Entrevista a Joaquim Pedro Torres originalmente publicada na edição impressa de 3 de Setembro do jornal Correio do Ribatejo.
Mais de quatro centenas de expositores participam este ano na Agroglobal, em Valada do Ribatejo, nos próximos dias 7, 8 e 9 de Setembro.
Durante três dias as empresas apresentam as novidades que resultam do seu processo normal de funcionamento e evolução. Fazem-no na AgroGlobal de uma forma dinâmica, em 3D, utilizando para tal os campos da lezíria do Tejo e as culturas cuidadosamente preparadas ao longo do ano e também nos seus stands que, no conjunto, formam uma autêntica “cidade da agricultura”.
A organização promete que a AgroGlobal deste ano seja o “reencontro presencial de todo um sector mobilizado para fazer mais e melhor e com muito para comunicar tendo em conta este interregno forçado” devido à pandemia.
Diariamente, em dois auditórios, serão tratados temas considerados mais actuais e relevantes para o sector, onde serão abordados os vários sistemas de produção como a vinha e o vinho – este ano com uma presença impulsionada pela ViniPortugal, IVV e Andovi – o Olival e Frutos secos com a Olivum e a APFS, o arroz com a Casa do Arroz e o EU rice Consortium, a floresta com a Celpa, os cereais com a Anpromis, e as frutas e legumes, com a Portugalfresh, bem como as presenças da Consulai e da Agroges.
Em cima da mesa estarão temas “mais globais” como a Economia Circular, a reforma da Pac, a Água e a Inovação.
Estes debates terão a presença de vários ministros e secretários de Estado para que o sector político tenha a possibilidade, segundo os organizadores, “de sentir o pulso à “nação agrícola” conhecendo melhor as suas realidades e necessidades”.
A feira apresenta-se como espaço de “partilha de conhecimento, transferência de know-how, não apenas como pretexto para uma conversa interessante, mas como base de negócio e de criação de valor”.
A AgroGlobal assume-se ainda, este ano, como o “reencontro físico do sector agrícola”. Para a visitar é necessário certificado digital ou teste à covid-19.
Quais são as expectativas para a AgroGlobal 2021?
Elevadas. Quem diria quando, há uns meses atrás, decidimos, nós e um numeroso conjunto de empresas que participam nos ensaios de campo, avançar com os preparativos desta AgroGlobal, numa altura de muitas dúvidas, que chegaríamos ao dia de hoje com mais expositores do que na anterior edição e com o entusiasmo de sempre. Será um reencontro presencial de todo um sector mobilizado para fazer mais e melhor e com muito para comunicar tendo em conta este interregno forçado.
Que novidades destacaria nesta edição?
A fórmula da AgroGlobal está muito bem sedimentada e por isso as bases desta edição são as mesmas de sempre. São as empresas que vão aportar as novidades que resultam do seu processo normal de funcionamento e evolução. Fazem-no na AgroGlobal de uma forma dinâmica, em 3D, utilizando para tal os campos magníficos da lezíria do Tejo e as culturas cuidadosamente preparadas ao longo do ano e, claro, também os seus stands que, no conjunto, formam uma autêntica “cidade da agricultura”.
Irão utilizar também salas de reunião, os Centro de Negócios, pois são muitas as empresas que querem debater internamente com clientes.
Funcionarão sempre dois auditórios onde serão tratados os temas considerados mais actuais e relevantes para o sector, decididos em conjunto com vários participantes/expositores da AgroGlobal. Falaremos de vários sistemas de produção como a vinha e o vinho – este ano com uma presença bem mais forte impulsionada pela ViniPortugal, IVV e Andovi – o Olival e Frutos secos com a Olivum e a APFS, o arroz com a Casa do Arroz e o EU rice Consortium, a floresta com a Celpa, os cereais com o parceiro de sempre, a Anpromis, e as frutas e legumes, é claro, com a Portugalfresh. Foi preciosa a ajuda da Consulai e da Agroges.
Mas debateremos também temas mais globais como a Economia Circular, a reforma da Pac, a Água e a Inovação com intervenientes de reconhecida capacidade.
Estes debates terão a presença de vários ministros e secretários de Estado para que o sector político tenha a possibilidade de sentir o pulso à “nação agrícola” conhecendo melhor as suas realidades e necessidades e, como sempre, também ‘opinion makers’ que, apesar de não sendo especialistas do sector, trarão ideias e, apercebem-se do muito de positivo que se faz na nossa agricultura.
