Já começou a contagem decrescente para a 10.ª edição da Agroglobal 2025 que está de regresso, de 9 a 11 de Setembro, ao Centro Nacional de Exposições, em Santarém, e à Quinta da Alorna, em Almeirim espaços onde irá decorrer aquele que é considerado por muitos “o mais relevante encontro de profissionais do sector agrícola e montra de toda a fileira agro-pecuária e florestal”.

Ao Correio do Ribatejo, Paulo Fardilha, Director Geral da Agroglobal afirma que o evento procura debater e construir o futuro do sector de forma 100 por cento profissional, num ambiente de partilha de conhecimento visando o agro-negócio. Um formato a “três dimensões”, dinâmico e interactivo, nos campos da lezíria do Tejo.

“A Agroglobal tem cada vez mais notoriedade externa. Neste momento já é uma feira a nível ibérico, mas gostaria de um dia poder transformá-la num evento de referência a nível europeu”, afirma.  

Deixa ainda um apelo aos participantes neste evento: “envolvam-se, criem dinâmicas que permitam aos visitantes terem cada vez mais interesse pela Agroglobal e que mostremos, mais uma vez, que somos um sector resiliente e indispensável para a economia do país”, conclui Paulo Fardilha.

Paulo Fardilha, engenheiro agrónomo, está ligado à organização da Agroglobal desde a 1.ª edição, ainda colaborando com Pedro Torres e Manuel Paim. Como vê a evolução desta Feira ao longo destas dez edições?

A Agroglobal nasceu, em 2009, pelas mãos dos engenheiros Pedro Torres e Manuel Paim, e na qual eu também colaborei.

Este ano chegamos à 10.ª edição. Tem sido uma evolução constante, em termos de dimensão, número de participantes e visitantes. Neste momento acho que é uma feira de todo o sector agrícola, consolidada em termos profissionais e que este ano vai envolver um grande número de empresas ligadas ao sector florestal e algumas ligadas ao sector da pecuária.

Nós queremos ser cada vez mais globais, com o envolvimento de todas as empresas ligadas ao mundo rural. Estamos a viver um problema grave no interior do território, que cada vez está mais desertificado, com as pessoas a irem mais para as cidades e isso tem consequências graves, não só para a actividade do sector, como para todas as outras actividades ligadas à ocupação do território nacional. 

Este tem sido, já o admitiu, um desafio profissional para si dar continuidade a um evento que tem sucesso desde a sua primeira edição. É também uma responsabilidade manter os índices de interesse nesta Feira elevados?

Sim. Desde decisores políticos, associações, empresas do sector e agricultores, nota-se cada vez mais o interesse por este encontro que acontece a cada dois anos. 

Julgo que esta consolidação se tem verificado ao longo destas dez edições e, este ano, vai notar-se uma grande afluência, não só a nível dos participantes e das empresas, mas também das pessoas que vêm assistir a algumas sessões em plenário que estamos a preparar.

A Feira é feita pelas empresas e para as empresas que aqui recriam as melhores soluções para aplicar numa agricultura moderna e inovadora. Que novidades vai ter a Agroglobal este ano e como se organiza o espaço e o certame?

Para este ano temos como principal novidade a parceria que criámos com a Quinta da Alorna. Temos cerca de 80 hectares de culturas anuais, desde o milho, o tomate, batata, batata-doce e arroz, que são produzidos em contexto de uma exploração agrícola real, onde nós demonstramos novas tecnologias e inovações.

Temos inovações ao nível do desenvolvimento de sementes, de novas técnicas de irrigação que permitem uma maior eficiência do uso de água e também uma tecnologia ao nível das fertilizações que tem evoluído bastante. As empresas ligadas ao sector das fertilizações têm olhado para a composição e vida biológica dos seus produtos, para trabalhar melhor o solo, permitindo que a absorção dos nutrientes por parte das plantas seja bastante mais eficiente.

Isto são só alguns dos exemplos que podemos mostrar ao longo dos três dias da AgroGobal, durante a próxima semana.

A sigla das anteriores edições era “nós semeamos”. É uma premissa que se mantem? Está aqui reflectida a importância social e económica de todo o sector Agro no País?

Sim. O nosso principal objectivo é que as pessoas que aqui venham, pelo menos saiam mais ricas em termos de conhecimento do que quando chegaram ao evento. Nós temos interesse que as pessoas aqui se encontrem e falem todas umas com as outras, desde os decisores políticos até ao agricultor.

Toda a fileira do sector se reúne durante três dias em Santarém e Almeirim para uma partilha de conhecimento visando o agro-negócio. Um formato a “3 dimensões”, que se estende à Quinta da Alorna, em Almeirim. O ver as máquinas a trabalhar no campo continua a ser uma das mais-valias desta Feira?

Sim. A feira, para além dos eventos que vai ter em auditório, vai ter um sem número de demonstrações de máquinas a trabalhar, em pleno campo, onde as pessoas as podem ver em contexto real. 

Na anterior edição admitiu a este Jornal que a Agroglobal começava a apresentar “os primeiros sinais de um processo de internacionalização”. Acentua-se essa tendência este ano?

Sim. Temos sentido cada vez mais o interesse de visitantes da Europa, da África e do Brasil, em virem à Agroglobal. 

Este ano virá um grupo ligado a duas feiras no Brasil e que vêm visitar durante dois dias a Agroglobal. Já nos pediram ajuda para enquadrá-los numa visita dentro do evento. 

Temos recebido vários pedidos de Angola, para receber pessoas ligadas ao Ministério da Agricultura, ao Ministério do Comércio e a várias associações. A Câmara Luso-Espanhola do Comércio vai trazer também algumas entidades espanholas para visitarem a feira. Temos pedidos para receber algumas excursões de França. 

