A região do Tejo sempre se destacou por ser o coração agrícola do País. Apesar disso, por muito tempo passou a imagem errada de região de vinhos de pouca qualidade e expressão, com grandes volumes e preços baixos. Essa imagem vem sendo mudada paulatinamente graças a uma nova estratégia de marketing que vem estimulando os produtores da região a procurar uma alta qualidade nos seus vinhos, graças à utilização de tecnologia de ponta e à valorização da riqueza das suas castas autóctones. Na passada sexta-feira, dia 2, a CVR Tejo reuniu, na Quinta da Marchanta, em Valada, um conjunto de jornalistas e especialistas nacionais ligados ao mundo do vinho para dar a conhecer um dos seus principais trunfos: o Castelão, a casta tinta mais representativa no Tejo, que possui um excelente poder de adaptação a condições de solo e clima muito diversificadas. No Tejo, a casta entra praticamente em todos os lotes de vinho tinto e a sua versatilidade é tal que, para além de vinhos tintos se produzem vinhos rosés, vinhos espumantes e até, vinho branco de uvas tintas. À margem desta iniciativa, o Correio do Ribatejo esteve à conversa com Luís de Castro, presidente da CVR Tejo, que nos deu nota de uma região vitivinícola que está em franco crescimento. A certificação de vinho cresceu 11% na região nos primeiros quatro meses de 2021, em termos homólogos e, no ano passado, a CVR aumentou em 28% a certificação de vinhos para atingir quase 30 milhões de litros certificados, número que a comissão contava atingir em 2023.
Qual é a actualidade da Região Tejo?
A Região Tejo parecia estar adormecida, mas não estava. Ultimamente, tem crescido muito sobretudo em termos de vinho certificado. Esta era uma região que produzia muito vinho, mas certificava pouco. Há quatro anos certificávamos cerca de 20% do que se produzia e, este ano, vamos ultrapassar os 50%.
O caminho é atingir 75% da produção em 2025. E isso está inscrito no nosso plano de acção. Outra grande preocupação é a sustentabilidade. A exportação, a escolha dos mercados de exportação, entre outros factores. E o futuro será risonho para a região e para os produtores, assim espero.
A CVR pretende vincar a qualidade dos seus vinhos, valorizando as suas castas?
O Castelão foi daqui para outros lados. Não há fronteiras e, portanto, é normal que assim aconteça. Assim como já fizemos uma série de trabalhos sobre a casta Fernão Pires, nos vinhos brancos, a intenção é valorizar o que de melhor temos. Também o Castelão, que em tempos foi chamado João de Santarém, é uma casta identificadora desta região e iremos, com certeza fazer outras acções para divulgação desta casta, como casta identificadora da região.
Para os vinhos do Tejo é importante este tipo de associação?
Pretendemos que isso aconteça, que as pessoas associem as castas, como acontece com outras regiões. São castas que se deram bem nesta região historicamente e, por algum motivo, não foram tão acarinhadas durante alguns anos, mas devemos voltar atrás, aprender com o que aconteceu no passado e acarinhar essas castas de novo.
Este tipo de campanhas está mais direccionado para o mercado nacional?
No mercado internacional, há uns anos atrás, um vinho com casta nacional se não fosse um blend com uma casta conhecida estrangeira não teria sorte para entrar nesse mercado. Já tive essa experiência e, para ter sucesso, era necessário associar as duas castas. Hoje em dia, internacionalmente, as castas autóctones são acarinhadas pelo menos pelos ‘opinion makers’ e, depois, isso transmite-se com o tempo aos consumidores. Essa preocupação é uma preocupação que vamos ter que ter cá e no estrangeiro.
Estamos a realizar uma prova dos nossos vinhos em São Petersburgo, e há poucos dias aconteceu uma prova também em Moscovo. Temos também um embaixador na Rússia, bastante conhecido lá, e uma das coisas que ele veio cá à região conhecer foi as castas autóctones, nomeadamente o Castelão.
