conhecer, na forma de lidar com a terra, na forma de me relacionar com as pessoas, e esse insucesso foi um concentrado de aprendizagem e que foi muito importante para o resto da minha vida”, acrescenta.

Dois anos depois, ingressou nos quadros da então Direcção Regional de Agricultura do Ribatejo e Oeste, na Divisão de Hidráulica e Engenharia Agrícola, mantendo em paralelo algumas iniciativas empresariais agrícolas, como a criação e engorda de perus e produção de milho em parcelas arrendadas.

Forcado dos Amadores de Santarém durante nove anos, ingressou em 1983 no Banco Pinto e Sotto Mayor, na recém-criada Direcção de Agricultura Indústrias Alimentares e Pescas, chefiando a delegação do Ribatejo e Oeste, com sede em Santarém.

“Depois”, conta, “tive uma passagem por um banco, que se interessou muito pelo sector agrícola, e que me pôs a chefiar a região do Ribatejo Oeste, e aí, sim, comecei a entrar para o mundo empresarial. Foi dentro desse período que despertei para levar a cabo uma iniciativa por conta própria”, recorda.

Em 1989, o aumento de dimensão potencial da actividade agrícola leva-o a criar, em sociedade com a Irricampo (representante de equipamentos de rega), a empresa Valinveste, Investimentos e Gestão Agrícola, vocacionada para a produção agrícola, acompanhamento técnico em explorações agrícolas de terceiros e estudo e preparação de projectos de investimento. Em 2008 a Valinveste atingia a facturação de 12 milhões de euros.

“Entendi que havia uma situação de grande modernização no sector. Que era a altura indicada para aproveitar essa mudança. Tive a sorte de estar por perto dos aspectos que tinham a ver com a automatização dos sistemas de rega e consegui aproveitar e formar uma empresa de produção agrícola que cresceu muito rapidamente, a Valinveste, chegando a ser um dos grandes produtores nacionais quer de milho quer de beterraba”, conta.

Joaquim Pedro Torres, administrador da Valinveste, uma empresa sem terras que foi um dos maiores (e em alguns anos o maior) produtores de milho e beterraba da Europa Comunitária, defende que em alguns sectores Portugal está ao nível do melhor que se faz no mundo como é o caso da olivicultura e da vitivinicultura, mas também o pode ser nos cereais.

“A agricultura tem evoluído muito. Faz-se muita coisa em Portugal, hoje, ao melhor nível. Somos exemplo mundial em algumas culturas. Há a sensação que se conhece o caminho para continuar esse desenvolvimento. Temos exemplos que o demonstram, quase sempre ligados à água. A água e a irrigação no nosso país são determinantes”, defende.

“Houve dois marcos na agricultura portuguesa que o demonstram perfeitamente. A automatização de sistemas de rega, que permitiu alterar o conceito de aptidão das terras para o regadio e o segundo exemplo foi o Alqueva e como a água conseguiu transformar uma região que, em termos agrícolas, definhava. E é hoje uma região de muito investimento, de culturas rentáveis, com impactos indirectos também brutais quer ao nível serviços, turismo… toda a zona do Baixo Alentejo beneficiada pelo Alqueva é hoje uma zona muito dinâmica”, constata.

“Ao contrário do que podemos pensar, temos os nossos recursos hídricos em quantidade suficiente. Utilizamos pouco mais de 10% dos nossos recursos hídricos. Temos obrigação de os aproveitar porque isso seria decisivo para voltarmos a ter um país mais coeso com um interior mais desenvolvido, menos incêndios, mais preparado para as alterações climáticas, e com uma agricultura, do ponto de vista económico, mais eficiente”, defende.

“Não somos um país rico, temos que aproveitar os nossos recursos temos obrigações produtivas se queremos manter os nossos padrões habituais de vida. O Tejo é um recurso importantíssimo e, em larga medida, desaproveitado. O mundo tem desafios ao nível da produção de alimentos: só para acompanhar o crescimento da população, teremos que produzir mais 70% de alimentos nos próximos 20 anos”, alerta.

“Tenho esperança que a estratégia de aumento das áreas irrigadas no país, que era permanentemente debatido na Agroglobal, venha a vingar. Para isso é preciso conquistar a opinião pública e não permitir que determinados tipos de argumentos demagógicos minem essa opinião”, apela.

Joaquim Pedro Torres, carinhosamente conhecido por ‘Peu’, foi condecorado no 10 de Junho, em 2009, durante as comemorações do Dia de Portugal, em Santarém, pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, com a Ordem de Mérito Agrícola, Comercial e Industrial, Grau de Comendador.

As Ordens de Mérito têm o objectivo de galardoar actos ou serviços meritórios, praticados por Portugueses no exercício de quaisquer funções e prestados nas áreas social, educativa, agrícola, comercial, industrial ou serviços, e que mereçam ser especialmente distinguidos.

No caso do Mérito Agrícola, a mesma “tem por finalidade distinguir aqueles que prestaram serviços relevantes no fomento ou na valorização da riqueza agrícola, pecuária ou florestal do País ou que para tal hajam destacadamente contribuído”.

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