Foto de arquivo
A Organização Sindical dos Polícias fez uma “integração simbólica” de 207 bonecos impressos em papel junto à Escola Prática de Polícia, em Torres Novas, representando os lugares vazios no curso que hoje se iniciou na instituição.
O presidente da Organização Sindical dos Polícias (OSP), Pedro Carmo, disse à Lusa que o curso de formação de agentes que inicia hoje a admissão dos elementos e que tem início formal em Janeiro de 2021 deveria arrancar com 1.000 formandos, mas apenas 793 passaram nas provas, ficando 207 vagas por preencher.
“Isto mostra que já há um reflexo exterior ao nível da população do que se passa aqui dentro, de falta de atractividade e da falta de bom tracto que a polícia tem”, disse o dirigente sindical, sublinhando que o acto simbólico de hoje em Torres Novas visa “alertar para a falta de condições que existe na instituição, tanto a nível material como da valorização financeira” dos profissionais.
“Somos tratados quase como um número, um cabide, estamos aí só para as pessoas verem que a gente existe”, acrescentou, justificando a forma de protesto escolhida, protagonizada apenas por quatro agentes à paisana, devido às condicionantes da pandemia da covid-19.
Pedindo investimento e “bom senso” no tratamento dado às forças de segurança, “necessárias para o Estado democrático e para a economia”, Pedro Carmo realçou a “falta de atractividade” de uma profissão que paga pouco mais que o ordenado mínimo e que obriga muitos dos novos agentes a ficarem longe das famílias, muitas vezes em condições “muito deficitárias” e por longos períodos.
“A maior parte dos candidatos não são da zona de Lisboa. Por uma diferença de perto de 150 euros [em relação ao ordenado mínimo] pouca gente quer ir parar a Lisboa, ter que procurar alojamento ou morar em camaratas, muitas delas com condições muito deficitárias, ter a família a 200, 300 ou 400 quilómetros” e “esperar por transferências às vezes mais de 15 anos”, disse.
A estas questões, Pedro Carmo juntou a carreira “morosa”, a perda de direitos, como a passagem da pré-reforma dos 55 para os 60 anos e a impossibilidade de recurso ao Tribunal do Trabalho, com processos colocados em tribunais administrativos a demorarem anos a serem resolvidos, ou os descontos para um sistema de saúde que nem sequer tem resposta em algumas zonas do país.
Acrescentou a ausência de direito à greve e de subsídios de turno e de risco, bem como de acções de treino e formação, dando o exemplo das alterações constantes de legislação que obrigam a um esforço pessoal de actualização, e a falta de “coisas básicas” no dia-a-dia de trabalho, como, por exemplo, fotocopiadoras.
Os agentes referiram ainda a escassez de elementos nas esquadras, com o risco das patrulhas com um só elemento, o conhecimento de casos como o do agente da PSP de Évora que foi atropelado mortalmente ou as condenações de polícias, para ajudar a explicar a dificuldade na atracção de candidatos.
Pedro Carmo afirmou que a OSP concorda com a declaração do director nacional da PSP, Magina da Silva, a favor da criação de uma “polícia nacional”, sublinhando as vantagens que traria “tanto a nível de estruturas físicas como de meios humanos”.
“Seria benéfico para todos”, disse.
Apelando para uma “reestruturação profunda das polícias em Portugal”, o dirigente sindical salientou a quantidade de “subdivisões policiais” existente “num país tão pequeno” e a importância de os órgãos de polícia criminal deixarem de estar “presos em serviços administrativos que não fazem sentido nenhum”.