Após a Implantação da República, o município de Santarém considerou que se devia celebrar o dia 18 de Maio como feriado municipal, em memória da entrada das tropas liberais na cidade, no ano de 1834.

Os primeiros festejos deste novo feriado decorreram a 18 de Maio de 1911, longe das festividades projectadas que deviam realizar-se durante vários dias desse mês. Para organizar a exposição agrícola e pecuária a instalar no campo Sá da Bandeira, “a Câmara devia dar primeiro balanço às forças pecuniárias a reconhecer se teria viabilidade a exposição que os homens práticos previamente indicariam quanto poderia custar. Embalou-se com a miragem sedutora de um festival que reproduzisse neste rincão ribatejano um dos capítulos das “Mil e uma Noites” e nesse engano de alma ledo e cego viveu algum tempo até que veio a cair no prosaísmo da… falta de dinheiro, quando já não pode evitar que sobre a cidade caia o ridículo de uma retirada que nem ao menos teve o mérito de se fazer a tempo. Que o facto sirva de salutar exemplo e que de futuro se não delibere sobre o joelho em assuntos que tão nitidamente se reflectem sobre a nossa terra já infelizmente bem experimentada em fiascos desta natureza” (CE, 13/5/1911, p. 3).

Os festejos de 18 de Maio de 1911 foram organizados pela direcção do Centro Eleitoral Republicano, apoiada pela Câmara Municipal e pelo governador civil. Estes iniciaram-se com um cortejo cívico no largo das Amoreiras onde estiveram presentes professores e alunos da Escola Agrícola, do Liceu e das Escolas Centrais e da Ribeira, membros dos Bombeiros Voluntários, dos Montepios do Carmo, Artístico e da Ribeira, do Grémio Guilherme de Azevedo, do Teatro Club Ribeirense, do Grémio Ribeirense, da Associação dos Empregados do Comércio, sargentos de Artilharia 3 e de Caçadores 6, a Charanga de Artilharia 3 e a Banda de Caçadores 6. Os bombeiros voluntários conduziram um carro para recolher as dávidas de flores que foram colocadas nos túmulos dos liberais Marquês de Sá da Bandeira, Passos Manuel, Visconde da Serra do Pilar e do padre Francisco Nunes da Silva vulgo padre Chiquito.

O cortejo passou o Arco de Mansos, percorreu as ruas João Afonso, 1.º de Dezembro, praça Velha, rua Direita e largo Passos Manuel, conhecido como largo do Seminário. Aí, em frente da casa onde viveu o Marquês Sá da Bandeira, as crianças cantaram “A Portuguesa”, acompanhadas pela Banda de Caçadores 6, “ouvindo-se nesta ocasião muitas vivas à Pátria, à República e ao Exército. Depois, descerrou-se uma lápide, em mármore, colocada à altura do primeiro andar do prédio, que tem estes dizeres: “Nesta casa nasceu o grande liberal Marquês de Sá da Bandeira em 26 de Setembro de 1795” e que estava coberta com a bandeira nacional” (CE, 20/5/1911, p. 3). O acto terminou com o discurso do presidente da Câmara, o advogado José Madeira Montez e com as crianças a entoarem a canção “A Sementeira”.

Seguidamente, o cortejo percorreu as ruas Capelo e Ivens, Miguel Bombarda e Tenente Valadim em direcção ao cemitério dos Capuchos onde o conservador da comarca da Golegã, Pinto de Magalhães e o governador civil, Francisco Godinho proferiram alocuções, junto à campa do Marquês de Sá da Bandeira.

Nessa tarde foi servida uma refeição aos presos a partir de donativos obtidos por uma comissão de artistas da cidade de Santarém. A comida foi fornecida pela casa de pasto de Manuel Maria Nunes constando da ementa: canja de galinha, peixe frito e salada, carne assada, galinha guisada com ervilhas, frutas, arroz doce e vinho.

Na sessão solene que decorreu no Centro Eleitoral Republicano, o governador civil, Francisco Godinho “alvitrou para que ao Liceu de Santarém, quando elevado a Central, se dê o nome de Sá da Bandeira” (Idem). Na sessão também usaram da palavra os licenciados Queirós Vaz Guedes e Jacinto de Freitas e o aluno do terceiro ano da Escola Agrícola, Humberto Santos. Todos enalteceram os feitos dos liberais escalabitanos.

As festas terminaram com uma marcha “aux-flambeaux” organizada por uma comissão de ciclistas. A marcha saiu do jardim das Portas do Sol, pelas 22 horas, composta por uma “multidão que empunhava arcos contornados de balões, seguidos de alguns ciclistas que apresentavam ornamentações artísticas nas suas machinas” (Idem). A Banda do Asilo da Misericórdia acompanhou-os no passeio pelas ruas da cidade. O vento impossibilitou que os ciclistas passassem a ponte D. Luís, em direcção a Almeirim. O júri atribuiu o primeiro prémio, uma libra em ouro, ao empregado no comércio, Adalberto dos Anjos, o segundo prémio, uma lanterna para bicicleta, ao tipógrafo Hildeberto dos Santos e o terceiro prémio, uma campainha para bicicleta, ao empregado no comércio, Valentim Rodrigues. Os prémios estiveram expostos na casa comercial de Nobre & Cabral, na rua de S. Nicolau, 58-64.

As festas da cidade voltaram a comemorar-se nos dias 17, 18 e 19 de Maio de 1913, organizadas pela Sociedade Propaganda e Defesa de Santarém, contribuindo a Câmara com um subsídio de 250$000 réis.

Teresa Lopes Moreira

Leia também...

Memórias da cidade: Ginástica Sueca

A ginástica sueca foi criada pelo militar e instrutor de esgrima Pehr…

Opinião/Teresa Lopes: Lar Moderno

O Lar Moderno, estabelecimento de mobiliário e decorações, abriu as suas portas…

Memórias da Cidade: “A fúria do ciclone que devastou o país”

Os anos da guerra continuavam a assolar a Europa com graves repercussões…

A Elite do Partido Republicano Nacionalista (1923-1935), em Santarém

“O partido Republicano Nacionalista não tem pressa de chegar ao poder porque…