Nuno Domingos, mentor do Projecto In.Santarém.

Este Verão traz a Santarém o quinto ano do projecto In.Santarém. Ano de “viragem” onde se observa “uma mudança mais estrutural, passando de projecto de promoção do desenvolvimento do Centro Histórico, para a lógica de um festival de artes”. Esta é a opinião de Nuno Domingos, mentor do projecto, que nesta entrevista ao ‘Correio do Ribatejo’ aborda a evolução da iniciativa que surgiu para levar vida ao centro histórico da cidade e traça um balanço “bastante positivo” das quatro últimas edições, considerando até que o In.Santarém poderá, muito em breve, atingir relevo nacional e até internacional. “O potencial existe e espero vivamente que esse objectivo venha a concretizar-se”, conclui.

O Nuno Domingos foi o mentor do projecto In.Santarém. Que espera da edição deste ano?
Sim, de facto fui o mentor deste projecto e de algumas das suas iniciativas, como esta que na altura se denominou Verão In.Str, por sugestão do parceiro Carlos Oliveira e teve como assinatura “…é um espanto!”, por proposta do malogrado artista Mário Rodrigues, outro dos parceiros. E esta referência serve para sublinhar que tendo sido o mentor do projecto, ele cresceu e desenvolveu-se no contexto de uma parceria, que se foi alargando em número e participação de pessoas e instituições envolvidas e com uma ligação muito intensa, com os decisores políticos da Câmara Municipal de Santarém.
Nesta edição, o In.Str tem coordenação do projecto Santarém Cultura, com uma aposta de programação centrada no conceito de Festival de Artes.
Neste contexto, vão ser oferecidos um conjunto de grandes espectáculos, mas também intervenções artísticas diversificadas, mantendo-se algumas das acções que já vinham das edições anteriores, nomeadamente a campanha em torno das Pombinhas de Santarém, o Festival de Street Food, o SoundSet Fest, o Festival de Estátuas Humanas, alguma da programação dos próprios agentes culturais, gala da UTIS, Serenata de Coimbra, entre outras. Vai certamente ser mais uma edição de apresentação de projectos de grande qualidade artística e cultural.

O programa deste ano tem ainda mais iniciativas, o que destaca desta edição?
No programa deste ano, ocorre uma viragem importante no projecto. Não é a primeira vez que se observam alterações, elas aconteceram todos os anos, mas esta será a mais significativa. Desde logo, porque o projecto passou a integrar-se uma intervenção cultural mais lata do município, nomeadamente o projecto Santarém Cultura. Por outro lado, se é constatável que se mantêm a diversidade das intervenções artísticas, observa-se uma mudança mais estrutural, passando de projecto de promoção do desenvolvimento do Centro Histórico, para a lógica de um festival de artes. Acresce que se acentuou uma tendência, que já se vinha desenhando antes, de passar de um modelo de evento assente primordialmente na produção cultural e artística local, para um modelo em que permanecendo essa linha de trabalho, se reforça um pouco mais a aposta na vinda de artistas exteriores ao território, o que naturalmente trará acrescida visibilidade à cidade.

