A propósito dos 42 anos do Instituto Politécnico de Santarém, o Correio do Ribatejo entrevistou o presidente da instituição que se afirma “do mundo e para o mundo”.
João Moutão quer um politécnico cada vez mais forte que, na próxima década, terá de se projectar “como uma instituição líder e de excelência, no ensino superior politécnico à escala global, na formação de Pessoas e no valor que oferece à sociedade”.
Qual seria, neste aniversário, o melhor presente para o IPSantarém?
O melhor presente, não só para o IPSantarém, mas para todos os Politécnicos, seria aprovação na Assembleia da República do projecto de lei constante da Iniciativa Legislativa de Cidadãos “Valorização do ensino politécnico nacional e internacionalmente”, a qual será apreciada na generalidade dia 24 de Junho. A aprovação desta proposta permitirá aos Politécnicos a atribuição do grau académico de doutor e a alteração da sua denominação para Universidades Politécnicas.
Esta alteração legislativa permitirá dar continuidade ao trabalho que tem sido realizado pelos Politécnicos nos diferentes territórios, possibilitando a realização de doutoramentos de natureza profissional, já prática corrente nos restantes países da Europa, onde, para os Politécnicos, é utilizada a denominação de University of Applied Sciences. No caso de Santarém, será algo que irá transformar totalmente o papel do IPSantarém na região ao nível da inovação e da produção e transferência de conhecimento, permitindo a atracção de jovens investigadores nacionais e internacionais.
Quais são os grandes desafios que o Instituto está a enfrentar e aqueles que estão identificados num futuro próximo?
A formação superior irá passar por uma grande transformação, onde a formação de adultos e a formação ao longo da vida será determinante em todas as áreas de actuação profissional. Isso implica que as Instituições de Ensino Superior se adaptem a novas formas e formatos de ensino. O público adulto não tem disponibilidade para estar a
frequentar um curso por um longo período de tempo em contexto de sala de aula. A formação terá de ocorrer, na maior parte das vezes, em contexto laboral e em períodos de tempo curtos e circunscritos no tempo. Estes cursos terão de conduzir à atribuição de microcredenciais certificadas, as quais serão possíveis de acreditar noutras ofertas formativas mais longas. Dessa forma, os percursos de aprendizagem serão diversos e individualizados em função das necessidades das pessoas e dos seus percursos. Esta será a maior revolução no ensino superior depois de Bolonha e levará à necessidade de adaptação do nosso corpo docente a estes novos formatos de ensino, o que nem sempre é fácil porque significa, muitas vezes, sair da zona de conforto.
De que forma o IPSantarém vai aproveitar o Plano de Recuperação e Resiliência?
O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) será uma oportunidade única que iremos aproveitar ao máximo, através da realização de candidaturas aos avisos relacionados com a nossa missão. Dou, como exemplo, as candidaturas que apresentamos aos programas «Impulso Jovens STEAM» e «Impulso Adultos» orientados exclusivamente para aumentar a graduação superior de jovens e apoiar a conversão e actualização de competências de adultos activos, através de formações de curta duração. No âmbito destes programas o IPSantarém participou em dois consórcios de formação, um para dar resposta à estratégia de desenvolvimento da região do Alentejo e outro para resposta a necessidades de formação na região Norte de Lisboa.
O consórcio da região do Alentejo integra os Politécnicos de Portalegre, Santarém, Setúbal e Beja, para além da Universidade de Évora, e foca-se nas seguintes áreas: economia circular; novas tecnologias;) energias renováveis. No âmbito deste consórcio iremos ter a oportunidade de oferecer uma nova licenciatura em Engenharia e Gestão Industrial, com o envolvimento da Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Santarém e disponibilizar cinco novos Cursos de Pós-Graduação, em áreas como: Inovação tecnológica; Dieta mediterrânea; Protecção de activos digitais; Cibersegurança; Desporto, Tecnologia e E-Sport.
No caso do consórcio criado para dar resposta às necessidades de formação na região Norte de Lisboa, participam a Escola Superior Náutica Infante D. Henrique e os dois Politécnicos do Distrito, Santarém e Tomar, permitindo a cooperação entre ambas as instituições no desenvolvimento de ofertas formativas conjuntas. No âmbito deste consórcio estão já em funcionamento, neste ano lectivo, Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP), nos municípios de Vila Franca de Xira, Arruda dos Vinhos e Loures, os quais serão complementados no próximo ano com novas ofertas formativas nos municípios de Amadora, Sintra e Ericeira, em áreas de formação como a Viticultura, Design Digital, Acompanhamento de Crianças e Jovens, Técnicas de Programação e Surfing. Ao nível dos cursos de Pós-Graduação estão a ser preparados três novos cursos nas áreas de Educação STEAM; Hospitalização domiciliária e Surfing.
Ainda no âmbito do PRR há a considerar a apresentação de projectos no âmbito da Agenda de Investigação, Inovação e Sustentabilidade da Agricultura, Alimentação e Agro Indústria, onde, através da Escola Superior Agrária, foram realizadas 8 candidaturas, uma das quais, coordenada pelo IPSantarém, já foi aprovada, no âmbito da Adaptação de sistemas produtivos em contexto de alterações climáticas (SoiLife1st) e cujo termo de aceitação foi assinado no dia 8 de Junho, na FNA, com a presença do Sr. Primeiro Ministro. No âmbito das Agendas para a Inovação Empresarial queria também dar destaque a duas candidaturas que estão a ser preparadas com o envolvimento da Escola Superior de Gestão e Tecnologia.
