O conceituado toureiro navarro Pablo Hermozo de Mendoza despediu-se da Arena d’Évora no passado sábado, culminando, assim, uma série de actuações onde sempre agradou à afición alentejana pela qualidade do seu toureio, pela indesmentível entrega em cada tarde e pela dimensão apoteótica que tão bem representa.
Muito inspirado no toureio Mourista, Pablo foi capaz de lhe acrescentar alguns aspectos muito personalizados que lhe permitiram impor-se ao longo de quase três décadas de toureio, tendo-se apresentado sempre em plano de figura máxima nos principais tauródromos mundiais.
Ao seu estilo, tão afastado do antigo rejoneio, Pablo Hermozo de Mendoza sempre privilegiou uma abordagem mais classicista, na linha criada por João Moura, pisando terrenos de grande compromisso, citando de frente e recortando-se na cara do toiro, ladeando a duas pistas com um temple incrível e rematando cada sorte com encanto e poderio notáveis.
Pablo diz adeus às arenas num tempo em que ainda manda no toureio equestre, quando ainda empolga o público, que se lhe rende tão entusiasticamente, porém quer sair para acompanhar de mais perto a carreira de seu filho, Guillermo, que também já vai conquistando o seu lugar entre os melhores. O tauródromo eborense não esgotou a sua lotação, em tarde de temperaturas insuportáveis, mas registou uma boa entrada de público.
Para além da classe e da honradez de Pablo, como cavaleiro, cumpre destacar a qualidade insuperável das suas montadas, autênticas máquinas que lhe permitem encontrar soluções técnicas e artísticas para quase todas as situações. Um portento! João Moura, primeiríssima figura do toureio equestre e grande inspirador do toureio de Pablo, andou irregular na sua primeira lide, com excessiva intervenção da sua quadrilha, o que proporcionou algum desencanto do público, que protestou assobiando, porém, na lide do seu segundo João Moura rebuscou os seus pergaminhos e mostrou convincentemente que mau grado a sua idade e os anos de toureio que leva, e a cuadra de que dispõe, muito inferior à de Pablo, ainda lembra os tempos áureos em que esgotava as praças e fomentava as mais acesas discussões em torno do conceito de toureio que impôs e de que fez escola. Aqui, o público foi justo e respeitou o grande toureiro que é João Moura.
João Salgueiro da Costa estava, como é costume dizer-se, entalado entre dois monstros do toureio equestre, no entanto o jovem marialva não se deixou intimidar e fiel ao seu estilo tão personalizado, em que privilegia sobremaneira o toureio frontal na sua essência técnica e artística, logrou rubricar duas excelentes actuações, especialmente a primeira que é daquelas que lembramos por muito tempo, porque tudo saiu na perfeição. Frente ao seu segundo oponente, mais complicado, João Salgueiro da Costa esteve em muito bom plano, mas manda a verdade que se diga, sem atingir o nível anteriormente exibido.
Os toiros de Santa Maria, díspares de apresentação e de comportamento, saíram a pedir muitas contas aos forcados que os enfrentaram – Grupo de Forcados Amadores de Évora e Grupo de Forcados Amadores de São Manços – tendo sido necessárias dezoito tentativas para pegar estes seis toiros, média muito elevada para o que é habitual nestes dois conceituados Grupos.
Pelos Amadores de Évora, Ricardo Sousa dobrou na sua primeira tentativa o forcado Henrique Barrete, que foi desfeiteado em três tentativas, o mesmo acontecendo com Francisco Valverde que dobrou Rui Bento, e João Cristóvão consumou a sua sorte ao terceiro intento. Pelos Amadores de São Manços, o Cabo João Fortunato concretizou a sua sorte à segunda tentativa, Diogo Coutinho rubricou a sua pega à quarta, e apenas Manuel Trindade logrou consumar uma pega ao primeiro intento.
Note-se, contudo, que todos os forcados que pisaram nesta tarde a arena eborense demonstraram sempre valor e empenho para cumprir a sua dura missão, pelo que o facto de apenas um toiro ter sido pegado numa única tentativa não significa que qualquer um dos dois categorizados Grupos não tivessem honrado o prestígio das respectivas jaquetas de ramagens.