Almeirim – 24 de Março de 2024 – 16 horas – Corrida à Portuguesa. Cavaleiros: António Ribeiro Telles, Pablo Hermozo de Mendoza e Luís Rouxinol Júnior; Forcados: Amadores da Chamusca, Aposento da Chamusca e Amadores do Cartaxo; Ganadarias: Varela Crujo (525 Kg), António R. Brito Paes (540 kg), Ascensão Vaz (515 kg), Passanha (520 kg), Ribeiro Telles (505 kg) e Romão Tenório (545 kg); Director de Corrida: Marco Cardoso; Médico Veterinário: Dr. José Luís Cruz; Tempo: Ameno; Entrada de Público: Lotação Esgotada.

A Arena de Almeirim é já um ponto de encontro da afición ribatejana no início de cada temporada para assistir à corrida de carácter solidário que Rui Bento ali organiza a favor da Misericórdia local, e é muito agradável viver uma ambiência tão festiva no meio de gente tão disponível para aplaudir todos os intervenientes no espectáculo, mesmo quando as coisas não fluem a contento dos próprios, nem permitem a plena satisfação dos espectadores.

Na tarde do passado domingo o tauródromo almeirinense esgotou a sua lotação – segundo anúncio efectuado pelo locutor da praça no decurso do espectáculo – embora houvesse alguns lugares por preencher, talvez de gente que solidariamente comprou o seu bilhete, mas por algumas razões acabou por não poder assistir, ou talvez bilhetes oferecidos por empresas que apoiaram este evento a pessoas que não puderam comparecer.

Enfim, o que o que é merecedor da nossa atenção e do nosso aplauso é que na mesma circunstância o locutor anunciou que esta corrida de benemerência havia proporcionado à Santa Casa de Misericórdia de Almeirim o encaixe financeiro de 33.255 euros, valor fundamental para que esta notável Instituição possa aumentar a sua capacidade de resposta ao nível do apoio social que presta à sua comunidade. Este “lucro” só terá sido possível de alcançar porque o público afluiu uma vez mais em massa, porque os toureiros terão prescindido de parte dos seus honorários e porque, eventualmente, até os ganadeiros terão colaborado com a oferta de parte do aluguer de bravura dos seus toiros.

Só este resultado financeiro já constituiu um enorme sucesso. Parabéns!

Bem andaram os ganadeiros se tiverem prescindido de parte do valor do aluguer de bravura – se é que prescindiram, claro! – porque bravura foi coisa que escasseou nesta tarde, facto que muito dificultou o labor dos toureiros, impedindo-os de brilhar como decerto desejavam, pelo que, no aspecto técnico e artístico a corrida não correspondeu às expectativas que motivaram tão forte afluência de público.

Apesar de banalizada, por ser repetida tantas vezes, a despedida de Pablo Hermozo de Mendoza é sempre um aliciante para os aficionados que tanto o apreciam, o que ainda leva muita gente à praça. Após as cortesias, a Santa Casa de Misericórdia de Almeirim ofereceu ao rejoneador navarro uma lembrança alusiva a esta circunstância.

António Ribeiro Telles é um toureiro que não tem nada a provar a ninguém, tão excepcionais são os seus recursos técnicos e artísticos e tantos são os triunfos que têm pautado a sua vasta e prestigiada carreira, mas esta tarde em Almeirim as coisas não lhe correram de feição. Nem a matéria-prima de que dispôs lho permitiu, nem as suas montadas estiveram em dia sim. É claro que António Telles tem sempre pormenores de elevado quilate, mas o que é verdade é que todos estamos sempre preparados para ver o Mestre triunfar e nesta tarde não o logrou.

O primeiro toiro, de Varela Crujo, cumpriu, apesar de se tapar-se no momento da reunião, obrigando a algumas passagens em falso, e o cavaleiro da Torrinha teve de porfiar para colocar a ferragem da ordem. O seu segundo, de Passanha, não lhe deu a mínima hipótese, dificultando o labor do Mestre, que teve de trocar várias vezes de montada, o que não impediu as sucessivas passagens em falso e algumas sortes algo aliviadas. Enfim, foi uma tarde pouco feliz e que não desmerece o mérito e o prestígio do consagrado toureiro, mas esteve aquém do que sempre esperamos ver e aplaudir.

