A Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo (ERTAR) organizou esta segunda-feira, dia 18, uma conferência intitulada “Turismo do Ribatejo – Construir um Destino”, no Teatro Sá da Bandeira, em Santarém.
O evento colocou em diálogo representantes de diversas entidades ligadas ao sector, incluindo o secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, Nuno Fazenda, que participou na sessão de abertura.
Esta conferência, que decorreu ao longo de todo o dia, ficou marcada pelo anúncio formal da abertura, no primeiro trimestre de 2024, em Santarém, da delegação no Ribatejo da Entidade Regional de Turismo.
“No modelo de implementação territorial haverá uma porta aberta na cidade de Santarém, um canal aberto de comunicação para os empresários e câmaras. A presença de um técnico que vai pensar a estratégia para a região, dia após dia. Temos um corpo técnico que está em Évora, em Beja, ou Portalegre que pensam o Ribatejo e o Alentejo.
Mas queremos ter alguém que pense 100% Ribatejo”, sublinhou. A par desta medida, José Manuel dos Santos, presidente da ERTAR anunciou a implementação de um programa de trade marketing, a execução das rotas de Turismo Literário, o apoio à Tejo Wineroute 118, a iniciativa Ribatejo: Destino de Investimento, entre outras medidas e acções.
“O território da Lezíria do Tejo, onde actuamos, apresenta um potencial turístico muito interessante que, alavancado na sua identidade singular, precisa ser trabalhado e estruturado no sentido de qualificarmos a oferta, concertarmos a promoção e, consequentemente, atrair mais investidores e turistas”, afirmou José Manuel Santos, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo.
“Hoje é um dia de concretização, mas também dia de olhar para o futuro, para preparar os próximos passos. Com esta conferência queremos afirmar claramente que acreditamos no potencial turístico desta região. Os nomes, designações e os objectivos dos quatro painéis são o caderno de encargos que definimos para a própria entidade e para o nosso trabalho nos próximos anos”, começou por dizer o responsável.
“Para tal”, continuou, “é necessário capacitar melhor a nossa instituição e elevar a produtividade das nossas decisões. Por isso, vamos dar corpo, no primeiro trimestre de 2024, a uma decisão tomada em 2013, na assembleia geral constituinte da nova entidade Regional de Turismo, que é abrir uma delegação da nossa entidade, a funcionar em pleno, aqui no Ribatejo, numa parceria com a Câmara Municipal”, anunciou José Santos, informando que está aberto um concurso para a contratação de um técnico que fará a ponte entre a ERTAR, os Municípios, empresários, e com a Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo.
“Em conjunto, estaremos prontos para responder aos desafios. Vamos institucionalizar, no próximo ano, um conselho estratégico do turismo, formado por um corpo fixo de sete empresários que nos ajudarão a pensar, a implementar e avaliar a estratégia do marketing turístico do Ribatejo”, revelou ainda.
Aproveitando a presença do secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, Nuno Fazenda, o presidente da ERTAR disse esperar que o investimento a realizar seja suportado nos financiamentos europeus e, em especial, no Alentejo 2030: “para concretizar todas estas potencialidades precisamos de instrumentos de desenvolvimento e financiamento que reconheçam a especificidade da região. Fundos Europeus e Nacionais. Os fundos Europeus são essenciais para estruturar este caminho de afirmar o turismo do Ribatejo, primeiro a nível nacional, e depois, a médio-longo prazo no mercado internacional”, elucidou.
Turismo representa 20 por cento das exportações nacionais
Na sua intervenção, o secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, Nuno Fazenda, salientou a “importância estratégica” do turismo para o país.
“É um sector crucial. Desde logo para o PIB, para o emprego, para as exportações, representando quase 20% do total de exportações de bens e serviços”, afirmou o governante, salientando que esta tem sido uma actividade de grande crescimento: “quando a Organização Mundial de Turismo previa para 2023 uma recuperação aos níveis pré-pandemia na ordem dos 85 ou 90%. Portugal já em 2022 tinha ultrapassado esse número”, disse, acrescentando: “em 2023, até Outubro superámos todos os indicadores de procura turística face a 2019.
Cerca de 10% mais em dormidas, mais 10% em hóspedes e mais 37,3% de receitas turísticas face a 2019”.
“Estes foram os 10 melhores meses de sempre da história do turismo. Isto deve-se às empresas, que são o motor do turismo, aos seus trabalhadores, às instituições, e a políticas públicas que têm fortalecido o seu crescimento. Queremos continuar a crescer, de forma sustentada, em todo o território e ao longo de todo o ano”, garantiu Nuno Fazenda.