Este trabalho é muito importante pois é preciso transmitir à sociedade em geral a emergência de produzir alimentos num planeta em acelerado crescimento demográfico e em que a cada momento, morrem pessoas à fome, que há toda uma fileira a trabalhar para isso de forma ambientalmente consciente mas também muito pragmática. Estes aspectos, essenciais para a nossa vida, são muitas vezes esquecido pelos adeptos de uma agro-ecologia fundamentalista que faz por esquecer todo um mundo produtivo que existe por detrás da prateleira do supermercado.
A AgroGlobal sempre desejou que o certame decorresse num ambiente de partilha de conhecimento agrícola e que os negócios estivessem na primeira linha. Este espírito mantém-se?
Foi sempre o principal objectivo e é essa abordagem que tem feito crescer a AgroGlobal.
O “motor” da AgroGlobal é a partilha de conhecimento, a transferência de know-how, não apenas como pretexto para uma conversa interessante, mas como base de negócio e de criação de valor.
Uma nova solução encontrada, uma ideia diferente são, quase sempre, “rastilho” para inovação nos métodos e estratégias e, em sequência, para o aparecimento de novas necessidades para as quais há, quase sempre, resposta na AgroGlobal.
Isto, pelo menos por enquanto, o virtual não nos traz e assim aqueles três dias em Valada do Ribatejo são de intenso trabalho e o agronegócio vai ao rubro.
Não se vai à AgroGlobal ver o que há de novo mas sim criar algo novo!
Pretendemos também que os debates não visem demonstrar apenas a eloquência ou o mérito teórico dos oradores nem a definição de objectivos utópicos que são, muitas vezes, um excelente “escudo” para nada fazer.
O objectivo é ajudar a identificar as nossas limitações sectoriais e a forma de as ultrapassar no plano nacional e empresarial.
Que diferenças encontra entre a primeira edição e a actualidade? Que caminhos percorreu a feira em termos de crescimento?
A AgroGlobal mantem-se fiel à sua personalidade. Um evento profissional e dinâmico com o objectivo de ajudar à melhoria dos desempenhos agrícolas.
Há 12 anos atrás fomos um conjunto de empresas agrícolas que não se reviam totalmente nos certames agrícolas tradicionais. Que sentiam necessidade de se afirmar como um sector profissional e tecnologicamente avançado.
Construímos com os expositores uma forma de trabalho que não é uma simples relação cliente fornecedor. É sempre um longo e enriquecedor trabalho de definição de objectivos e avaliação de estratégias.
Hoje temos um “congresso” a céu aberto com todos os sectores representados pelas suas empresas mais importantes, onde as novas tecnologistas coexistem com o saber ancestral de gerações de agricultores, presente em todos e cada um dos visitantes.
Aqui chegados, com a esmagadora maioria do nosso sector agrícola presente, com importantes passos dados no sentido da internacionalização, outras metas se poderão traçar rumo a uma grande feira da Agricultura do Sul da Europa.
Esse trabalho foi dificultado pelo Covid mas não está esquecido.
De que forma a AgroGlobal mudou e continua a mudar a agricultura portuguesa?
A AgroGlobal foi uma aposta ganha pela fileira agrícola nacional. Agricultores e empresas associaram-se para uma demonstração inédita das capacidades e potencialidades de um sector, por vezes olhado pela sociedade como o parente pobre da nossa economia.
A opinião que a sociedade, em geral, tem da agricultura portuguesa melhorou desde 2009, quando nasceu este projecto. Os agricultores e todo o sector foram reconhecidos e valorizados e a AgroGlobal contribuiu.
Hoje a actividade agro-florestal está sujeita a outro tipo de pressões. A relação agricultura ambiente é minuciosamente escrutinada pela opinião pública. Pouco se fala noutros sectores bem mais poluentes e com menos importância na nossa vida. Nem a qualidade do ar, com a agricultura em pleno, no epicentro da pandemia, foi suficiente para rever critérios.
Os produtores estão conscientes das suas responsabilidades, buscam permanentemente a melhoria da eficiência na utilização dos recursos, até porque isso é uma exigência dos mercados competitivos, utilizam as substâncias activas seguras. Somos líderes mundiais nos cuidados ambientais. Esta pressão terá que aliviar mais cedo ou mais tarde e, espero bem, que não seja por motivos de força maior.
