As últimas eleições trouxeram-nos algumas surpresas, mas creio que há uma que supera todas as outras.
A aquela primeira e caricata cena na eleição do presidente do Parlamento, que foi do tipo “eu deixo-te ir para lá, mas tu também votas em mim, porque eu também quero sentar-me naquele banco” … foi de ir às lágrimas, mas também deu o sinal de partida para transformar o hemiciclo num jardim infantil gigante.
Efectivamente, este estabelecimento que acolhe as crianças do nosso país, é o primeiro embate que elas vão ter, aprendendo a competir, porque é isso que irão encontrar ao longo da sua futura vida. Ali se luta diariamente pela atenção das educadoras, por um lápis de cor, por uma borracha, por um banco, por um lugar na fila, quando não por um colo, um mimo, ou um acalmar de uma birra.
Todos querem ser os primeiros em tudo. Nos jogos, como na perfeição dos números ou das letras. Ali se perfilam os primeiros líderes, os mais bonitos, mas também os que não foram abençoados pela beleza.
E na sua ingenuidade as crianças também não deixam de ser cruéis, desde logo para os mais frágeis, que apontam com risos de troça e escárnio. Numa palavra. Rapidamente aprendem que, a todo o custo, não se pode ficar para trás.
Pois, por mais incrível que lhes possa parecer, é esta “guerra” que eu vejo a acontecer na actual Assembleia da República.
Todos os “meninos” se querem chegar à frente. Por cada medida (leia-se benefício) que o governo decide, a oposição afirma em uníssono que é pouco e que se fosse ela dava mais; por cada nova medida anunciada, logo é apelidada de ter sido roubada ou copiada de outros partidos.
Até já se ouviram protestos ao governo, porque os professores e os polícias não foram já atendidos nas suas reivindicações, passados trinta dias de governo, quando o cessante não o conseguiu fazer em quase cem meses de vigência.
Habituei-me a ouvir debates na Assembleia, onde o pão nosso de cada dia eram os gastos excessivos do executivo. Nesta legislatura inverteu-se tudo. Agora, é ver quem gastaria mais, se governasse, . É certo que a Casa da Moeda vai fabricar dinheiro. Mas não devem tem reparado que são apenas moedas de dois euros. Não são notas de mil!!!
Tudo e o seu contrário serve para criticar. Desde que dê “boneco” nas Tvs e tempo de antena, é o que se pretende. Até o Livre, em levitação com o seu estrondoso resultado eleitoral, disse, no seu recente encontro nacional, que têm de se preparar para ser governo em Portugal. Mesmo dito com cara de pau, perdeu-se toda a noção de ridículo, sobrepesando a inteligência do eleitorado nacional.
A Aliança Democrática, com uma frágil vitória eleitoral, mas que é tão válida democraticamente quanto outra mais robusta, está assim a deparar-se com várias frentes de oposição. Nas ruas, por acção dos sindicatos e estes mais ao serviço dos partidos do que dos seus associados e também na Assembleia, onde ainda reina um clima de campanha eleitoral.
Estranho clima este. Onde, por entre dentes, se ameaça com eleições antecipadas, mas não suficientemente alto para que os eleitores não os ouçam a sério. Todos as querem, mas ninguém avança. Os interesses dos portugueses ficam para mais tarde, ou seja: Nós primeiro!
Creio que os meninos deste imaginário jardim infantil têm de tomar precauções. Senão, um dia destes, começa a chover nos seus recreios.