Elencando as prioridades que o Governo tem definidas para o sector, o secretário de Estado apontou “a valorização do território” como a base de sustentação da actividade turística: “não temos turismo sem preservar e valorizar aquilo que é o nosso património natural, as nossas praias, as nossas serras, lagos, museus ou monumentos”, disse.
“Temos de ter políticas públicas que favoreçam o turismo em todo o território, foi por isso que lançámos uma agenda de turismo para o interior com 200 milhões de euros”, reforçou.
Uma aposta crucial, segundo Nuno Fazenda, terá de passar pelo incremento da qualidade do serviço do turismo, que está dependente do papel que desempenham os recursos humanos: “é por isso mesmo que uma das prioridades que assumimos foi a agenda para as profissões do turismo”, afirmou.
“Uma agenda ambiciosa que versa sobre vários domínios desde a formação profissional, à investigação e desenvolvimento. Temos vários projectos no terreno, foi por isso mesmo que quando reprogramamos o PRR afectamos 30 ME, 20 do PRR mais 10 do Turismo de Portugal, para valorizar as escolas do Turismo de Portugal, que este ano inverteram o ciclo de decréscimo de alunos e que em 2023 passaram a ter mais alunos. A valorização dos recursos humanos passa também pela valorização dos salários. Quando falamos de proveitos globais eles ultrapassaram os 40% face a 2019.
A verdade é que neste momento os salários na hotelaria e restauração são 30% abaixo da média dos salários da economia. Temos, por isso, de fazer um esforço de convergir para reter e atrair talento para o sector do turismo. Temos de reconhecer que há vários empresários e grupos hoteleiros que têm feito um esforço muito assinalável de aumentar os salários, mesmo acima do acordo de rendimentos que era 5,1%. Só com melhores salários e melhores condições se consegue reter e atrair talento”, defendeu o governante.
Nesta conferência Nuno Fazenda fez ainda referência a uma outra dimensão essencial para alavancar o sector: a promoção.
“Podemos ter o território qualificado, empresas competitivas, atrair e qualificar recursos, mas temos de continuar a projectar o nosso país e as nossas regiões e destinos.
Temos tido uma grande ambição na promoção de Portugal lá fora, através do Turismo de Portugal e das Entidades Regionais de Turismo”, referiu.
Nesta conferência em Santarém, Nuno Fazenda deixou ainda um apelo: “temos de olhar para as especificidades dos territórios.
Olhar para os territórios únicos. Um deles é precisamente o Ribatejo, um território de grande vocação turística, com identidade, mas que ainda não é suficientemente conhecido do ponto de vista turístico”.
Nas suas palavras, “o Ribatejo tem vários activos turísticos únicos. No domínio da cultura, basta pensar na sua história e tradições, no património edificado, podemos incluir a cultura do cavalo lusitano, podemos falar da natureza, com a reserva do Paul do Boquilobo, o Rio Tejo e as suas paisagens, podemos falar da falcoaria, reconhecida como património imaterial da comunidade em Salvaterra de Magos. As aldeias avieiras, e toda a tradição piscatória. Podemos falar de gastronomia e vinhos, podemos falar do mais antigo festival de Gastronomia do país, que se celebra em Santarém. Contudo, apesar destes activos diferenciadores a verdade é que o Ribatejo representa ainda apenas cerca de 7% da procura turística da NUTII do Alentejo”, apontou.
Um valor que representa menos de 1% do total nacional, mas, apesar disto “o Ribatejo já recuperou os níveis de procura pré-pandémicos. Já superou os números de 2019.
Há no Ribatejo vários investimentos em cursos e planeados para esta região. Isto diz bem da dinâmica que aqui se assiste, uma dinâmica a crescer de investimento privado e de retoma da procura, mas temos de ir mais além”, sublinhou o secretário de Estado.
Nesse sentido, disse o tutelar da pasta do Turismo, colocam-se desafios para a valorização do turismo no Ribatejo: “pensar, reflectir e debater o turismo na região é essencial” vincou, a par da estruturação da oferta e da promoção.
