Nazaré – Sábado, 19 de Julho, às 22.15 horas – Corrida Mista. Cavaleiros: António Ribeiro Telles e António Ribeiro Telles (Filho); Matadores: “Morante de la Puebla” e Manuel Dias Gomes, em substituição de Marco Pérez; Forcados Amadores de Vila Franca; Ganadaria: David Ribeiro Telles; Directora de Corrida: Dra. Ana Pimenta; Médico Veterinário: Dr. José Luís da Cruz; Entrada de Público: Lotação Esgotada; Tempo: Ameno.

A típica e bela vila da Nazaré viveu no passado sábado uma noite fantástica, por ocasião da abertura da temporada taurina na castiça e emblemática Praça do Sítio. Lotação esgotada para sinalizar a presença de um toureiro genial como é “Morante de la Puebla”, acompanhado por um cartel de luxo e servido por um excelente curro de toiros. Esta corrida foi, indubitavelmente, um autêntico hino de louvor à Tauromaquia, constituindo uma jornada memorável que deixará um pouco desconfortáveis os anti-taurinos, que tudo fazem para impor a sua ditadura do gosto pugnando pela extinção da tauromaquia.

Manda a justiça que se enalteça a competência e a ousadia do empresário Rui Bento e da sua equipa, posto que, para além do excelente cartel que foi possível montar, apostou numa estratégia de marketing e de publicidade irrepreensível, algo que se vê pouco noutras praças nacionais, pelo que, obviamente, os resultados têm de fazer a diferença.

Com a lotação esgotada desde a manhã de sábado, o ambiente em torno da praça era extraordinário, e no interior do bem cuidado tauródromo sentia-se a expectativa de uma noite diferente, e, de facto assim, foi. No termo da corrida, com o Sítio repleto de viaturas por tudo quanto era sítio, o que retardava a saída dos espectadores não residentes na Nazaré, os aficionados parecia não quererem abandonar aquele espaço, com o entusiasmo de celebrar tão magnífica noite. 

Os toiros de David Ribeiro Telles, ainda que díspares de apresentação acabaram por cumprir muito satisfatoriamente, pois não eram bravos, mas investiam com codícia, iam pelo seu caminho e os toureiros apenas tinham de os saber aproveitar. E de que maneira os aproveitaram.

António Ribeiro Telles esteve num plano notável. Senhor de um saber profundo, pletórico de experiência e de ofício, explanou todos os seus argumentos técnicos e artísticos para consumar uma lide onde tudo saiu perfeito. Elegendo sempre os melhores terrenos e adequando as distâncias nos cites frontais, António Ribeiro Telles colocou a ferragem em sortes plenas de emoção e de rigor, destacando-se, apesar de tudo, a colocação dos três últimos ferros curtos, que foram notáveis.

António Ribeiro Telles (Filho), que já tem carta de alforria e não carece da ajuda do apelido paterno, embora não desperdice os seus ensinamentos, esteve igualmente numa noite de acerto, ombreando com seu pai no sucesso do toureio marialva. Perfeito em todos os detalhes e valorizando todos os momentos da lide, colocou ferragem de grande mérito e categoria, rematando cada sorte como mandam as regras. Muito bem!

Em praça estava também o valoroso Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca, a atravessar um excelente período, consumando com imenso garbo e competência as duas sortes ao primeiro intento, por intermédio de Lucas Gonçalves e de Rodrigo Andrade, com o Grupo a ajudar com alma e muita coesão. Assim até parece fácil.

Concluía com grande qualidade e exuberância a vertente lusa, foi tempo para apreciar a arte, o domínio e a elegância do toureio a pé protagonizado por uma das maiores figuras de sempre, e também por um jovem matador português que, mau grado a evidência de tantas faculdades, tarda a impor-se no panorama internacional.

