Mónica Sousa, natural de Torres Novas e residente na emblemática vila da Golegã, com 44 anos, casada e mãe de três fi lhas, é desde muito jovem uma apaixonada por organização e decoração minimalista. Recentemente, lançou o livro “Felizarda e organizada e Eduardo o desarrumado”, uma obra que pretende sensibilizar os mais novos, de uma forma divertida, para a importância da organização na sua vida, ajudando as crianças a adquirir bons hábitos de organização, beneficiando, desta forma, a sua vida futura.
Como surgiu a inspiração para criar os personagens de Felizarda e Eduardo no seu livro sobre organização para crianças?
A inspiração surgiu na minha cabeça de uma forma muito visual. Desde o primeiro instante que imaginei uma menina de cabelos lisos e loiros, de corte recto, solitária, sentada e imóvel no seu quarto meticulosamente organizado.
Já o Eduardo foi precisamente o oposto, um rapaz alegre, despreocupado, com os seus caracóis despenteados e pouco aprumado, no seu quarto extremamente desarrumado a mexer em tudo quanto era brinquedo, procurando peças de jogos que tardava a encontrar.
Qual foi o maior desafio ao desenvolver uma narrativa que abordasse a importância da organização de forma divertida para o público infantil?
O maior desafio foi construir uma narrativa dinâmica e cativante com exemplos de situações menos desejadas, que ocorrem frequentemente com crianças enquanto brincam, demostrando a partir destes, a falta de conhecimento da importância da organização dos seus brinquedos. Falo concretamente da personagem Eduardo quando percebe que não brinca efetivamente, o que faz é tirar os brinquedos do lugar, misturando-os, e desta forma inviabilizar a conclusão de um puzzle ou montagem de um lego com determinado tamanho de peças, por simplesmente não as encontrar no meio de tanta confusão. Já a Felizarda aparece com uma intenção orientadora, nomeadamente na sugestão da categorização dos objectos, como as suas bonecas ou os livros em forma de arco iris.
Mas fá-lo de uma forma exagerada, para que a mensagem a reter seja a importância do equilíbrio nos momentos de brincadeira. Brincar sim, sem dúvida explorar os brinquedos, mas isso só é possível se todos os componentes de cada divertimento ou jogo estiverem completos e facilmente acessíveis. Para que isso aconteça, há que adoptar o hábito mais importante: Devolver cada objecto ao seu lugar. Caso contrário, o que sucede frequentemente é ocorrer uma perda de interesse no próprio brinquedo e provocar um acúmulo de objectos nas nossas casas, uma situação indesejada e muitas vezes geradora de discussões entre adultos e crianças.
De que forma é que a sua experiência pessoal com organização e decoração influenciou a construção da história e das mensagens do livro?
De facto, esta história tem um pouco de mim, desde muito jovem que me lembro de passar horas a organizar o meu roupeiro por cores por puro prazer, ainda que sem nenhuma formação.
Descobri o meu verdadeiro propósito de vida enquanto me especializava nas áreas de decoração e organização, sendo a última a minha grande paixão.
Ao projectarmos um espaço infantil, devemos assegurar três condições importantes: A estética, o conforto e a funcionalidade. É nesta última que dou destaque no planeamento dos espaços, recorrendo a princípios Montessorianos, dispondo os brinquedos de forma acessível, estimulando a autonomia e o desenvolvimento de hábitos de organização.
Por outro lado, sendo a organização da casa algo inato ao meu ser, confesso que entre os 20 e os 30 anos, quase passei o limite entre o aceitável e o exagero da limpeza e da arrumação. Mas a vida deu-me exatamente aquilo que eu precisava para encontrar equilíbrio, três filhas. O que permitiu que desenvolvesse toda uma logística simples, prática e eficaz, priorizando as tarefas mais importantes, seleccionando e eliminando o supérfluo, categorizando tudo de forma descomplicada e organizando de modo funcional toda a rotina doméstica, permitindo focar-nos naquilo que é mais importante para cada um, vivendo uma vida plena e com maior sentido.
Considero que a organização é um pilar fundamental a promover no seio de cada família e o facto de poder apoiar outras crianças e as suas famílias a desenvolver pequenos hábitos a curto prazo, que deverão impulsionar grandes mudanças a médio e longo prazo, enche-me de alegria.
Quais são os principais benefícios que espera que as crianças obtenham ao lerem “Felizarda a Organizada e Eduardo o Desarrumado”?
Saliento que um espaço organizado ajuda as crianças a serem mais autónomas, aprendendo a manter a ordem dos seus próprios objectos, a concentrarem- se focando-se mais facilmente em tarefas específicas, no desenvolvimento cognitivo, quando aprendem a associar, categorizar e ordenar ao observar e interagir com os objectos.
Também a organização do espaço é essencial na criação de rotinas, em que as crianças beneficiam de espaços previsíveis, sabendo onde encontrar facilmente os seus pertences e o que esperar em diversos momentos do dia.
Além do entretenimento, de que forma pode o livro ser utilizado por pais e educadores para ensinar as crianças sobre organização?
O livro pretende ser um ponto de partida na abordagem da temática, explicando alguns conceitos chave, que posteriormente devem ser trabalhados diariamente em conjunto com as crianças. Mas grande parte dos pais não sabem muito bem a diferença entre arrumar e organizar. Sendo um problema que está nas bases, o ideal será os progenitores e até educadores, se capacitarem nesta área, impactando as suas vidas e as das próprias crianças.
Todos precisamos de organização, não há ninguém que goste de viver no caos. Enquanto profissional do ramo, tive o privilégio de acompanhar a mudança na casa de algumas famílias, tendo recebido testemunhos bastante positivos.
Reforço ainda que os espaços devem ser preparados para as crianças e com as crianças, respeitando a sua autonomia, identidade e o seu próprio conhecimento.
De que forma é que acredita que a leitura desta obra pode impactar não apenas as crianças, mas também as suas famílias?
Acredito que a história deixe muitos pais a refletir sobre importância da organização, gerando interesse na procura deste tipo de informação, o que propiciará que construam vidas com maior serenidade e leveza. E a isto pode chamar-se bem-estar e felicidade em forma de organização.