Entrevista a Isaac Pimenta, músico
Que impactos está a ter a pandemia no seu trabalho?
Sem dúvida que a pandemia está a ser uma altura desastrosa para todo o sector cultural. No meu caso, tenho a sorte de ter um trabalho para além da música, o que me permite estar relativamente confortável em relação ao futuro próximo. Tenho aproveitado a pandemia para escrever novas músicas, e espero conseguir lançá-las posteriormente, quando toda esta situação pandémica melhorar.
Quais são as maiores dificuldades?
A pandemia tem sido particularmente difícil para lançar novos trabalhos e divulgá-los junto do público, tendo em conta que os espaços onde poderia divulgar o meu trabalho, estão fechados, e mesmo se estivessem abertos, numa altura como a que estamos a viver, para um artista independente, seria muito difícil ter algum público relevante.
Que projectos foram adiados?
Adiei o lançamento de algumas músicas, pela impossibilidade da realização os videoclipes, que já tinham data prevista para serem gravados, mas, entretanto, tivemos que voltar ao confinamento. Para além disso, também vi algumas actuações serem canceladas, o ano passado.
De que forma tem tentado manter o contacto com o público?
Tento estar em contacto com o público através das minhas redes sociais. Tenho feito actuações online ao vivo, semanalmente, e penso que tenho conseguido fazer com que o meu público cresça, gradualmente.
Sente falta do palco?
Claro, sinto muita falta de estar em palco e de poder partilhar a minha música.
Como antevê o pós-pandemia? Os concertos on-line e a distribuição multiplataforma vieram para ficar?
Podem ter vindo para ficar, mas não de forma a “acabar” com os concertos ao vivo. No concerto ao vivo existe uma troca de energias entre o artista e o público, impossível de replicar no on-line. Acredito que, o mais provável de acontecer será a junção do off-line com o on-line, em que os concertos com público, também poderão ser transmitidos on-line.
E quanto aos apoios? Existem ou são uma miragem?
Como referi, tenho outro trabalho para além da música, e como tal acho que não faria sentido procurar esses apoios monetários, pois não estaria a ser justo com o sector do qual faço parte, onde existem centenas de profissionais sem apoios, ou com apoios mínimos, e que precisam muito mais desses apoios do que eu, certamente.
Seria importante a criação, por exemplo, do estatuto de artista que reconhecesse esta categoria profissional e exigisse a devida protecção social?
Há muitos anos que se tem procurado fazer isso, mas nunca houve entendimento, a começar pelos próprios artistas. Como sabemos, existem várias entidades gestoras e reguladoras de direitos que protegem os artistas em Portugal, e durante a pandemia já existiram alguns apoios destas entidades. Sabemos, contudo, que, esses apoios não chegam a uma grande parte dos artistas, ou porque não estão inscritos, ou porque não têm actividade declarada, etc. Uma grande parte do sector artístico tem dúvidas sobre o trabalho e credibilidade destas entidades, e de alguma forma, acredito que tenham as suas razões.
Penso que, a começar por estas entidades que mencionei, tem que haver mais união neste sector, para que de facto, se chegue a um entendimento em relação ao estatuto de artista, e à protecção social e profissional que deve existir neste sector.
Para além de apoio pecuniário, que outras medidas seriam necessárias para relançar a produção artística?
Penso que uma boa solução seria incentivar os festivais de música a apostarem mais nos artistas portugueses e nos novos talentos, o mesmo se aplica a bandas sonoras de telenovelas, publicidade, rádios, etc.
O que lhe parece a decisão do Governo em aumentar a quota de música portuguesa nas rádios? Penso que é certamente uma grande ajuda para os (já) grandes artistas nacionais. É uma boa medida, mas penso que vai beneficiar mais os artistas grandes, e não tanto os novos talentos e os artistas independentes.