Muitas vezes, talvez demasiadas vezes, os empresários taurinos põem-se a inventar no afã de afirmarem o seu espírito inovador e o arrojo que tem de caracterizar um promotor de espectáculos. Não lhes podemos levar a mal, pois se não houvesse este espírito e alguma resiliênciatudo não passava de um tremendo marasmo. Sempre mais do mesmo…

Porém, manda a prudência que os passos a caminho da inovação sejam feitos com muita ponderação, para evitar desequilíbrios, coisa que a acontecer na organização de espectáculos taurinos tem um impacto desastroso. Nos dias que correm montar uma corrida de toiros é um empreendimento muito arriscado!

As praças são, em regra, alugadas a preços muito elevados, os toiros estão cada vez mais caros e os toureiros têm de cobrar o seu justo valor. Algo que é difícil de avaliar, pois em boa verdade o valor do toureiro deveria ser proporcional ao volume da receita resultante da venda de bilhetes nas corridas em que actua, e não tanto pelo nome que tenha…

Porém, a acrescer a estes encargos há que ter em conta as taxas e os impostos que recaem sobre esta iniciativa – desde logo o IVA que é cobrado a 20%! – e todas as despesas inerentes à publicitação do espectáculo e à chamada “folha de praça”, ou seja, o pagamento a todos os intervenientes no espectáculo, como sejam a Banda, os Bombeiros, os médicos e enfermeiros, os agentes de autoridade, os bilheteiros e arrumadores, o pessoal dos curros e da arena, os emboladores e por aí adiante. Enfim, montar uma corrida de toiros exige uma soma muito apreciável de dinheiro!

Todos os anos ouvimos os empresários queixarem-se de que perderam dinheiro, o que poderá pôr em causa o futuro da actividade, na medida em que também os toureiros, na sua maioria, se lamentam que não ganham para as despesas. Ora, negócio em que apenas o Estado ganha não tem futuro…

A empresa “Toiros com Arte”, rotulada por alguns sites e blogues como a “super-empresa taurina portuguesa”, é detentora dos direitos de organização de espectáculos taurinos em grande parte das praças nacionais, a que há a juntar as que são exploradas em parceria com a empresa “Ovações e Palmas”, de Luís Miguel Pombeiro, e venceu alguns concursos de adjudicação pagando, como se costuma dizer, uma nota preta. Chamusca, Coruche e Montijo estão neste caso.

As coisas correram mal em Coruche, anunciando-se já o cancelamento da corrida prevista para o próximo dia 2 de Junho; não correram muito bem na Chamusca, especialmente na primeira corrida, onde não havia mais de ¼ da lotação preenchida; e também no Montijo não correram como o desejado, apesar da super-campanha publicitária em alguns sítios da web e até do sorteio de um automóvel. Que saiu!

Samuel Silva, um dos sócios da empresa “Toiros com Arte”, chegou à brilhante conclusão de que não é possível dar corridas fora das datas tradicionais, o que impõe a reestruturação do calendário inicialmente previsto e anunciado, a começar já em Coruche e prosseguindo depois no Montijo, onde deverá ser também cancelada a “chamada” corrida das famílias, em cujo cartel deveria constar o rejoneador navarro Pablo Hermozo de Mendoza.

Enfim, todos deveremos reflectir sobre o futuro da tauromaquia em Portugal, mas sobretudo os que vivem dela, como é o caso dos empresários, dos ganadeiros e dos toureiros, pois é possível fazer coisas muito interessantes a preços mais acessíveis, para que o povo possa assistir, uma vez que bilhetes a 45€ para uma fila da Sombra na Chamusca, em corrida com um cartel vulgaríssimo não é possível, não é para todos…

Os aficionados “pagantes” não têm culpa dos preços exorbitantes que algumas empresas pagam pelo aluguer das praças, apenas para quererem ser os donos disto tudo! O futuro é negro, ao que que parece!

LM

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