Luís Arrais, natural de Torres Novas e residente em Santarém, lançou recentemente uma candidatura à presidência da Federação de Ginástica de Portugal (FGP). Ligado há cerca de 45 anos à modalidade, o professor de Educação Física, que já foi atleta, juiz, dirigente, entre outros, quer dar um novo rumo à ginástica, para que esta ganhe uma maior dimensão a nível nacional e internacional. Em entrevista ao Correio do Ribatejo, Luís Arrais destaca o projecto que quer para a FGP.

O que é que o levou a lançar a sua candidatura ao cargo de presidente da Federação de Ginástica de Portugal?
A decisão de lançar a minha candidatura tem por base duas razões que considero fundamentais. A primeira, o amor à ginástica, que é para mim uma condição elementar para me dedicar por inteiro à modalidade, conhecendo todas as suas dimensões. A segunda, não menos importante, é entender que o momento que atravessamos deve trazer uma mudança de rumo, que dê à ginástica em Portugal um futuro promissor e a visibilidade que ela merece. Para isso tem de haver uma liderança forte, que consiga construir pontes e que conheça a fundo os desafios e as dificuldades que a ginástica tem, a todos os níveis. Eu entendo que tenho o perfil necessário para o próximo mandato.

Qual é a sua visão e que projecto tem para a ginástica em Portugal?
A ginástica é uma das mais belas modalidades desportivas mas é também, a que tem mais dificuldade em ter visibilidade mediática. E esta condicionante aumenta a dificuldade em conseguir a sustentabilidade necessária para que os clubes e os ginastas consigam atingir objectivos maiores e que em termos de qualidade gímnica estão ao seu alcance. A minha visão, é um projecto agregador e ambicioso, que torne a ginástica mais forte, que se desenvolva em estreita ligação com todos os agentes gímnicos (ginastas, treinadores, juízes e dirigentes) numa política de proximidade, para que unidos, possamos chegar mais longe a nível nacional e internacional.

A sua experiência de 45 anos ligado à ginástica em várias vertentes é importante e fundamental para ser presidente?
Na minha opinião faz toda a diferença. Conhecer todas as dimensões da modalidade e todos os níveis de intervenção dá-nos uma visão de conjunto que nos reforça a capacidade de apresentar soluções para os desafios que temos pela frente. Ao longo de mais de 45 anos fui juiz, treinador, seleccionador Distrital e Nacional, ajudei a fundar um clube gímnico do qual fui também presidente, fui dirigente desportivo e sou, actualmente, dirigente federativo. Ser um de nós, ser um elemento da família gímnica, ajuda, com certeza, a compreender melhor as necessidades de todo o universo da ginástica portuguesa, a respeitar a sua diversidade e a representar a modalidade.

Se for eleito, quem é que o irá acompanhar nesta direcção?
Este é um desafio conjunto. Não existem no desporto lideranças solitárias. A nossa equipa é composta por pessoas fantásticas, determinadas e dedicadas, ligadas ao universo gímnico nacional: ginastas, juízes, treinadores e dirigentes. Estabelecemos uma aliança onde cabem todos, fundada na confiança e respeito mútuos, construindo pontes e compromissos com um só objectivo: a ginástica portuguesa.

Quais são as primeiras medidas que tomará assim que tomar posse?
A primeira de todas será reconhecer o trabalho que todos desenvolvem em prol da modalidade, pela sua dedicação e empenho, que entendo que devem ser sempre exaltados, mesmo quando não concordamos integralmente com todas as suas posições. Defendo para o exercício de funções de representação os mesmos valores da ética desportiva, afinal nada construímos sozinhos. Mas uma das nossas prioridades vai ser a realização de um levantamento exaustivo do estado em que se encontram os agentes gímnicos e como estes estão a reagir à pandemia, as suas dificuldades, os seus anseios, os desafios que enfrentam. É fundamental conhecer o ‘terreno’ para melhorar e encontrar soluções eficazes. Este será o primeiro passo para aproximar a Federação das suas bases mais importantes, as pessoas e as instituições, para mobilizar todos a um movimento de esperança que nos trará um Novo Rumo.

