Por vezes, a política ainda tem a capacidade de nos surpreender, pela sequência de factos que gera, uma vez que é através da palavra dos seus actores que prende os compromissos que são assumidos, sejam eles impostos ou voluntários.
Sejamos claros. Na anterior legislatura, o PS andou, diariamente, a insuflar o Chega, a dar-lhe palco, porque se convenceu ser essa a forma de enfraquecer o PSD, seu tradicional antagonista político.
A tática resultou, porque o PS, apoiado pela esquerda e também por alguma direita, foi pintando umas linhas vermelhas, obrigando o PSD, primeiro a dizer que não se coligaria com o Chega, para acabar afirmando, veementemente, que “não era não”.
Mas, ao insofrido Montenegro, não bastou dizê-lo uma só vez. Teve de o afirmar de manhã, à tarde e à noite, dias e dias até à exaustão e mesmo assim não conseguiu convencer a totalidade do seu eleitorado, o que se reflectiu na exígua vantagem da sua vitória eleitoral. Foi por “um fio” que o PS não teve à disposição uma nova geringonça, o que levou o seu secretário geral a colocar-se na oposição logo na noite eleitoral.
Contra ameaças de ventos e marés a AD avançou para o governo e, curiosamente, duas coisas aconteceram.
Nas manhãs, perante o anúncio de mais uma medida, o PS pensou porque é que não se tinha lembrado de a fazer quando era governo. O que o PS não antecipou é que o “não é não” que exigiu a Montenegro se transformou agora em “sim é sim”, com que lhe acena o Chega de cada vez que vota ao seu lado.
É obvio que Ventura está a tentar o dois em um. Enquanto desgasta o governo, aplica um sim corrosivo ao PS, seu “compagnon de route”, cada vez que lhe passa o braço pelo ombro, tornando suas as propostas socialistas.
O PS menosprezou a capacidade de crescimento do Chega. Pensou num animal de guarda, com ladrar agressivo, mas de médio porte. Nunca pensou que os seus votos pudessem fazer destas maiorias no hemiciclo. O perigo é agora o seu domador ser engolido pela sua obra.
O que Pedro Nuno Santos diga como justificação, não conta para nada. Hoje, quem decide que tipo de voto utiliza o Chega, é Ventura. E se vota positivamente, o embaraço fica sempre para o PS. Coisas da política, que não pára de nos surpreender.
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A terminar esta crónica, li uma notícia que muito me estranha, pelo que julgo ser conveniente haver um esclarecimento por parte da Camara Municipal de Santarém, entidade visada no texto publicado no site Farpas Blogue.
“Parece mentira, mas é verdade. O Município de Santarém, que se diz taurino e aficionado e que afirma querer ser patrocinador da Capital da Tauromaquia, está a multar as empresas tauromáquicas que tiveram os seus cartazes colados nas paredes, em zonas que não lhe dizem respeito, colados ao lado de outros que anunciavam as corridas de Santarém”.
Verdade acima de tudo. Ficamos a aguardar esclarecimentos.