A AgroGlobal continuará o seu trabalho mostrando uma dimensão tecnológica e profissional da agricultura que a muitos surpreende. Queremos aproximar as empresas entre si, aproximar os media e o poder político ao sector, aproximar também mais empresas, investidores novas “cabeças” e novas ideias criando uma espiral de crescimento com resultados à vista e que tem ainda muito para dar.
Vamos querer continuar na primeira linha deste movimento reforçando um “espírito Agroglobal” em que agricultores e as suas organizações, empresas ou organismos oficiais constituem um verdadeiro bloco motivado, unido e orgulhoso pela sua quota-parte nos bons desempenhos da agricultura portuguesa.
Ao nível da tecnologia e agricultura de precisão, o que podem os agricultores encontrar na AgroGlobal?
As exigências dos mercados muito concorrenciais obrigam-nos a utilizar todos os argumentos que possam contribuir para uma melhoria de resultados.
Por isso a nossa agricultura está e estará cada vez mais “precisa” na utilização dos recursos.
A isso nos ajudam as empresas presentes e é pela sua mão e resultado do seu investimento em ID que encontramos o que de mais moderno está disponível para o sector agrícola.
Equipamentos mais eficazes e inteligentes, monotorização das culturas, dos solos, da água, dos fertilizantes, robótica…
O conhecimento científico “debita” a todo o momento novos equipamentos, produtos e tecnologias a um ritmo muito rápido. Concentramos os mais impactantes no Agro-Inov, um pavilhão de referência na AgroGlobal.
Em que áreas estamos mais e menos avançados?
Tem-se feito muita coisa boa no nosso país. Temos agricultores e organizações do melhor nível em todos os sectores e empresas das mais diversas especialidades, com enorme capacidade. Não parece certo dizer que haja áreas de actividade em que estamos mais avançados que outras. Há produções mais “na crista da onda” como o olival, os frutos secos, outras frutas e legumes, a vinha etc… Mas temos excelentes empresas em todas as áreas, mesmo nas menos intensivas muitas vezes racionais no plano económico e ambiental.
Mas há muito para fazer. Temos áreas com muita margem de melhoria, algumas até que não são um exclusivo da agricultura.
Estado e empresas precisam de se unir em torno dos objectivos produtivos. Quer ao nível de projectos individuais, quer públicos. O espírito de equipa não existe o que representa um enorme desperdício de energias e desaproveitamento de capacidades.
Precisamos também de comunicar melhor o conhecimento agrícola. É obrigatório aproximar a comunidade científica e académica e empresários agrícolas. As duas partes têm de fazer um esforço de aproximação, pois daí resultariam certamente muitos benefícios. A procura de novas tecnologias não pode parar, mas também é importante fazer chegar de forma clara e simples ao “campo” todo o “capital” já existente.
Temos pouco Investimento público num sector que mais poderia fazer para a construção de um país diferente. A agricultura é o sector mais habilitado para o redesenho de um país mais coeso e equilibrado no plano económico-social e ambiental. No entanto no PRR e no PNI não consta nenhuma obra relevante, vá-se lá perceber porquê.
Nem um exemplo como o Alqueva e a incrível transformação que a barragem operou numa região deprimida, foi suficiente para demonstrar que é essencial investir na água e no sol, os nossos mais importantes recursos naturais.
As pretensas preocupações com as alterações climáticas e transição energética também não nos mobilizaram para evitar o desperdício daqueles recursos.
Não podemos pensar que outros resolverão as crescentes necessidades alimentares nem que o auto-abastecimento e a reserva estratégica de alimentos serão sempre resolvidos pela livre circulação de mercadorias.
Ou que os incêndios ficarão resolvidos com as cabras sapadores e as brigadas de limpeza e que o desequilíbrio entre o litoral e o interior é uma fatalidade nacional. Parecia simples, mas é tão difícil fazer simples!
Por fim, uma mensagem para o sector e para a AgroGlobal 2021?
Reencontramo-nos em Valada do Ribatejo a 7, 8 e 9 de Setembro porque a fileira agrícola não vai baixar os braços. Quer produzir mais e com mais valor acrescentado e por isso falará a uma só voz em Valada do Ribatejo. Atenção não esquecer teste à Covid-19 ou certificado digital.