Diz na sua apresentação saber quais são as actuais dificuldades na modalidade e quer mudar o rumo na Federação. Quais são essas dificuldades e o quer mudar na ginástica?
As dificuldades são muitas, desde logo as financeiras e materiais, mas debatemo-nos também com falta de espaços para treinos, de infra-estruturas para competição. Enfim, uma modalidade que não tem a visibilidade que merece, não atinge a notoriedade necessária para obter apoios que o mediatismo poderia atrair e esse será um vector importante do nosso programa transformador. O estudo exaustivo do estado da nação gímnica dar-nos-á o diagnóstico necessário para encontrar as soluções, para responder e ultrapassar as dificuldades identificadas, de uma forma faseada no tempo.

Na sua opinião a ginástica portuguesa tem falta de visibilidade?
Sem dúvida. Apesar da visibilidade da ginástica ter melhorado muito nos últimos anos, poderemos fazer ainda melhor, mais concretamente, reforçar o posicionamento da modalidade face ao panorama desportivo nacional, de forma a aumentar a sua notoriedade e poder atrair, mais público, mais apoios e, consequentemente, mais patrocinadores. Apostaremos igualmente na exploração das novas tecnologias e no desenvolvimento de soluções que nos tragam uma transformação digital que se tornou mais urgente nos tempos que atravessamos. Temos também que comunicar melhor, tanto ao nível interno como ao nível externo. A aposta em novos meios e tecnologias, o reforço da visibilidade e notoriedade e a redefinição das políticas de comunicação, são partes de uma estratégia mediática integrada que iremos implementar e que será uma das nossas grandes prioridades.

A modalidade também sofreu impacto com a pandemia covid-19. Que medidas estão a ser preparadas para responder a esta crise?
Como referi anteriormente, temos de ter a imagem correcta, a “radiografia” exacta da situação nacional. A ginástica é uma modalidade que tem várias disciplinas e tem logicamente diferentes matrizes nos problemas que enfrenta. Com esses dados definiremos as medidas para ajudar o tecido gímnico, mas há uma certeza que temos, avaliaremos todas as situações e apresentaremos soluções para todos, sem excepção. Teremos ainda que desenvolver e redobrar esforços, com o apoio de outros parceiros, junto da tutela para o apoio à ginástica nacional seja rápido e mais significativo.

Portugal tem tido alguma presença da modalidade nos Jogos Olímpicos (JO). Que objectivos tem nesta vertente?
Desde logo e no curto prazo, apoiar os ginastas já apurados para os Jogos Olímpico (JO) e aqueles que ainda estão a discutir um lugar nos Jogos de Tóquio. A médio e longo prazo, estabelecer um programa transversal, ambicioso e mobilizador, para impulsionar o desenvolvimento de todos os ginastas potenciais olímpicos para os JO de 2024 e 2028.

Considera que faltam infra-estruturas a nível nacional para a prática da modalidade? De que forma a sua candidatura pode inverter esta tendência?
Infelizmente sim. Existem algumas disciplinas com falta de infra-estruturas para treinar e para competir. Temos um projecto para ultrapassar estas carências que são incompreensíveis.

Considera que as autarquias têm de olhar mais para este tipo de modalidade e menos para o futebol?
Nós não precisamos que as entidades públicas olhem menos para outras modalidades. Entendemos é que têm de “olhar” de forma equitativa, para todas as modalidades e para a sua importância no desenvolvimento da prática desportiva e dos resultados desportivos obtidos.

Que mensagem gostaria de deixar aos atletas, treinadores e clubes da modalidade?
Em primeiro lugar, agradecer-lhes todo o trabalho, todo o esforço e toda a dedicação que têm dado à ginástica. Se somos aquilo que somos hoje, é pelo tanto que tantos construíram ao longo das várias gerações de ginastas e, tenho a certeza de que, ainda mais unidos conseguiremos construir um futuro ainda mais promissor. Apesar das dificuldades que atravessamos enquanto comunidade, com o empenho e apoio de todos, iremos voltar ainda mais fortes! Unidos, seremos capazes de ultrapassar todas as barreiras. Viva a ginástica!

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