A Santa Casa da Misericórdia da Azinhaga (SCMA) foi das primeiras a aderir ao projecto “Já Dizia a Minha Avó”, criado por seis estudantes, que permite, através da troca de cartas escritas à mão, que jovens criem laços com os seus novos “avós adoptivos”.
O projeto, que visa, essencialmente, combater o isolamento e solidão dos idosos, permite, por outro lado, a transmissão de conhecimento e experiências de vida entre ambas as gerações.

O convite é simples: voltar a escrever cartas à mão para fazer companhia a quem mais precisa. E criar laços com esses “avós adoptivos”, que escrevem de volta.
Para a SCMA, trata-se de uma “excelente iniciativa” que permite combater a solidão e o isolamento social neste grupo de pessoas que, no fundo, “tem sido a grande vítima desta pandemia”.

“Este projecto tem esta componente de interacção social entre estas duas gerações e isso, para nós, é fantástico”, transmitiu ao Correio do Ribatejo Ricardo Santos, psicólogo clínico da instituição.

Neste momento, são cerca de dez os idosos da Santa Casa que se correspondem com jovens maioritariamente da zona de Lisboa. Ilda Antunes e Manuel da Silva já não passam sem os seus ‘pen friends’ e a troca de correspondência tem sido habitual. Confessam que são os seus “netinhos” a quem gostam de dar conselhos e contar histórias.

“Aderimos de imediato ao projecto porque gostamos muito deste tipo de iniciativas intergeracionais que, de facto, fazem a diferença”, acrescenta.

Para além disso, afirma o responsável, o “Já Dizia a Minha Avó” tem a componente importante de “fazer recordar” e, de certa forma, reviver “os tempos de antigamente”.
“Quando se está a relatar, a contar a história pessoal, há todo um processo de rememoração que é de extrema importância em termos de estimulação cognitiva, que é tão fulcral neste tempo”, analisa o clínico.

Por isso, Ricardo Santos não tem dúvidas que, neste tempo de pandemia, este foi um dos projectos que permitiu unificar: “a partir do momento em que a DGS decidiu encerrar os Centros de Dia, todos os utentes foram para casa e domiciliámos os nossos serviços, mas tentámos sempre estar com uma relação muito próxima, com visitas diárias e ajustando a modalidade da estimulação cognitiva, entregando documentos e as tais cartas e permitindo que eles [idosos] fizessem muitas das actividades em casa”, explicitou.

Para Ricardo Santos, a pandemia veio expor muitas fragilidades, desde logo ao nível da interacção social, que saiu “muito prejudicada”.

“E essa interacção tinha, de certa forma, uma função protectora nas capacidades funcionais. O facto de os idosos irem para casa e estarem isolados, expôs este problema. Notámos, claramente, a redução de algumas destas capacidades, que precisam agora de muito estímulo”, afirmou.

Neste aspecto, este projecto tem dado uma ajuda preciosa: “Trouxe de volta sorrisos que estavam escondidos e é muito bom para que possam contar as suas histórias a uma geração que desconhece esta realidade rural, muito diferente daquela que os jovens de hoje, sobretudo os oriundos de meios mais urbanos, desconhecem”, concluiu.
O projecto “Já dizia a minha avó” recupera, assim, a prática da escrita para combater o isolamento dos mais velhos, que com a pandemia se têm sentido ainda mais sós. Maria de Almeida, Joana Barata, Catarina Venâncio, Laura Rosa, Madalena dos Santos e Liana Asseiceiro são as responsáveis por trás desta proposta. Quando não estão a estudar Engenharia Agronómica, no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, as jovens dedicam-se a promover a criação de laços entre gerações.

“É o melhor dos dois mundos: os idosos têm oportunidade de reviver os seus tempos de juventude e os jovens de criar um novo hábito”, dizem, destacando o facto da iniciativa não só prevenir incompatibilidade de horários como permitir a participação até dos mais envergonhados. “A ideia surgiu na altura do Natal, porque começaram a aparecer projectos para envio de postais a lares, mas era uma coisa festiva. E achámos que fazia sentido ser continuada”, acrescenta Maria de Almeida.

Não há limite de idade para aderir à iniciativa: “jovem é um estado de espírito”, asseguram. Basta preencher o formulário disponível no site. Ficará automaticamente inscrito, mas terá de esperar até receber mais informações. Caso seja sénior e queira receber cartas dos jovens voluntários, também poderá manifestar o seu interesse através de um outro formulário. O processo de selecção e de ‘match’ entre correspondentes costuma seguir a ordem de inscrição, salvo quando os mais velhos fazem pedidos especiais.

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