Dentro da região, da parte dos produtores já há alguma sensibilização no sentido da valorização desta casta?
Temos sentido que, quer no vinho branco, com a casta Fernão Pires, quer no tinto, com o Castelão há a intenção de colocação de novas vinhas com essas castas.
E engarrafamentos de vinhos monocasta já começam a aparecer?
Sim, já começam a aparecer, apesar de tradicionalmente ser uma região, aliás como o país todo, de blend de castas. Mas, de qualquer forma, já começa a aparecer: vai continuar a ser uma região de blends. Aliás, nesta região, como é sabido, há blends com castas estrangeiras e há monocastas estrangeiras de muito boa qualidade e isso vai continuar a acontecer. Mas isso não vai prejudicar este caminho que estamos a seguir, quer com o Castelão quer com o Fernão Pires.
A região dos Vinhos do Tejo está a certificar em grande quantidade. Em 2025 querem atingir os 75% dos vinhos certificados, é uma região em crescimento?
Sim, mas é preciso ver que há muitas regiões que já atingiram isso há muito tempo: nós é que estamos um pouco atrasados. Há muitas regiões que certificam tudo e nós temos que ir por esse caminho. Não podemos continuar a produzir vinhos para ir parar a outros lados. Temos que valorizar os vinhos desta região, aumentar o seu preço médio e o reconhecimento do consumidor de que o vinho proveniente desta região é um vinho de qualidade.
Quais são os grandes trunfos desta região vitivinícola?
As condições edafoclimaticas [características relativas aos solos e ao clima] da região são excepcionais. Isto é: a associação da terra, do clima e a presença do rio. O rio marca a região e os seus vinhos porque cria um clima muito especial, diferente dos climas mais áridos de outras regiões. Ainda nos últimos dois dias estava muito sol, mas, de noite, a região estava coberta por uma bruma que, de facto, arrefece bastante a temperatura nocturna e isso vai-se reflectir, depois, nos vinhos.
Acho que os nossos vinhos são leves, frescos, quer os brancos quer os tintos. O que diferencia um pouco dos das outras regiões. E, hoje em dia, o consumidor procura mais esse tipo de vinhos.
O País e o mundo viveram tempos difíceis nesta pandemia, o que perspectiva agora para o futuro para o sector?
Há regiões que sofreram muito com a situação. Nas regiões onde os espumantes são dominantes, por exemplo. Os momentos de festa desapareceram e isso reflecte-se. Mas nós, na região, apesar de tudo, temos um crescimento que tem sido exponencial e temos vinhos nas grandes superfícies.
A certificação de vinho cresceu 11% na região do Tejo nos primeiros quatro meses de 2021, em termos homólogos. Nos primeiros quatro meses do ano, passaram pelo crivo da comissão vitivinícola 11,3 milhões de litros.
Abril foi o melhor mês de sempre, com 3,6 milhões de litros de vinho certificado, entre DOC Do Tejo e IGP Tejo e, no ano passado, a CVR aumentou em 28% a certificação de vinhos do Tejo para atingir quase 30 milhões de litros certificados, número que a comissão contava atingir em 2023.
Isto é, sem dúvida, reflexo de que os Vinhos do Tejo continuam no bom caminho e que estão a beneficiar do aumento de notoriedade e da quota de mercado já conseguida. A continuar assim, podemos vir a ultrapassar bastante o objectivo de crescimento fixado para este ano: previu-se um aumento de 5% face a 2020, ano que que os Vinhos do Tejo levaram à certificação quase 30 milhões de litros, ultrapassando todas as expectativas, mesmo as que estavam previstas para 2023. A manter- se esta performance, poderemos chegar aos 33 milhões de litros.
Mas isto tem que estar a par de um aumento da notoriedade. Eu costumo dizer que há duas qualidades. Há uma qualidade intrínseca do produto e, depois, há a qualidade reconhecida. Há um trabalho a fazer, mas estamos no bom caminho.