A família de Eurico Ribeiro mostra, mais uma vez, este ano, o seu tradicional presépio, representando várias cenas do quotidiano da região.

O ‘Maior Presépio do Ribatejo’, situa-se, este ano, no Largo Padre Chiquito, em Santarém, e já teve a visita de mais de três mil pessoas.

Em exposição estão figuras tradicionais da liturgia católica, miniaturas dos monumentos mais emblemáticos da região como a Igreja de Santa Clara, o Convento de São Francisco, ou o Castelo de Alcanede, entre muitos outros, assim como quadros de tradições entretanto desaparecidas da nossa vida quotidiana.

O presépio, com cerca de 600 figuras, retrata as actividades de uma terra marcadamente rural, mas não faltam também os Reis Magos, o Menino Jesus, José, Maria e os animais. Autodidacta por natureza, desde cedo que Eurico Ribeiro se iniciou na arte de modelar o barro, fazendo figuras para o seu presépio, ao qual, através dos tempos, tem dado uma maior dimensão, apresentando todos os anos no seu “Presépio de Garagem”, uma versão diferente e aumentada das cenas do quotidiano por ele modeladas.

Quais foram as suas maiores fontes de inspiração ao criar o presépio?

Inicialmente, este era um presépio de figuras de compra e eu, depois, como queria ter outras figuras no presépio baseei-me na minha infância. As vivências que tive, o talho, a mercearia, a taberna… comecei por aí.

A criar as próprias casas e fazer as figuras baseado nas minhas memórias.

A partir daí, comecei a desenvolver outros temas relacionados com o Ribatejo de forma a que o Presépio ficasse composto pela minha vivência e experiência.

Como foi o processo de aprendizagem desta arte de modelar o barro?

Sempre tive jeito, desde miúdo, para isto [modelagem de barro] e para outros trabalhos manuais. De vez em quando, ia fazendo alguma coisa, mas sem técnica nenhuma [risos]. Depois, com o presépio na garagem, tive oportunidade de ir à televisão e, nesse ano, tive coragem para ir a um workshop de cerâmica: fui a um atelier em Lisboa, no museu do azulejo e conheci lá um ceramista, Delfim Manuel, de Santo Tirso, e ele desafiou-me a aprender as técnicas dele. Eu fui para lá uma semana e, mais tarde, outra semana.

Foi aí que comecei a ter alguma noção de como se trabalhava o barro. Depois, conforme vamos fazendo vamos aprendendo, evoluindo. Vamos contactando com outras pessoas, outros artistas, e com trocas de impressões conseguimos evoluir na modelação do barro.

Quer partilhar uma história ou momento especial relacionado com a criação do presépio?

Há muitas… mas há uma, que já contei várias vezes: Eu tinha o Presépio na garagem e apareceram lá uns senhores vindos do Cartaxo. A senhora viu, gostou, e, no fim, disse “o Sr. importa-se que eu faça aqui uma oração?”. Eu disse-lhe que sim. Esta é uma que não esqueço, mas há muitas outras.

Além do presépio, que outras tradições ou elementos culturais da região são importantes para si?

Eu gosto muito de cultura. Costumo dizer que sou uma pessoa inculta que gosta de cultura. E da tradição também, e é uma coisa que tento ir buscar para as minhas criações: as tradições das vilas ou concelhos, e trazer isso para o Presépio. Vou ao local, falo com as pessoas, para depois representar a situação que quero fazer.

Como é que o público tem reagido?

Isto dá muito trabalho a montar e desmontar, e eu digo sempre que “para o ano já não faço”, mas quando recebemos os elogios que as pessoas nos dão, isso dá força, e esquecemos o trabalho todo que isto dá.

Quanto tempo demora a montar o presépio?

Cerca de 15 dias, trabalhando em horário normal… este ano trabalhámos de dia, noite e fins-de-semana e conseguimos em menos tempo.

Quais os seus planos ou ideias para o futuro deste presépio? Gostava de o ver ampliado?

Sim, isto não é final. Todos os anos faço mais temas novos e vou continuar a fazer. Claro que gostava de ter outra dimensão.

Mas para ter um Presépio maior, com outras condições, preciso do apoio de alguma instituição. Neste caso tem sido a Câmara Municipal de Santarém que tem dado apoio logístico, assim como a União de Freguesias.

O Presépio não vai ficar por aqui, vai continuar a crescer. Eu espero ter o apoio para isto crescer em Santarém, senão, talvez vá crescer para outro concelho porque já fui abordado nesse sentido.

Como é o envolvimento da sua família na construção do presépio?

Os meus filhos, apesar de um viver em Lisboa, dão muito apoio. O mais novo dá imenso apoio, e a esposa dá o apoio total. Chega a tirar férias para vir trabalhar para o Presépio. Tenho também um ou dois amigos que ajudam na montagem e desmontagem.

Leia também...

“É tempo de todos fazerem um esforço para arrumar os preconceitos que têm sobre as mulheres”

Assinalou-se na sexta-feira, 8 de Março, o Dia Internacional da Mulher, data…

Joana Cota: “O fado é o elo que existe entre mim e quem me ouve, um momento mágico de partilha de emoções”

Joana Cota é uma fadista natural de Monsanto (Alcanena). Reside actualmente no…

“Há ainda o hábito enraizado de vir à feira de Rio Maior comprar cebola para todo o ano”

A FRIMOR – Feira Nacional da Cebola, tradição com mais de 250…

“Quero deixar a minha marca como artista, sendo fiel a mim mesmo”

Lançado pela Warner Music Portugal, este seu single de estreia sabe a…