Entrevista a Pedro Filipe Oliveira, actor

Que impactos está a ter a pandemia no seu trabalho?

Cancelamento praticamente total. Em 2020 tinha um calendário muito promissor, iria ser um dos melhores sempre e foi tudo cancelado. Só fiz meia-dúzia de apresentações, se tanto. Ainda consegui fazer alguma publicidade, umas participações em televisão e pouco mais.

Quais são as maiores dificuldades?

Gerir as contas quase diariamente, mas tenho a sorte de ter ajuda da família. Gerir o tempo com mulher uma filha de cinco anos fechados em casa tem sido também um desafio difícil, principalmente manter a esperança de dias melhores no futuro.

Que projectos foram adiados?

Olhe, desde os espectáculos regulares do Memorial do Convento, no Palácio Nacional de Mafra, projectos com a Câmara de Sintra, uma digressão a Espanha com o espectáculo dos Super Wings (desenhos animados do canal Panda), uma ida à Noruega com a Patrulha Pata e outros que poderiam vir naturalmente a surgir.

De que forma tem tentado manter o contacto com o público?

É complicado quando, durante tanto tempo, a forma mais privilegiada de contacto com o público foi o palco. Ainda gravei um espectáculo para crianças para ser transmitida on-line e gravei uns vídeos sobre Os Maias, de Eça de Queiroz, para as escolas, na personagem de Carlos da Maia, que interpreto desde 2010 num espectáculo da Éter-produção cultural.

De resto, Facebook e Instagram são bons meios para o público saber o que ando a fazer.

Sente falta do palco?

Muita, imensa!!! Cada vez que tenho a oportunidade para o fazer, agarro a oportunidade como se fosse ouro. Pensava que não era possível dar mais valor por estar a fazer o que gosto, mas enganei-me. É como voltar a respirar.

Como antevê o pós-pandemia? Os espectáculos on-line vieram para ficar?

Vejo que vem aí uma enxurrada de vontade de fazer espectáculos e recuperar o tempo perdido. Espero que isso que se traduza em muito trabalho.

Os espectáculos on-line, sem dúvida, que vieram para ficar. Já existiam antes da pandemia, mas agora tiveram uma explosão necessária. Penso que o que falta é organização e rentabilização, mas com o tempo a coisa vai ao sítio. É um excelente veículo para divulgar o trabalho dos artistas e companhias e uma oportunidade para o público ver espectáculos que já não estão em cena e para quem não tem oportunidade de se deslocar ao teatro. Seria interessante criar uma plataforma do género Netflix ou Spotify, mas só para as artes performativas, com produções nacionais e estrangeiras, com versões gratuitas, com publicidade ou pagas. Seria uma nova forma de rendimento para os artistas (desde que pagos convenientemente), daria a oportunidade aos desconhecidos em darem-se a conhecer e despertaria a vontade de novos públicos verem espectáculos ao vivo.

E quanto aos apoios? Existem ou são uma miragem?

Continuam a ser escassos. Há tanto tempo que se exige 1% do orçamento de estado para a cultura como ponto partida para 1% do PIB. Estamos em 0,24% do orçamento e não vejo nenhuma vontade política de mudar isto por parte dos partidos do arco do poder. Não é suficiente sequer para apoiar todas as candidaturas elegíveis, quanto mais em pensar em novas perspectivas.

Seria importante a criação, por exemplo, do estatuto de artista que reconhecesse esta categoria profissional e exigisse a devida protecção social?

O ministério da Cultura já tem pronto um projecto para o estatuto do artista no que diz respeito ao regime fiscal, ao estatuto laborar e de segurança social. É um ponto de partida mas, ainda há muita discussão a fazer. Sem dúvida que é importante, é uma reivindicação de décadas.

Para além de apoio pecuniário, que outras medidas seriam necessárias para relançar a produção artística?

Ter um Mistério da Cultura que tenha gente suficiente e especializada, capaz de    estruturar convenientemente o sector e geri-lo com rigor e detalhe. Para além da desorientação, a DGartes tem falta de gente. O desinvestimento é total. No entanto, o peso do sector no PIB é superior a 2% e muitos especialistas apontam a aposta na cultura para recuperar a economia depois da pandemia. É preciso apostar na cultura, tal como no passado se apostou no turismo. Temos equipamentos, meios materiais e artistas de qualidade que sobram para isso.

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