Portanto, acho que a Agroglobal tem cada vez mais notoriedade externa. Neste momento já é uma feira a nível ibérico, mas gostaria de um dia poder transformá-la num evento de referência a nível europeu.  

As questões que hoje em dia se levantam como a guerra na Ucrânia, nomeadamente quanto aos cereais, a escassez de água e as alterações climáticas são temas/preocupações que vão passar pela Agroglobal? De que forma?

Sim. Desde os já debatidos problemas das alterações climáticas, como as consequências mais recentes da guerra na Ucrânia e toda esta transformação geopolítica que estamos a viver, são temas que vão ser debatidos aqui na Agroglobal. 

A escassez de água também? 

Não tanto a escassez, mas a gestão da água no território nacional. Isto falando de Portugal. Pode haver alguns países em que a escassez seja real, mas eu acho que não é o caso aqui em Portugal. Há é falta de gestão.

Vão procurar-se soluções aqui? É uma feira que busca soluções? 

Sim. Vai haver um seminário específico sobre os custos do investimento em infra-estruturas para regadio. Vai ser debatida a problemática do desenvolvimento de infra-estruturas idênticas ao Alqueva, que resulta da transformação de uma zona do território e que permitiu um desenvolvimento económico que seria impensável há 30 anos.

Sustentabilidade, transformação digital, internacionalização são desafios que se levantam à generalidade das empresas portuguesas. Já demos esses passos rumo ao futuro no sector agrícola?

Sim, já demos alguns. Estão a acontecer outros e vamos fazer aqui algumas projecções para o futuro. A inteligência artificial está a entrar a uma velocidade que eu acho que as pessoas não se estão a aperceber, mas quer no sector das máquinas, quer no desenvolvimento de soluções de biotecnologia, isso já está a acontecer. Acho que o comum do agricultor ainda não se apercebeu bem, mas até as simples aplicações para gestão de rega, actualmente, já recorrem à inteligência artificial para escolher os melhores algoritmos para trabalhar os dados que recolhem. Isso são temas que também vão ser debatidos aqui, na Agroglobal.

Já houve edições da Agroglobal sem a presença de membros do Governo. Este ano essa tendência mantem-se? Como vê o papel do ministério da Agricultura na defesa dos interesses dos agricultores em Portugal?

Este ano vamos ter a presença do Ministro da Agricultura, do Secretário de Estado das Florestas, alguns candidatos à Presidência da República e das eleições autárquicas. Alguns já marcaram presença em 2023 e este ano prevê-se uma forte presença dos decisores políticos.

Como vê o papel dos políticos, nomeadamente do Ministério da Agricultura, na defesa dos interesses dos agricultores em Portugal?

Eu acho que o problema do Ministério da Agricultura no nosso país é transversal aos outros ministérios. Os nossos ministros apresentam boas soluções, tomam as medidas que devem tomar, só que toda a hierarquia para baixo não funciona. Acho que no nosso país o grande problema é esse. 

O Ministro da Agricultura, nas últimas entrevistas que deu, apresentou um conjunto de medidas imediatas para minimizar os efeitos dos incêndios. As medidas que ele apresentou são sempre bem-vindas, mas por um lado não resolve o problema de base e sabemos que depois toda a hierarquia para baixo, todas as múltiplas entidades que têm de decidir uma única coisa e a burocracia, complicam tudo o resto.

O tema dos incêndios é um dos assuntos que eu gostava de ver debatido na Agroglobal. Penso que talvez haja um momento que pode trazer isso ao de cima e vamos ver como decorre, porque nem sempre é fácil as pessoas dizerem em público aquilo que pensam em privado. 

Há alguma hipótese de a Agroglobal passar a realizar-se anualmente? 

Isso é uma questão que tem mais a ver com as questões financeiras das empresas. É uma feira que eu tenho noção que não é barata para as empresas. Não é só o valor que elas pagam para participar, mas toda a logística que têm de preparar para estarem aqui presentes. Esse é o principal motivo pelo qual o evento é bianual. 

Por outro lado, fazer este evento, que é muito intenso, em três dias, todos os anos, não sei se não passaria a ser muito maçador para todos. 

Não teme que, ao dar tanto relevo, como se quer dar à Agroglobal, a Feira Nacional de Agricultura perca alguma razão de existir nos moldes actuais?

A razão de existir penso que não. A feira nasceu como Feira do Ribatejo e depois, mais tarde, é que passou a Feira Nacional de Agricultura. 

Acho que a Feira Nacional de Agricultura precisa de alguns ajustes, adaptar-se às novas realidades. Tem o seu lugar, mantendo algumas coisas ligadas às tradições, e isso convém mostrar e passar às novas gerações.

Poderá desenvolver, por exemplo, o sector agro-alimentar, que também é importante e que fica a jusante da produção agrícola, porque a mensagem do sector para o consumidor ainda passa de uma maneira muito errada. 

A Feira Nacional de Agricultura faz sentido. Poderá ter de sofrer alguns ajustes, mas as duas feiras podem sempre coexistir.

Que mensagem final quer deixar aos expositores presentes na Agroglobal deste ano?

O nosso lema principal, criado pelo engenheiro Pedro Torres, é “Nós Semeamos”, associado ao “Nós Semeamos Negócios”.

Esta feira tem entrada livre, baseada em convites, mas as pessoas não pagam para entrar. Quem suporta o custo deste evento são as empresas que participam nele e são eles que tornam a Agroglobal possível.

Portanto, eu faço um apelo a que se envolvam, participem, que criem dinâmicas, que permitam aos visitantes terem cada vez mais interesse pela Agroglobal e que mostremos, mais uma vez, que somos um sector resiliente e indispensável para a economia do país. JPN

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