Como está o processo de construção da residência de estudantes de Rio Maior? Existem projectos para, em Santarém, serem construídos mais alojamentos de estudantes?
No âmbito do financiamento do “Programa Nacional para o Alojamento no Ensino Superior – PNAES” através do Plano de Recuperação e Resiliência – PRR, o IPSantarém realizou várias candidaturas. No caso da cidade de Santarém, apenas duas candidaturas passaram à 2ª fase de avaliação, relacionadas com a requalificação de alguns quartos que existem nas Escolas Superiores de Educação e Agrária, e que se encontravam inutilizados por falta de condições. No caso de Rio Maior, houve também uma candidatura, apresentada pela autarquia, que passou para a 2ª fase e que irá permitir a disponibilização de 50 camas para estudantes. Relativamente à residência de estudantes prevista para o campus da Escola Superior de Desporto de Rio Maior, a sua construção já se iniciou, com recurso às verbas transferidas através do Orçamento de Estado, havendo a necessidade de atender ao aumento do valor de construção que duplicou nos últimos 6 meses. Estamos em conversações com a tutela para encontrar soluções de reforço do financiamento que permitam a finalização desta obra.
Como avalia os resultados do concurso nacional de acesso deste ano e quais são os cursos com maior procura e as áreas com maior empregabilidade?
Os resultados foram muito positivos. Este ano lectivo foram disponibilizados 53 ciclos de estudos, mais cinco que o ano passado, repartidos entre CTeSP, Licenciaturas e Mestrados. O número de novos estudantes cresceu 14% (mais 218) e atingiu os 1745,nfazendo ascender o número de estudantes matriculados acima dos 4500, ou seja, o número mais elevado de sempre da história do IPSantarém. Tudo isto com a satisfação acrescida de ver a taxa de empregabilidade dos diplomados acima de 96%, o que atesta a adequabilidade da oferta formativa ao mercado de trabalho e a qualidade técnica, científica e pedagógica da nossa formação. O aumento da procura, felizmente, tem-se verificado em todas as áreas de formação.
Está prevista a reformulação de cursos e ampliação da oferta formativa?
A oferta formativa está em constante adequação. Nessa medida iremos disponibilizarno próximo ano uma nova licenciatura em Biologia e Biotecnologia Alimentar, a qual visa a formação inicial em ciências biológicas complementada com uma formação em biotecnologia focada nas utilizações
dos sistemas biológicos (seres vivos, células, biomoléculas ou os seus bioprocessos) na obtenção ou modificação de produtos e processos com interesse para as sociedades.
Pretende-se analisar estas aplicações biotecnológicas desde a produção a transformação agro-alimentar, passando pela depuração de águas, biorremediação dos solos, aproveitamento,
tratamento e valorização de resíduos e subprodutos, não esquecendo a preservação e utilização de recursos genéticos animais, vegetais e de outros seres vivos.
Como é que o Instituto se posiciona ao nível da internacionalização e captação de alunos internacionais?
Apesar do impacto regional que temos, identificamo-nos como uma instituição do mundo, para o mundo. O número de estudantes estrangeiros no IPSantarém é de 409 (9%), de 31 nacionalidades diferentes. No último ano o crescimento de estudantes internacionais foi 70%, com especial destaque para a procura de estudantes do Brasil, o que reflecte uma política de internacionalização que passa por fazer de Santarém a capital do estudante do Brasil, dando sequência aos laços históricos que existem.
A nível europeu, caminhamos cada vez mais para a construção de um espaço único de ensino superior, através da criação de redes de universidades europeias. Este será também o caminho que iremos definir para a próxima década. Para dar apoio a esta política, durante a semana de aniversário do IPSantarém encontra-se a decorrer a nossa XI Semana Internacional, com a participação de várias instituições europeias para analisar o impacto do Programa Erasmus+ ao nível da internacionalização das Instituições de Ensino Superior.
Quais são os projectos mais emblemáticos nos quais o IPSantarém participa?
O IPSantarém está a investir na construção de comunidades de professores para promover projectos de co-criação com empresas. Entre 2021 e 2023 serão promovidas seis acções de capacitação. Em cada acção de capacitação participam 10 professores: 8 do IPSantarém e 2 de Escolas Profissionais. O objectivo do programa é capacitar os professores para interagir com empresas, preparar alunos para melhor atender às necessidades da comunidade, modernizar a cultura educacional e desenvolver currículos. Na capacitação, os professores aprenderão a utilizar práticas pedagógicas modernas e aplicadas globalmente. Ganharão confiança para utilizar novas ferramentas e métodos, para capacitar os alunos a participarem no desenvolvimento sustentável e na resolução de desafios futuros. Os participantes da capacitação vivenciam o processo de co-criação como co-criadores e também como facilitadores.
Como perspectiva o futuro do IPSantarém na próxima década?
O IPSantarém terá de se projectar na próxima década como uma instituição líder e de excelência, no ensino superior politécnico à escala global, na formação de Pessoas e no valor que oferece à sociedade, prosseguindo os valores da ética e da boa conduta, da inclusão e da igualdade, do rigor, da exigência, da inovação e da responsabilidade social.