Quando lançou a iniciativa, há cinco anos, esperava que poderia vir a atingir este patamar?
O projecto In.Str, nasceu num contexto de grandes dificuldades, de profundo desanimo e descrença, num quadro de abandono do centro da cidade, com perca de funções, actividade económica e habitantes. Vivia-se o momento mais difícil da crise económica em que o nosso país estava mergulhado e o próprio município, enfrentava um complexo e difícil processo de desendividamento.
Nessa altura, o que sobretudo se desejava era contribuir para o desenvolvimento do centro histórico, para o aumento da autoestima dos seus habitantes, para o reconhecimento do valor artístico, patrimonial, civilizacional e identitário daquele território e valorizar a experiência de viver e vivenciar, visitar e trabalhar no centro. Unir as pessoas, mobilizá-las, mostrar que apesar de todas as dificuldades era possível construirmos um futuro melhor, se todos nos uníssemos em torno de alguns objectivos e arregaçássemos as mangas.
Neste contexto, foi sempre muito importante ouvir o que as pessoas tinham para dizer, procurar acolher as suas observações, aprender com aquilo que a realidade de todos os dias nos pode ensinar e todos envolver neste projecto que se tornou comum e, também nesse contexto foi fundamental a disponibilidade e a resposta dos agentes artísticos.
Foi por isso que foram sendo promovidas acções envolvendo pastelarias e restaurantes, utilizadas lojas devolutas que foram transformadas em galerias de arte, desenvolvidas acções centradas no comércio de retalho do centro, promovidas visitas guiadas semanais umas e mensais e temáticas outras; criado o MiniBus do Centro Histórico, com visitas guiadas diárias e gratuitas, o que permitiu, sobretudo à população idosa, visitar zonas da cidade que por dificuldades próprias já não visitava há muito tempo.
E, com estas preocupações, o projecto foi sempre crescendo, para o que muito contribuiu a participação de um número que tem sido sempre crescente de apoios de patrocinadores, bem como a melhoria das finanças municipais.
Com o natural desenvolvimento do projecto, e a oportunidade de receber os prémios de melhor evento turístico da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, o projecto que já tinha ganho a cidade, ganhou maior visibilidade e notoriedade, para o que também contribuíram as parcerias com a CP e a Rodoviária do Tejo. Neste contexto sim, pensámos que o projecto tem potencial para crescer a afirmar-se de forma significativa.

Na sua opinião, o projecto está a seguir a direcção inicialmente pensada?
Os projectos quando são desenhados, procuram atingir alvos e objectivos, definida que esteja a sua missão e visão (missão de curto prazo). Naturalmente que ao longo do tempo têm sempre que se adequar às alterações, naturais a todos os processos sociais e humanos, aproveitando oportunidades, evitando ameaças, ou, na medida do possível, transformando-as em novas oportunidades.
Com isto quero dizer que se os valores dos projectos se devem manter, porque são eles o garante do cumprimento dos seus fins, já as questões de estratégia e de táctica projectual, sempre de mais curto prazo, serão, naturalmente resultantes da necessidade de ser adequadas às condições reais, às disponibilidades, às capacidades concretas e de cada momento.
Actualmente, foi definida uma nova estratégia para o projecto, de acordo com aquilo que os actuais responsáveis pela sua direcção técnica e política consideram mais apropriado e nesse sentido, abrimos um novo caminho que, como em todos os projectos, só o futuro permitirá confirmar como uma boa opção, ou sugerir alterações que se venham a considerar pertinentes.

Que balanço faz das últimas quatro edições?
O balanço que faço das quatro edições já realizadas, como se pode depreender do que antes expendi é bastante positivo. Poder-se-á sempre pensar que poderíamos ter feito isto ou aquilo de outra forma, mas esse raciocínio só nos serve se for aproveitado para corrigir em acções futuras. Hoje, olhando para trás, sabendo o que se sabia naqueles diferentes momentos em que tivemos que fazer opções, considero que o projecto se salda de forma muito positiva e, estou certo que essa experiência a os novos olhares que agora são postos à prova, decerto permitirão um crescimento ainda maior e mais relevante na promoção do nosso desenvolvimento artístico, cultural, social e humano e, por isso, também na maior capacitação para atrair e acolher fluxos turísticos, promovendo globalmente o desenvolvimento.

Pensa que no futuro o In.Santarém possa atingir relevo nacional e até internacional?
Importa registar que nas edições anteriores e mais uma vez nesta, o projecto In.Str irá acolher diversos grupos artísticos estrangeiros, o que muito nos honra. Especificamente em relação à sua pergunta, penso sinceramente que sim, que o potencial existe e espero vivamente que esse objectivo venha a concretizar-se.

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