“Temos de prosseguir esse esforço de promoção, de reforçar a identidade do Ribatejo e de trabalhar em rede: ninguém faz nada sozinho. Só trabalhando em rede é que se pode trabalhar mais e melhor na afirmação do turismo do Ribatejo. Isso não se faz por decreto, o turista não conhece fronteiras administrativas, o que ele quer são propostas turísticas coerentes e projectos concretos que permitam afirmar a marca Ribatejo, o turismo. É com projectos e acções concretas que podemos afirmar o turismo do Ribatejo”, concluiu.
“País precisa de um Ministério do Turismo”
Presente nesta conferência, o presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves,voltou a defender a criação do Ministério do Turismo dada a importância que a área representa para Portugal.
“Somos o quinto país do mundo em que o turismo tem mais impacto no nosso PIB, oque é fundamental para o desenvolvimento de Portugal. Deveríamos ter um ministro e não apenas uma secretaria de Estado”, disse Ricardo Gonçalves.
O autarca lembrou que Santarém teve um aumento de 40% no número de dormidas sendo que grande parte do desenvolvimento se deve também ao facto do concelho seter transformado no ponto de referência para quem aprecia gastronomia mais tradicional.
Também os monumentos e igrejas passaram a estar abertos diariamente, o que nãoacontecia, tendo aumentado o número de turistas nos últimos anos.
“Do ponto de vista do turismo, temos conseguido nos últimos anos crescer. Onosso turismo tem crescido, ainda não nos valores que nós queremos”, admitiu, saudando o regresso a Santarém e à Casa do Campino de uma delegação da ERTAR.
“É fundamental para a consolidação da estratégia turística do concelho e da região termos essa delegação”, referiu, realçando que “o Município tem mantido nos últimos anos uma aposta clara e crescente na valorização turística, tendo desenvolvido diversas acções, colocando Santarém como destino turístico de referência no nosso País”.
“Muito trabalho pela frente”
Com uma visão mais pragmática, Pedro Ribeiro, presidente da CIMLT e da autarquia de Almeirim deixou um apelo: “É tempo de assumir que temos muito trabalho pela frente”.
Para o autarca, na região, a “questão do turismo ainda é uma questão lateral”, uma vez que a actividade económica da região tem outros alicerces, dando como exemplo o sector do vinho, no qual os produtores olham para as suas propriedades como unidades de produção e não como estruturas ligadas ao enoturismo.
Por outro lado, o presidente da Comunidade Intermunicipal apontou a falta de alojamento hoteleiro como um dos entraves à captação de mais turistas: “Santarém e Almeirim fazem um torneio de futebol que junta, em Maio, umas centenas de pessoas, é sempre um problema para arranjar dormidas.
Temos o CNEMA que o que pode fazer são eventos de um dia, por norma, tirando as feiras de Agricultura, etc, que tem um espaço fantástico, mais de mil lugares, estacionamento, etc, mas depois as pessoas ficam a dormir onde?”, questionou.
“Temos, efectivamente, neste território, um problema difícil de resolver porque temos outras áreas onde temos apostado do ponto de vista económico. Este deve ser o primeiro passo para começar – mais vale começar do zero – começar a construir de forma mais estruturada. Não vale a pena ter campanhas e propaganda se, depois, não temos produto”, vincou.
“Se me perguntarem se é possível um fim-de-semana no concelho de Almeirim? Há alguma coisa para ver? Não tenho… É possível um fim-de-semana em qualquer um destes concelhos? Destes 11, um fim-de-semana com coisa para fazer? Não…”, disse o autarca, referindo que este território só poderá ganhar escala se trabalhar em conjunto: “só em conjunto poderemos ter essas ofertas.
Temos que perceber, de uma vez por todas que só em conjunto é que conseguimos atrair pessoas”, apelou. “Aquilo que se pede aos empresários é que possam, também em conjunto, – com apoio das entidades, câmaras, entidade de turismo, etc, – criar as condições para que falem uns com os outros.
Não conseguimos, neste território, fazer nada sozinhos. Há passos que considero simbólicos, mas muito importantes: voltar à Casa do Campino é um passo simbólico. Se perguntarmos aqui onde havia o Turismo do Ribatejo eu não sei se alguém nesta sala saberia onde é que ele estava presente”, criticou Pedro Ribeiro.
“Precisamos de olhar para isto de outra forma, de uma forma integrada. Estas coisassó funcionam quando existem no território. Estou pouco preocupado se temos mais ou menos horas de propaganda nas redes e tv’s: se eu não tiver produto nada existe”, vincou.
