João Florêncio, com formação na área de artes e multimédia, é um ilustrador que trabalha para o mundo através do seu estúdio criativo, o Brandman Digital Studio. Vive na aldeia da Raposa onde executa trabalhos para algumas das grandes marcas nacionais. Realiza ainda trabalhos de ilustração, design e webdesign para clientes que vão desde a América à Austrália.

Como é que o João se torna ilustrador e artista conceptual? Para chegar aqui tive de fazer vários sacrifícios, um dos quais foi despender vários anos a evoluir a qualidade do meu trabalho levando uma vida regrada. Posso dizer que ao longo dos últimos oito anos passei milhares de horas, sem exagero, a desenhar e a pintar para atingir esse objetivo, deixei de sair à noite, estar com amigos, entre outras coisas. Não me tornei ilustrador e artista de conceito do dia para a noite, foi um processo gradual, sendo que o meu primeiro cliente foi ainda durante a licenciatura para o qual fiz o livro da Leopoldina para Continente, juntamente com outros ilustradores, após isso fui construindo uma base de clientes com os quais tenho vindo a trabalhar. Neste momento já não tenho muito espaço para encaixar novos projetos na minha agenda tendo já marcações de trabalhos para o próximo ano.

Que tipo de personagens cria e para que tipo de trabalhos? Crio maioritariamente ilustrações de personagens e paisagens para jogos de tabuleiro e jogos digitais, contudo a maior fatia do meu trabalho tem sido dedicada aos jogos de tabuleiro, talvez devido ao grande crescimento que têm tido nos Estados Unidos e isso reflecte-se na procura dos serviços que ofereço.

Em quem é que se inspira para fazer os seus trabalhos? Em vários artistas, os portugueses são, Andreas Rocha (Wizards of the Coast) David Sequeira (Ninja Theory) e internacionais, Dan Peacock, Feng Zhu, Bogdan Rezunenko entre outros, mas estes são os que me lembro neste momento.

Que tipo de formação se faz para chegar a este patamar? Podemos ser autodidactas ou seguir a via normal de ensino e ambas as opções acarretam prós e contras. Ser autodidacta é uma formação mais barata, mas que demora mais tempo, perto de seis vezes mais, segundo Feng Zhu (FZD School) ou seguir a via normal que é mais cara mas que demora menos tempo pois a formação é guiada. Em Portugal infelizmente as opções são poucas e de qualidade duvidosa especialmente nos cursos das universidades e politécnicos, pois os programas são muitas vezes criados por pessoas que não estão a trabalhar no mercado há 20 anos, em alguns casos. Mas felizmente as coisas começam a mudar e temos algumas escolas que oferecem qualidade no ensino como a Oddschool em Lisboa ou o atelier de arte realista do Porto.

O que é para si a industria criativa? A industria criativa é uma das maiores industrias do mundo que se baseia no capital intelectual para criação de novos serviços, produtos, ou até para resolver problemas dentro da cadeia de produção de uma empresa.

Esta industria está patente em Portugal ou mais no estrangeiro? Mais no estrangeiro claro, especialmente nos países desenvolvidos, contudo temos países como a Polónia que apresentam grande qualidade nesta área e que eram menos desenvolvidos que Portugal até há bem pouco tempo. No nosso país só as grandes e algumas médias empresas é que valorizam esta área. Já que falamos de Portugal vou focar-me na nossa zona, o Ribatejo, e posso dizer que aqui não se compreende nem se valoriza a criatividade, a publicidade ou até o marketing, muito por culpa da fraca formação dos donos das empresas, da pobreza e de estarmos focados apenas na agricultura e restauração, quando devíamos estimular mais o aparecimento de outro tipo de negócios ligado à tecnologia e à criatividade. O facto de não o fazermos tem consequências na produtividade da região mas claro pouca gente entenderá isto porque falta visão e mais formação, e dito isto, já estou a fugir ao assunto…

Faz vários trabalhos grandes mercados, nomeadamente os Estados Unidos da América. Como é que surgem estes trabalhos? De várias formas, ultimamente após o destaque que foi feito no Behance ao meu trabalho (a maior plataforma de criativos do mundo) tem aparecido vários pedidos de orçamentos por aí, tanto para jogos como para publicidade. Mas também vem de contactos directos que faço com algumas empresas para quem acho que seria uma mais valia o meu trabalho, outros pedidos aparecem através das redes sociais, e outros através de menções de clientes passados e de trabalhos passados para mim por colegas de profissão sendo que apenas 1 ou 2% são para clientes nacionais.

Que lhe falta fazer nesta área? Primeiro de tudo, o que me falta é decidir onde me quero focar/especializar, após todo este tempo ainda não tenho a certeza se quero trabalhar no desenvolvimento visual de jogos/filmes como artista de conceito ou ilustrar jogos de fantasia como o jogo Magic the Gathering ou Dungeons and Dragons, ou mesmo ilustrar mais para projectos de publicidade… é algo que tenho de decidir ainda. Falta-me desenvolver ainda mais as minhas capacidades tanto no desenho, como no 3D por exemplo, de modo a aumentar a minha produtividade e conseguir atacar outros mercados.

Que conselhos dá a quem quer seguir esta vertente artística? Primeiro têm gostar de desenhar e criar histórias, segundo têm de acreditar em vocês, pois o percurso é difícil, solitário e cheio de pessoas que, por gostarem de vocês ou não, vos iram tentar demover do vosso caminho, algumas delas com as melhores das intenções, e por isso têm de ser persistentes e continuar a trabalhar, muito! Entenderem que existem altos e baixos, tanto a nível de trabalho como a nível de evolução. Não sejam muito duros convosco e apreciem a viagem, pois é disto que se trata uma carreira nas artes, uma viagem de constante descoberta e evolução. Vivam com boa disposição e não se levem muito a sério. São estes os meus conselhos.

Onde é que as pessoas podem seguir ou ver mais do seu trabalho?
No instagram com o username j.f.florencio ou facebook.com/joao.pedro.3760 .

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