Santarém – 3 de Junho de 2023 – 17 horas. Corrida à Portuguesa – Corrida da CAP. Cavaleiros: Rui Fernandes, João Moura Júnior e João Ribeiro Telles; Forcados: Amadores de Santarém e de Montemor, capitaneados, respectivamente, por João Grave e António Cortes Pena Monteiro; Ganadarias (a Concurso – Por ordem de lide): Manuel Veiga (530 kg), Vinhas (635 kg), Assunção Coimbra (490 kg), Dr. António Silva (590 kg), Murteira Grave (535 kg) e Veiga Teixeira (630 kg); Directora de Corrida: Ana Pimenta; Veterinário: Dr. José Luís Cruz; Tempo: Chuvoso; Entrada de Público: Meia Casa.

Os toiros, segundo o rifonário tradicional, querem-se com Sol e moscas… As moscas, claro está, dispensamo-las bem, mas o Sol, sobretudo quando há a alternativa da sombra, faz falta. Este sábado inaugural da Feira do Ribatejo acordou solarengo e com temperaturas altas, a rondar os 30º, porém à hora da corrida choveu e trovejou à maneira antiga, o que afectou, naturalmente, o desfecho dos acontecimentos.

A instabilidade meteorológica estava prevista – o que talvez tenha afastado muito boa gente da praça, que desta feita apenas registou cerca de metade da lotação preenchida – mas o São Pedro foi deveras impiedoso e agendou uma chuvada forte e insistente mesmo na hora em que tal era menos desejado. É certo que anda por aí muita gente a pedir chuva – para além dos próprios Agricultores – mas esta bem poderia ter chegado numa hora mais conveniente.

Para animar a discussão entre aficionados, entendem uns que a corrida deveria ter sido suspensa e adiada para outra data, mesmo dentro do período em que decorre a Feira do Ribatejo, enquanto outros são de opinião que a Direcção da Corrida e a Associação “Sector 9” decidiram bem ao levá-la por diante, com todas as contingências associadas. Reservo-me quanto ao assunto, porém não posso deixar de enaltecer a atitude de todos os que nesta diluviosa tarde pisaram a arena da Monumental “Celestino Graça” e o Público, que na sua grande maioria resistiu a tudo e se manteve firme e hirto até ao final do espectáculo. Parabéns a Todos.

Compreensivelmente, o desempenho técnico e artístico dos toureiros foi particularmente influenciado por esta circunstância, no entanto, todos deram o melhor de si para presentear o público com um bom espectáculo, mesmo arriscando a sua integridade física, na medida em que o piso a partir de certa altura já se apresentava um pouco escorregadio. Felizmente, neste aspecto tudo correu bem.

Rui Fernandes foi o cavaleiro menos feliz com o sorteio, pois os seus oponentes, sobretudo o primeiro, não lhe permitiram grande luzimento. Frente ao segundo, um bonito toiro do Dr. António Silva, o marialva que esta temporada celebra o 25.º aniversário da sua alternativa (Campo Pequeno, 6 de Agosto de 1998) já evidenciou melhor as suas qualidades técnicas e artísticas e desenhou vistosas sortes, em cites frontais poderosos e reuniões arrimadas, colocando vistosa ferragem.

Não terá sido a actuação que desejava, e que também nós esperávamos, contudo, face às circunstâncias, o balanço é francamente positivo. João Moura Júnior foi incluído neste cartel por ter sido o triunfador da Corrida de 19 de Março, e decerto que o seu ânimo era o de justificar esta presença, o que de algum modo conseguiu. Se frente ao seu primeiro oponente, ainda sob forte precipitação atmosférica, andou um pouco mais discreto, embora sempre empenhado em lidar bem e em desenhar sortes tecnicamente perfeitas, citando de frente e colocando a ferragem em sortes muito meritórias, foi, sobretudo, frente ao quinto – toiro bravo de Murteira Grave que haveria de vencer o troféu em disputa, com total justiça – que alardeou mais eloquentemente todas as suas capacidades, a qualidade da sua cuadra e o bom momento que atravessa.

Foi uma lide portentosa, abrilhantada com música, posto que, entretanto, a Ban também regressara ao seu posto, e que o público sufragou com calorosas ovações. João Ribeiro Telles, em ano de celebração do 15.º aniversário da sua alternativa (Campo Pequeno, 4 de Setembro de 2008), apresenta-se num apuro de forma extraordinário e tenta em todas as corridas sair em plano de triunfador, fazendo jus às suas reconhecidas competências técnicas e artísticas.

João Ribeiro Telles é hoje uma das grandes figuras do toureio equestre sabendo dosear na conta certa o classicismo, que é atributo da escola da Torrinha, com o conceito estético que herdou de seu pai, toureiro artista por natureza. Em qualquer dos toiros que enfrentou, cada qual com os seus quês, logrou evidenciar a classe do seu toureio. Frente ao toiro de Manuel Veiga impôs-se pela técnica, aproveitando tudo o que havia a sacar, e no último consolidou as suas credenciais e agigantou-se frente a um toiro que pedia mando e acerto nas distâncias, algo que o marialva da Torrinha fez com a habitual graciosidade e senhorio.

Estavam em presença, e em sadia competição, dois dos mais antigos e prestigiados Grupos de Forcados nacionais – Santarém e Montemor – os quais, uma vez mais, estiveram em plano de elevada competência, tanto ao nível dos forcados que foram à cara como dos ajudas, que de uma maneira geral estiveram eficazes e coesos, contribuindo assim para o sucesso do seu Grupo.

Pelos Amadores de Santarém, na última corrida que o Cabo João Grave capitaneou inteiramente, foram solistas Salvador Ribeiro de Almeida e Caetano Gallego, ambos em duas portentosas pegas ao primeiro intento, e Francisco Cabaço, numa pega poderosíssima, à segunda tentativa, com o forcado da cara a sofrer uma tormentosa viagem, mas a suportar a dureza da investida do toiro com alma e decisão.

Pelos Amadores de Montemor, Francisco Borges consumou a sua sorte à primeira tentativa, com uma perfeição extraordinária, Vasco Ponce pegou o seu toiro à terceira tentativa, tendo estado sempre muito bem na cara do toiro, e José Maria Pena Monteiro, fechou esta tarde de belíssimas pegas, com uma excelente pega ao segundo intento, num primor de técnica e de valor.

Os bandarilheiros andaram em bom plano, não intervindo em demasia nas lides dos cavaleiros, e os campinos estiveram igualmente com a qualidade e empenho que lhes é peculiar.

No final da corrida foi anunciado como Melhor Toiro o exemplar da Ganadaria Murteira Grave, tendo sido entregue o respectivo troféu ao Dr. Joaquim Grave pelo novo Presidente da CAP, Eng.º Álvaro Mendonça e Moura.

Direcção acertada de Ana Pimenta – com as contingências próprias de uma corrida tão anormal quanto às circunstâncias que a envolveram – e enalteça-se uma vez mais a honradez e competência de todos os intervenientes, e a resiliência do Público que, maioritariamente, soube responder como se impunha, a bem da Festa.

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