Nesta conferência, sob o mote “Turismo do Ribatejo – Construir um Destino”, moderada pela jornalista da CNN Ana Sofia Cardoso, estiveram representantes do Turismo de Portugal, Plataforma Nacional de Turismo, Escola Profissional de Vale do Tejo, ISLA Santarém, AHRESP, Agência de Promoção Turística do Alentejo, Comissão Directiva do PO Alentejo 2020, CIMLT, NERSANT e Biosphere, além de autarquias e empresários.
No decorrer dos painéis da conferência, foram abordados temas como “Construir o Produto, desenvolver o Destino: em que degrau estamos?”, “Como comunicar e promover o turismo do Ribatejo? Marca e Campanhas”, “Atrair investimento no Turismo do Ribatejo: como captar e potenciar os activos existentes?” e “Financiamento e Governança do Turismo do Ribatejo: estratégia, actores e programas”.
“Não partimos do zero”
Em jeito de balanço desta conferência, José Manuel dos Santos, presidente da ERTAR voltou a usar da palavra para defender que “há produto [turístico] na Lezíria do Tejo. Não estamos a partir do zero. Há produto, o que precisamos é melhorar condições e dar escala a esse produto”, analisou.
“Eu sou adepto das soluções gradualistas e temos que nos focar naquilo que é viável.
Assumimos que vale a pena promover uma marca que se chama Ribatejo. Um território que tem a tiragem da cortiça inventariada no inventário nacional do património cultural, a reserva do Paul Boquilobo, a Falcoaria Real, que tem as salinas de Rio Maior. Um território que tem a densidade e capacidade ao nível da produção de vinhos, com uma rota em expansão. Um território com produtos, alguns já certificados, como o melão de Almeirim, a Sopa da Pedra, o Torricado. Um território que tem tudo isto, que tem o Tejo, é um território que, na nossa opinião, deve ter uma marca própria e vamos lutar por essa marca”, garantiu.
“Portugal não tem um problema de falta de empresários inovadores, especialmente no turismo: se há sector em que os nossos empresários são inovadores, dinâmicos, resilientes é na hotelaria, e no turismo. A estratégia está escolhida, mas queremos ajudar a operacionalizar, o que não é fácil.
Nem sempre é fácil pegar num plano e executá-lo: nós seremos parceiros comprometidos, empenhados, para tentar executar aquilo que estiver no plano”, afirmou.
“Temos que crescer em oferta, em quantidade e qualidade, temos uma medida que é o roteiro de investimento, e vamos trabalhar com os municípios no sentido de avançar com um trabalho de lobby, networking, de apresentação de oportunidades de investimento aos empresários, grupos hoteleiros, nacionais e internacionais. Vamos avançar com uma medida, com orçamento próprio, que é o destino investimento para aumentar a capacidade hoteleira da região”, prometeu.
“Temos que fazer acções porta a porta, ir a Lisboa, marcar reuniões com agências de viagens. Vamos fazer uma feira de Turismo, fazer um seminário de vendas juntando a oferta da região, juntando a procura, os operadores e a rede retalhista, não é preciso candidatura nem fundos, é preciso ter iniciativa. Vamos avançar com um guia de viagens da Lezíria do Tejo, que estará disponível dos postos de turismo. Temos que dar ao visitante uma imagem de integração das propostas e das várias atracções turísticas.
Não há um guia, um instrumento que faça essa integração da oferta dos 11 territórios”, reconheceu.
“Nós não vamos renegar as tradições e a história do Ribatejo na nossa construção do marketing, mas temos de ser inteligentes na forma como comunicamos. Eu não posso tirar da identidade de um destino aquilo que o diferencia e o distingue. Nós temos uma assinatura de marca “Viva a Festa”, eé assim que vamos estar na BTL. Teremos que investir muito se queremos que o turismo
no Ribatejo se afirme como o tal novo destino para os portugueses”, refletiu, referindo:“a questão do enoturismo é incontornável, estamos muito empenhados em ajudar a CVR Tejo nesta matéria.
Há outras áreas de produto que podem distinguir esta região, uma delas é o turismo literário, temos financiado um projecto, o Ribatejo tem um conjunto de recursos a este nível muito significativo.
Temos de valorizar o que temos”, disse. “Não é fácil montar programas regionais, mas há uma coisa que é certa, se não fosse o financiamento dos fundos europeus o Alentejo não tinha a notoriedade que tem. Sou testemunha directa da capacidade de mobilização de fundos europeus que se alavancaram no turismo do Alentejo, nos últimos 25 anos”, concluiu.
Filipe Mendes