Morante de la Puebla é uma figura genial do toureio, embora seja, igualmente, uma referência fora de praça. A sua forma de estar, as suas atitudes, os seus gestos, tudo em Morante reflecte a sua profunda sensibilidade toureira. Destes toureiros, convenhamos, já não há muitos, e quando se juntam a técnica, a arte e o valor com o carisma do toureiro, o resultado tem de ser magnífico. E foi-o, sem dúvida, uma vez mais, o que tem acontecido na presente temporada em quase todas as suas actuações. Daí a resposta do público quando se anuncia a sua presença em praça.

Com o capote Morante desenhou cada lance com uma elegância, um temple e um mando irrepreensíveis, ensinando ao toiro quem é que ali manda, e cativando desde logo o respeitável para o seu labor. Depois do tércio de bandarilhas, eficaz e pouco demorado, o público foi convocado para um recital da arte de Montes. A expressão estética de cada passe, a fragância que se pressente em cada movimento, sublime, elegante, diversificado, e o poderio do temple na cara do toiro, é algo do outro mundo. A los toros todo se hace de espácio… assim é, Maestro!

O segundo do seu lote, que foi o quinto da ordem, era bonito e tinha boas maneiras, porém, cedo se percebeu que tinha um problema de mobilidade, pelo que seria devolvido aos chiqueiros. A empresa andou bem, uma vez mais, quando decidiu regalar o sobrero, que Morante viria a aproveitar de forma magnífica. Note-se que a Empresa não estava obrigada a deixar lidar o sobrero! O toiro tinha um trapío irrepreensível e Morante confiou-se na sua presença começando desde logo por o cuidar com o capote, bordando o toureio em lances de um repouso e de um mando excepcionais. Com a flanela, Morante armou um lio do outro mundo. As distâncias dos cites, a muleta baixa templando a investida do nobre animal, o poder de cada tanda, a mão esquerda a bordar o toureio, tanto quanto a destra, aproveitando tudo o que o toiro tinha para dar. Quem nos dera que aquela faena não terminasse, tão vibrantes foram estes momentos. Ponto alto na temporada nazarena, mas, talvez, também um dos momentos mais marcantes desta temporada. O público rendeu-se à categoria do Maestro, que no final foi muito justamente sacado em ombros, num ambiente contagiante de euforia. 

A substituir o jovem Marco Pérez, colhido nas vésperas da corrida, saiu o excelente matador português Manuel Dias Gomes, que sempre que actua evidencia condições técnicas e artísticas importantes, porém não actua tanto quanto merece, pois no nosso país quase sempre se optam por diestros espanhóis, deixando os portugueses nas bancadas. Nada temos contra a vinda de matadores da categoria de Morante, de El Juli ou de Roca Rey, claro, mas quando vêm segundas ou terceiras figuras espanholas e os matadores lusos ficam em casa, é de bradar aos Céus.

Uma vez mais, Dias Gomes aproveitou esta oportunidade e exibiu-se num plano de dignidade muito elevado. Em ambos os toiros que enfrentou tirou tudo o que havia para tirar, e tanto foi, especialmente no seu segundo, que saiu de maravilha. Elegante e repousado com o capote, Manuel Dias Gomes esteve em grande plano. Depois dos tércios de bandarilhas, em que se evidenciaram os bandarilheiros Joaquim Oliveira e João Martins, Manuel Dias Gomes rubricou duas excelentes faenas. Tranquilo, senhor de si e dos seus recursos, que são muitos, o diestro lisboeta rubricou duas excelentes faenas, pautadas pelo saber evidenciado na escolha dos terrenos, das distâncias e do andamento, deixando o toiro investir com alegria na flanela proporcionando momentos de belo efeito estético. Muito bem!

A corrida foi dirigida pela Directora Ana Pimenta, assessorada pelo médico veterinário Dr. José Luís da Cruz, as quadrilhas andaram sempre em bom nível técnico e uma palavra também para a Banda que transmite uma alegria e vivacidade excelentes.

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