Pablo Hermozo de Mendoza é um cavaleiro – em bom rigor não é correcto dizermos que é um “rejoneador”, pois o seu toureio assenta sobretudo no conceito português – que tem recursos técnicos e artísticos quase inesgotáveis e dispõe de uma “cuadra” de cavalos fabulosa, mas nem isso lhe proporcionou sacar o triunfo que desejava. Tal como os seus alternantes nesta tarde não dispôs da matéria-prima que lho permitisse, pois, os toiros de Brito Paes e de Ribeiro Telles não lhe facilitaram a vida. Mas, ainda assim, destacamos alguns pormenores de brega e alguns ferros muito meritórios, a par de algumas passagens em falso e de sortes mais aliviadas, o que não lhe é habitual, posto que as suas montadas têm um poderio notável e quase páram no centro da reunião, coisa pouco vista nesta tarde.

Em tempo de despedida o numeroso público almeirinense aplaudiu mais uma vez Pablo, nomeadamente quando este grande toureiro teve a simpatia de dedicar a sua primeira lide a D. Francisco de Mascarenhas, a quem, igualmente, o público tributou uma sonora ovação.

Entre dois colossos do toureio equestre estava uma jovem figura, Luís Rouxinol Júnior, que, obviamente, estava perfeitamente inteirado do risco de integrar um cartel desta grandeza, porém a sua resposta foi categórica e, inquestionavelmente saiu em plano de triunfador absoluto, tão empenhada foi a sua actuação e tão qualificado o seu labor.

O jovem marialva de Pegões tem evoluído esteticamente de uma maneira muito expressiva, podendo com todos os toiros e bordando o toureio em aspectos de muito bom gosto, a par da ousadia própria da idade, o que esteve bem patente na aposta em receber o seu primeiro oponente, de Ascensão Vaz, à “porta gaiola”, aguentando algumas voltas à arena com o toiro a investir muito impetuosamente. Este foi o mote para uma lide emotiva, dinâmica e correcta, pautada pelo desenho de vistosas sortes e de bonitos adornos. Porém, foi no último da corrida, da ganadaria de Romão Tenório, que o jovem Luís Rouxinol pôde expender mais eloquentemente os seus imensos recursos, rubricando uma lide a um só tempo poderosa e perfeita, dominando o hastado em todos os terrenos, colocando muito aplaudida ferragem, rematando a sua actuação com um poderoso “palmito”, tendo tido ainda o bonito gesto de brindar um ferro aos seus alternantes desta tarde triunfal.

As pegas aos seis toiros estiveram cometidas a três valorosos Grupos de Forcados, os quais solveram com a maior dignidade os respectivos compromissos. Pelos Amadores da Chamusca foi à cara do primeiro toiro o seu Cabo Nuno Marecos, que à segunda tentativa consumou uma rija pega, bem ajudado, e o quarto toiro foi pegado por Mário Ferreira, igualmente à segunda tentativa, em sorte difícil. Pelo Aposento da Chamusca o Cabo João Saraiva chamou a si a responsabilidade da primeira pega do seu lote, que consumou bem à segunda tentativa, e destinou ao forcado Vasco Coelho dos Reis a pega do quinto da tarde, que resultou na mais perfeita, dura e emotiva pega, constituindo o momento mais alto da corrida, pelo que deu segunda volta à arena, plenamente merecida. Pelos Amadores do Cartaxo foram solistas os forcados Bernardo Sá, que consumou boa pega ao primeiro intento, e Vasco Campino, que rubricou uma sorte magnífica, à segunda tentativa, bem ajudado pelo Grupo.

Boa intervenção dos peões de brega, que tiveram tarde afanosa, e dos campinos que recolheram os toiros com eficiência e classe. Direcção correcta de Marco Cardoso, que ponderadamente soube contribuir para que a corrida fosse uma festa, pelo que a maioria dos aficionados ficou até ao fim, entoando o Hino Nacional com empenho e sentimento.

Todos nós íamos com maiores expectativas quanto ao resultado artístico, mas nestas coisas a última palavra é sempre do toiro…

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